“Claro que nada é ficção plena. Toda imaginação tem base na realidade”, afirma o professor de filosofia Luciano Dutra Neto, que lança amanhã seu segundo livro e o primeiro a poder ser classificado como “ficção”. “Motorneiro 48 – um passeio no tempo” (Funalfa / Edições Galo Branco, 164 páginas, R$ 20) reúne seis contos responsáveis por levar o leitor a outra época, garimpada entre memórias e referências históricas amplamente pesquisadas pelo autor.
Como é praxe, o nome da obra é o título do primeiro conto, que trata do tempo dos bondes em Juiz de Fora, como o da fotografia da capa do livro. O texto descreve locais, situações e pessoas que marcaram a década de 1950 na cidade. Para estimular esse clima de reminiscências, o lançamento será realizado no Parque da Lajinha, ao lado dos antigos veículos elétricos por lá estacionados, em evento aberto ao público.
Editado por meio da Lei Murilo Mendes de Incentivo à Cultura, o livro não se restringe a aspectos juizforanos, estendendo-se a outras temáticas que permeiam lembranças relacionadas à Zona da Mata. Algumas não têm localidade específica, como em “A bandeira de café”, que se passa em uma fazenda nas décadas de 1920 e 1930, tempo de muito trabalho diurno e noites de romance, culminando em tragédia.
“E o trem levou” é mais ou menos do mesmo período e traz narrativa romanceada de uma viagem ao Jubileu de Congonhas, passando por Juiz de Fora. A atmosfera interiorana paira sobre “O rio das mortes”, retrato do universo de boiadeiros, tropeiros e aventureiros que marcaram o interior de Minas Gerais. Aquelas histórias passadas pela tradição oral para crianças de todas as idades nas noites escuras são revividas em “Sá onça”, cujo texto retoma tramas pouco comuns contadas pelas avós, com príncipes, princesas e bichos. O último conto, “Vésperas de domingo” é o que mais se aproxima do campo já explorado pelo autor em sua primeira publicação, “Meia vida”, em que relata sua passagem de 14 anos pelo seminário. Dessa vez, ele retoma a forte ligação com a vida ascética e mística de um mosteiro plantado nas montanhas de Minas e regado a canto gregoriano.
Nascido em Tabuleiro, em 13 de abril de 1944, Luciano Dutra Neto ingressou no Seminário da Congregação Redentorista aos 10 anos. Por lá, ele estudou teologia, e ainda viria a graduar-se em filosofia, direito e psicologia, antes de tornar a dedicar-se ao tema no mestrado e no doutorado em Ciência da Religião, na UFJF. Em meio a essa trajetória, o prazer da escrita esteve sempre presente, e ele chegou a atuar como jornalista no jornal Diário Mercantil. Atualmente, Luciano é professor de filosofia no Centro de Ensino Superior (CES) e na Faculdade Machado Sobrinho.
– Nesta sexta, às 16h, no Parque da Lajinha.