Melles defende proposta de Minas para nova política brasileira do café

24 de novembro de 2009 | Sem comentários Análise de Mercado Mercado

Foto: ALMG


Lideranças do executivo, legislativo e do setor cafeeiro participaram do debate


O presidente da Frente Parlamentar do Café, deputado federal Carlos Melles (DEM-MG) acredita que o estado de Minas Gerais pode assumir a responsabilidade na formulação de uma proposta nova de política para o café do Brasil. “Minas está para o Brasil assim como o Brasil está para o mundo no café. As lavouras do estado respondem pela metade da produção nacional e 70% do café que o Brasil exporta, da qualidade arábica, saem dos cafezais mineiros, o que gerou cerca de US$ 3 bilhões no ano passado só para o estado”, destacou o deputado, ao final do debate público “Café: Importância na saúde e na economia mineira”, realizado na tarde de segunda-feira (23) na Assembleia Legislativa de Minas Gerais, numa proposta conjunta das Comissões de Saúde e de Política Agropecuária e Agroindustrial, pedida pelos Antônio Carlos Arantes (PSC) e deputados Carlos Mosconi (PSDB).


“Isso é igual com os nossos filhos, se estamos fazendo de tudo e não dá resultado, então vamos ver onde está pegando”, disse Carlos Melles, ao defender que Minas Gerais assuma a liderança de uma política forte para a cafeicultura. “A realidade é que o governo brasileiro está prejudicando o nosso produtor e o trabalhador e por conseqüência os produtores e trabalhadores de todo o mundo produtor, porque o país tem a responsabilidade como maior produtor de ser o condutor de uma política para café, mas não faz, não ajuda nem aqui dentro e nem lá fora”, enfatiza Carlos Melles.


Em sua palestra, entitulada “Cafeicultura nacional – Inserção no mercado internacional e estratégias para o seu fortalecimento”, o deputado fez um resumo, destacando os prejuízos que o produtor de café teve em função da demora do governo para decidir. “O tempo de resposta é muito lento e a crise assola de forma brutal. Por exemplo, na depressão de preços ocorrida entre 1989 a 1993, em 1996 conseguimos a primeira renegociação, já no período crítico ocorrido entre 2000 a 2004, só em 2009 estamos conseguindo a duras penas algumas medidas”, destaca o parlamentar, apresentando dados técnicos que apontam para uma produção equilibrada com a demanda.


“Acho que tem duas políticas que precisam ser priorizadas, a política do café e a do leite. Nós precisamos olhar para dentro para buscar ações para esses setores que representam muito pelo social, e isso tem que partir de Minas”, acredita o deputado. “O Brasil pode ajudar, de uma maneira concreta, os seus produtores e trabalhadores e estender esse apoio para todos os países produtores”, avalia Carlos Melles.


Governo do Estado reafirma apoio –  Tudo o que depender do Governo do Estado para agregar valor ao café e melhorar a renda do produtor será feito. Esse esforço será “gigantesco, ciclópico”, segundo o vice-governador Antônio Anastasia, que participou da abertura do debate público “Café: Importância na saúde e na economia mineira”, realizado na tarde desta segunda-feira (23/11/09) na Assembleia Legislativa de Minas Gerais. Anastasia informou que o governador Aécio Neves foi a Brasília para um encontro com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, onde pediu uma política para o café, já que as vendas não cobrem os custos da maioria dos produtores.


Imagem da TV Assembléia, no momento em que Melles recomendava a proposta de uma nova política de café de Minas para o Brasil

A reunião conjunta das Comissões de Saúde e de Política Agropecuária e Agroindustrial, pedida pelos deputados Carlos Mosconi (PSDB) e Antônio Carlos Arantes (PSC), foi aberta pelo presidente da ALMG, deputado Alberto Pinto Coelho (PP). “Não nos cansaremos de buscar uma conjugação de esforços para encontrar caminhos para fortalecer a cafeicultura em Minas e no País”, disse o presidente.


Anastasia disse que a Alemanha, que não produz um grão de café, detém 70% dos estoques mundiais e dita os preços ao produtor e ao consumidor, preparando os blends e os cafés especiais. “A oportunidade que surgiu para os alemães há 60 anos, no pós-guerra, não foi percebida pelas lideranças brasileiras, que tinham o capital, enquanto a Alemanha estava arrasada pela guerra”, lamentou.


O vice-governador fez um apelo à criatividade e à capacidade de inovação do setor. Antes de deixar a reunião, Anastasia foi abordado pelo presidente do Conselho Nacional do Café, Gilson Ximenes Abreu, que pediu uma trégua para os produtores endividados, argumentando que a dívida não foi feita por má administração das propriedades, mas por indução de políticas desastradas nas décadas passadas.


Quadro internacional é desfavorável para cafeicultura – O secretário de Estado de Agricultura, Gilman Rodrigues, mostrou pessimismo quanto ao apelo à criatividade feito pelo vice-governador. “Para implantar novas tecnologias, é preciso ter renda. Seria péssimo conselho sugerir ao produtor que faça novos endividamentos. Por mais que interesse ao Governo Federal dizer que a crise acabou, para o cafeicultor não acabou, porque os países compradores estão quebrados, o dólar está baixo”, explicou.


O secretário mostra algumas contradições: o salário mínimo e os fertilizantes subiram mais de 500% em dez anos, e o preço do café, apenas 24%. No entanto, o consumo nacional subiu, nos últimos cinco anos, de 39,3 milhões para 46 milhões de toneladas anuais. Ou seja, a crise estrutural está instalada há anos e mesmo assim a produção aumenta. Até para pressionar o Governo Federal por uma política adequada falta poder de fogo à cafeicultura, segundo Gilman Rodrigues. O café já respondeu por 70% da pauta de exportações brasileiras. Hoje é apenas 6,9%. Por essa razão, o governo não vem cumprindo sequer sua política de preços mínimos, de acordo com o secretário.


A resposta para a resistência do produtor de café foi dada pelo secretário de Estado de Ciência e Tecnologia, Alberto Portugal. “Café é casamento, um investimento que se faz para amortizar em 15 a 20 anos, como o cacau e a borracha. O produtor decepcionado não pode parar de produzir e substituir a cultura de um ano para outro, como pode fazer o produtor de soja”, informou.


O presidente da Comissão de Saúde, deputado Carlos Mosconi, declarou que acompanha há anos negociações intermináveis para se estabelecer uma política para o café. “Acompanho essa luta que é travada com muita raça pelos produtores, mas não se chega a uma solução plausível, que é a renda no final da safra. O Governo Federal não dá ao café a importância devida, nem mesmo a sua importância histórica. O declínio da atividade traz problemas sociais gravíssimos para produtores e trabalhadores do café. Estamos aqui para procurar outros caminhos a serem percorridos”, declarou.


O deputado Antônio Carlos Arantes (PSC), que também representa os cafeicultores do Sul de Minas, relatou uma reunião recente em Londres, da qual participaram produtores da África. “Vi de perto a perversidade do mundo capitalista, e ouvi relatos de como a situação na África é mais terrível que aqui, onde o mercado absorve grande parte da produção. Os africanos esperam de nós a liderança para negociar políticas internacionais”, disse Arantes.


O presidente da Comissão de Política Agropecuária, deputado Vanderlei Jangrossi (PP), mencionou a grande força reivindicativa dos cafeicultores, que reuniram 20 mil pessoas em praça pública em Varginha. “Minas responde por 60% da produção nacional. Eles pediram preço mínimo, mas não foram atendidos”, lembrou. Jangrossi dá um bom exemplo de lucratividade, que é o do ex-governador paulista Orestes Quércia, que produz café de alta qualidade e o vende nas cafeterias que possui em todo o mundo.


Produtores pedem controle de estoque – O chefe de gabinete da Secretaria de Produção e Agroenergia do Ministério da Agricultura, Robério Oliveira Silva, alertou para o alto estoque de café nos países consumidores. Ele defendeu o controle de oferta, por meio de um plano de safra. A proposta foi defendida também pelo diretor da Federação da Agricultura de Minas Gerais (Faemg), Breno Pereira de Mesquita, que reivindicou mais recursos para o seguro agrícola e adequação do preço mínimo ao real custo de produção. “O custo de produção é maior que o valor de venda. O problema começa aí, temos que ser realistas.”


Na fase de debates, os produtores eram unânimes em pedir uma política reguladora de estoque e a prorrogação das dívidas. Segundo eles, a situação é grave e urgente, pois há produtores que sequer têm condições de pagar o 13º salário a seus funcionários.


Presenças – Deputados Alberto Pinto Coelho (PP), presidente da ALMG; Carlos Mosconi (PSDB), presidente da Comissão de Saúde; Vanderlei Jangrossi (PP), presidente da Comissão de Política Agropecuária; e Antônio Carlos Arantes (PSC). Também participaram da reunião o deputado federal Carlos Melles (DEM-MG); o vice-presidente da Cooperativa Regional de Cafeicultores de Guaxupé, Carlos Augusto de Melo; e o integrante da Comissão Organizadora do Movimento SOS Café, Eduardo Chaves.


 


Ascom Deputado Carlos Melles com Ascom ALMG

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