Mercado de café está nas mãos do Brasil? Especialistas acreditam que país irá responder por até 80% da produção nos próximos anos

Executivos comentaram também sobre a necessidade de melhorar a imagem do café brasileiro no exterior

Seminário Internacional do Café

Embora haja gargalos e problemas estruturais, o Brasil é o protagonista no atual mercado cafeeiro. O país vai responder, nos próximos anos, por até 80% de toda a produção mundial. Este entendimento é de palestrantes do 24º Seminário Internacional do Café, que falaram ao público nesta quarta-feira (22), o segundo dia do evento, no Blue Med Convention Center, em Santos. O fórum tem sequência nesta quinta (23).

As declarações mais contundentes do destaque nacional surgiram no último painel, cujo tema foi “Mercado Café – CEOs: O excedente atual é suficientemente grande para satisfazer as necessidades do mercado?”. Quem mediou este período foi Carlos Augusto, o presidente da Cooxupé.

O diretor-geral da Volcafé, Trishul Mandana, declarou: “Agradeço aos céus pelo Brasil. Oitenta por cento das necessidades de café do mundo serão supridas pelo Brasil”.

Na esteira do que disse o executivo, Ben Clarkson, o diretor global da Plataforma de Café da Louis Dreyfus Company, afirmou que a nação está “em posição de protagonismo. O produtor tem liquidez e os tipos robusta, conilon e arábica. O cenário é favorável”.

Por sua vez, o diretor-geral na Ecom Agroindustrial Corp., Teddy Esteve, asseverou que “no mundo do café, precisa-se saber o que o Brasil vai fazer. O mercado está nas mãos do país”.

Os especialistas não falaram somente da posição brasileira na conjuntura internacional. Eles também analisaram o mercado em si. Neste ponto, admitiram que, neste momento, há falta do tipo robusta. “Existiram perdas, principalmente no Vietnã e na Indonésia”, disse Clarkson. Esteve também comentou o tema. “Agora, há déficit de robusta e excedente de arábica”, confirmou, salientando que a necessidade de o estoque dos produtos aumentar.

Imagem internacional

Apesar do que os executivos disseram a respeito do papel da nação no planeta, uma coisa precisa melhorar: a imagem do café brasileiro no exterior. Este tema, inclusive, foi levantado no painel “Economia Brasileira e Mundial e o Agronegócio em 2024”, que foi comandado por Ricardo Amorim. Considerado pela Revista Forbes o economista mais influente do Brasil, o especialista afirmou que “a marca Brasil ou não existe, ou é muito fraca lá fora”.

“Nos Estados Unidos, quando se fala de café, eles lembram da Colômbia. O café deles é melhor que o nosso? Não, mas eles fizeram um marketing melhor”, salientou, tendo sua opinião corroborada por outro painelista, o gerente da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil), Laudemir Müller, que falou sobre “Promoção sustentável das Exportações do Café do Brasil”.

“Temos de agregar mais valor ao nosso café. E um tema que antecede isso é imagem do nosso agronegócio no exterior. Precisamos nos posicionar como um modelo de agricultura tropical único e diferenciado, baseado em ciência e tecnologia. Devemos vender este modelo. A base para construir uma marca é ter imagem adequada do Brasil e positiva do agro brasileiro”, disse o representante do órgão ligado ao governo federal.

Para Amorim, isto é fundamental, a fim de que o Brasil aproveite as condições atuais. Aliás, ele entende que a nação está diante de uma grande oportunidade, pois a nação se tornou atrativa diante da valorização do Real e o cenário internacional, afetado por conflitos armados e economias enfraquecidas nas nações mais desenvolvidas.

“O Brasil fica em posição única. Trata-se de um grande mercado, emergente, com risco geopolítico baixo. Somente nós e a Índia somos assim, só que ativos na Índia estão caríssimos, porque é o mercado que mais cresce. O Brasil está barato. O que se quer? Um mercado grande, para vencer bastante”, declarou.

Produção

Um panorama sobre o comércio no café também foi traçado ao longo da programação. A diretora-executiva da Organização Internacional do Café (OIC, em inglês), Vanusia Nogueira, a primeira mulher a ocupar o cargo na entidade, disse que o mundo vive uma situação de estagnação em termos de produção.

“A linha está quase reta neste sentido, com os estoques achatando. Está aumentando o consumo, mas temos anos em que não há nenhuma safra extremamente grande, porque acontecem eventos climáticos adversos”, afirmou.

Também neste contexto, de acordo com Ricardo Amorim, o país tem condição de se destacar. Afinal, aqui, ainda existe muito espaço para aumentar a produção. “No total, 40% da área que pode ser plantada no mundo está aqui. Isso sem contar a Amazônia. Aliás, mais uma coisa: a legislação brasileira é a que mais protege o meio ambiente. Preservamos três vezes mais do que os Estados Unidos”.  

Ainda sobre o assunto, Vanusia frisou que uma das soluções para elevar os níveis de cultivo é repensar a ideia de tamanho mínimo de plantações, abrindo espaços para cooperativas, como as já existentes no país. “O que é financeiramente viável? A consolidação do uso da terra. Isso vai levar a um custo mais baixo, maior produtividade e menor impacto ambiental”.

Tal movimento ajudaria a fechar uma conta atual. Conforme a diretora da OIC, há crescimento de consumo nas Américas, África e também na Ásia, requerendo mais safras e novas condições de negociações no mercado mundial.

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