Mercado de Café – Imprimindo mais dólares

Mercado de Café – Imprimindo mais dólares



Rodrigo Costa* – Mercado de Café – Comentário Semanal – de 16 a 20 de março de 2009


 


A velha fórmula de gerar inflação e desvalorizar a moeda para tapar déficits na economia está sendo empregada pelo governo americano (o Brasil já foi muito bom nisso!).


Os mercados nesta semana foram pegos de surpresa pela agressividade das medidas tomadas pelo banco central americano (conhecido como FED) e o FOMC (o equivalente ao COPOM brasileiro).


Depois de baixar as taxas de juros para 0 a 0.25% recentemente, a autoridade monetária dos Estados Unidos seguiu o modelo adotado nas últimas duas semanas pelos governos britânico e suiço de comprar títulos do governo para injetar mais dinheiro na economia. Serão 300 bilhões de dólares impressos para serem usados na recompra de títulos públicos de até 10 anos e adicionais 1.15 trilhões de dólares gastos para comprar títulos relacionados ao mercado hipotecário.


Impressionante como não falamos mais de milhões de dólares, mas sempre em bilhõe s e trilhões para tentar sanar o sistema financeiro. Faz-nos lembrar a época que andávamos no Brasil com milhares de cruzeiros na carteira para comprar um lanche na esquina.
De qualquer maneira a atitude do FED/FOMC gerou uma correria danada, com os juros dos bonds negociados em bolsa movimentando em um dia 0.47%, ou a maior oscilação desde 1962.


O dólar americano também variou bastante desvalorizando mais de 4% contra uma cesta de moedas, e mais de 5% contra o Euro, provocando uma correria nos mercados acionários e de commodities que subiram fortemente já que em algum momento no futuro toda essa impressão de dinheiro tende a ser inflacionária.


Nada como ter a maquininha de imprimir dólares dentro de casa.


Logo após a euforia e a digestão do plano, os mercados acionários recuaram com a percepção de que nada disso vai ser suficiente para provocar uma recuperação imediata da economia, e as recentes medidas não vão devolver ao investidor o apetite de co mprar produtos financeiros que ajudaram tremendamente os bancos a ceder crédito barato, uma vez que eles empacotavam todos seus empréstimos (criando um produto financeiro) e vendiam para alguém, faziam novos empréstimos e vendiam de novo, e agora depois de tantas perdas ninguém quer comprar mais estes produtos (e é por isso que o FED está se entupindo deles).


Ou seja, há basicamente apenas um comprador disponível, que na verdade só está comprando estes títulos imobiliários para desafogar (ou salvar) o sistema financeiro. Sendo assim os bancos terão que limitar suas carteiras de empréstimos e por enquanto vamos continuar neste círculo vicioso que fez com que o crédito mundial tenha encolhido.


E as commodities?


As commodities explodiram durante esta semana com o potencial risco inflacionário que se desenha para o futuro e com a desvalorização acentuada do dólar americano.


O destaque ficou com os metais preciosos que são vistos como ativos que pres ervam valor, e para os mercados de energia.


O café também aproveitou a maré alta e valorizou 5.49% aqui em NY, modestos 0.49% em Londres e 4.96% em São Paulo. A valorização do real de 1.52% tirou uma parte dos ganhos, mas ainda sim permitiu que os preços praticados no mercado interno tenham recuperado para patamares vistos no fim de fevereiro.


Os principais compradores na bolsa foram os fundos, que segundo um banco americano já injetaram novos 12.1 bilhões de dólares nas commodities neste ano, muito embora apenas 461 milhões foram para os mercados agrícolas. Os países produtores aproveitaram para fixar suas vendas nesta subida, com exceção de Colômbia e alguns países da América Central que estão com seus estoques locais baixos e com um comportamento parecido de época de pico de entressafra.


Os diferenciais para os cafés lavados continuam na estratosfera dada a menor produção de Colômbia e a procura para seus substitutos. Em função disso podemos ter a cer teza de que os estoques certificados na bolsa de Nova Iorque tendem a cair mais já que ninguém vai entregar seus cafés contra a bolsa quando há compradores no mercado físico pagando muito mais pelo produto. Seguindo esta linha de pensamento os certificados acumulam uma queda de 600 mil sacas desde outubro do ano passado, uma tendência que deve continuar muito provavelmente até o fim deste ano. Sem dúvida este é um fator que deve ser lido de forma positiva para os preços, mas devemos ressaltar que os estoques ainda estão em níveis bem confortáveis totalizando 4 milhões de sacas, portanto não saia correndo comprando o mercado baseado apenas nisto.


Enquanto os diferenciais dos suaves (lavados) continuam firmes os naturais permanecem fracos, com o brasileiro ainda negociando com 24cts/lb de desconto contra a bolsa.


Esta dicotomia de preços entre “tipos”de café tem durado um tempo recorde, e dá sinais mistos para os participantes. Se adicionarmos neste quadro o perí odo de recessão que estamos vivendo, nos parece que mais e mais veremos uma mudança na mistura dos cafés (blend) que são vendidos para os consumidores finais.


Veja só: hoje um torrador que quer/precisa comprar café colombiano tem que pagar o equivalente a R$ 479.18 por uma saca de 60kg, nada mal para os produtores não é? Ao mesmo tempo se o torrador comprar café brasileiro ele pagará R$ 262.69 / saca. Uma “pequena” diferença de R$ 216.49 / saca.


A pergunta é: Em um momento de recessão, você estaria disposto a pagar quase o dobro de preço para tomar sua dose diária de cafeína?


É óbvio que não estamos falando da mesma qualidade de café, e neste ponto o café é erroneamente considerado uma commodity, mas a diferença é estupidamente grande, sem falar que tenho as minhas dúvidas com relação a sensibilidade dos consumidores finais para distinguir uma mudança em um blend que tenha uma porção pequena de cafés suaves.


Portanto acredito que a diferença de preços entre estes dois grandes grupos de café está “errada”, e tem que se ajustar (vamos bater nesta tecla até ela quebrar de agora em diante).
Brasil está muito barato, e Colômbia/lavados estão muito caros.


O motivo que está exacerbando esta diferença é o enxugamento do mercado de crédito mundial, além do nível de produção maior do primeiro e menor do segundo.
Continuamos construtivos para preços no médio prazo assumindo que o dólar americano não volte a fortalecer novamente, porém a valorização dos preços recentemente nas bolsas, combinada com os preços baixos que o Brasil tem vendido café no mercado internacional, podem limitar a continuação dos ganhos no curto prazo, e NY pode voltar a testar os patamares de 113.00 cts/lb e São Paulo os níveis de 130.00 /saca (contrato de setembro).


Aqueles que precisam vender café para fazer caixa devem aproveitar o momento, ainda que a remuneração esperada não seja a desejada.


Caso não queira travar a fixa ção nos preços atuais, considere ao menos comprar um seguro, ou seja, uma put (opção de venda).


Tenham todos uma ótima semana e muitos bons negócios.


Um grande abraço,


Rodrigo Costa*


 

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