Melhora no preço do café não anima

18 de dezembro de 2005 | Sem comentários Comércio Mercado Interno
Por: Hoje em dia








João Alberto
Aguiar
Repórter
A recuperação dos preços do café em Minas Gerais, com valor médio da
saca de 60 quilos saltando de R$ 223,68 em 2004 para R$ 294,46 em 2005, uma
expansão de 31,6%, não foi suficiente para despertar nos produtores, de forma
decisiva, a intenção de ampliar a área plantada, que foi de 1,078 milhão de
hectares no ano passado, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE). De acordo com levantamento feito pela Confederação Nacional
de Agricultura e Pecuária (CNA) entre julho e agosto, com 570 cafeicultores de
todo o país, só 23% deles pretendem expandir a produção.

Esta
constatação, porém, não indica que o setor esteja desatento com qualidade e
produtividade. Tanto que o movimento de renovação das culturas, com a
substituição de lavouras mais antigas e improdutivas, está em curso, mesmo que
de maneira gradativa. Este processo, que não é explicitamente citado na
pesquisa, segundo o presidente da Comissão Técnica de Café da Federação da
Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg), Bruno Pereira de
Mesquita, ganha fôlego desde o ano passado, na medida em que o produtor se
capitaliza.

A busca pela produtividade e qualidade do café, em que a renovação das plantas
aparece como item importante, está respaldada em dois pilares principais. Um
deles, a perspectiva de manutenção, e até de aumento em 2006, do valor da saca
pago ao produtor. Outro, pela redução da oferta do produto no mercado mundial,
divulgada recentemente pela Organização Mundial do Café (OMC). Conforme a
entidade, que define as regras de conduta dos países produtores, o déficit atual
de café no planeta, em função da
redução da oferta, varia de 7 milhões a 10 milhões de toneladas.

“Tendo
renda, o produtor cuida melhor da lavoura, o que inclui a renovação da
plantação, para oferecer um produto de melhor qualidade. A maioria dos
produtores no Estado vive exclusivamente do café, e tem intenção de melhorar as
lavouras. Mas para isso é preciso bom preço”, observa Mesquita. Ele assegura
que, independentemente da remuneração, todo ano a maioria dos cafeicultores
renova a plantação de 10% a 15%. Em 2004, ano em que a rentabilidade do produtor
registrou crescimento, a produtividade em Minas ampliou 38,47%, segundo o
IBGE.

“Isso é necessário para manter uma lavoura em boas condições de
produzir”, justifica. Normalmente, o pé de café passa a produzir três anos depois de
plantado, até os dez anos. Depois desse período de pico produtivo, a
durabilidade passa a depender, entre outros fatores, do trato da cultura, tipo
de adubação utilizada e característica do solo.

Para o presidente da
Comissão Nacional de Café da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil
(CNA), João Roberto Puliti, a tendência do cafeicultor de “frear” os
investimentos em 2006 pode ser revista, dependendo da rentabilidade. “O
produtor, mesmo ciente de que os preços tendem até a crescer, fica com medo de
mais na frente a cotação voltar a cair. De toda forma, acredito que possa haver
não só a renovação, na faixa de 20%, mas também aumento da área. O produtor
organizado não deixa de plantar café. Há alguns anos, ele deixou de
investir não por falta de interesse, mas por dificuldades financeiras, pois os
gastos não cobriam o custo de produção”.

Cafeicultor investe em
qualidade para disputar novos mercados

O produtor brasileiro de
café tem intenção de investir
na qualidade da lavoura e agregar mais valor ao produto, para conquistar novos
nichos de mercado, principalmente o externo. Segundo pesquisa da Confederação da
Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), dos 570 cafeicultores consultados _ a
maioria deles formador de opinião _, 43% deles já produzem ou pretendem investir
no segmento de cafés especiais
e/ou orgânicos, aqueles que dispensam a utilização de defensivos agrícolas,
portanto mais saudáveis e mais caros no mercado como um todo.

“Esse tipo
de café especial, ou gourmet,
possui nichos isolados, mas está sendo bem explorado a cada ano que passa.
Atualmente, a boa qualidade do café é fundamental para se obter preços
melhores”, observa o presidente da Comissão Técnica de Café da Faemg, Breno
Mesquita.

Para conseguir mercados mais atrativos, os produtores, segundo
ele, precisam ter escala e melhor nível de competitividade, entre outros
atributos, o que dificilmente é conseguido individualmente. “O número de
cooperativas cresce, inclusive para atender eventuais exportadores”,
salienta.

Para agregar valor ao café, o produtor precisa investir. Mas a
recuperação das cotações internas e externas, segundo a pesquisa, não foi
suficiente para recapitalizar o setor, que viveu uma crise de preços entre 1998
e 2003. O levantamento mostra que 14% do universo pesquisado estão
inadimplentes. Da parcela que possui dívidas vencidas, 61% não conseguiram
honrar operações alongadas ou securitizadas.

De acordo com o diretor do
Departamento de Café do Ministério da Agricultura, Vilmondes Silva, o
endividamento do setor é grande. “Os produtores, agora, estão começando a
auferir resultados, mas o passivo ainda é considerável. De modo geral, não
acredito que os produtores tenham condições nem mesmo de investir em novas
lavouras”, comenta. Em algumas partes do país, como São Paulo, o café tem perdido espaço para outras
culturas, como a cana-de-açúcar. “Em compensação, outras regiões, como na Bahia,
a área plantada tem crescido”, diz o diretor.

Sul de Minas

‘Há dez
anos, plantar café não era
risco, era investimento. Hoje é risco sim, já que pode dar lucro ou não. O
produtor tirou o pé do acelerador. Está mais precavido’, disse Haroldo Santos,
do município de Três Pontas. Com a pouca capitalização que conseguiu nas duas
últimas colheitas, ele fez o que lhe pareceu mais sensato: está cuidando da
lavoura, mas sem expansão. ‘Sou cafeicultor, então tenho que cuidar do meu
ofício. Plantar café é o que eu
sei fazer. Mas daqueles tempos que a gente saía arrancando assa-peixe no eito
para formar novas lavouras, só ficaram lembranças. Aprendi a ter medo, pois já
ganhei dinheiro, mas também já levei prejuízo demais’, conta.

Poda,
adubação, pulverizações. Tudo na tentativa de assegurar a próxima colheita, mas
sem investimentos de longo prazo, como o plantio de lavoura nova, cuja primeira
colheita só começaria daqui a três anos. ‘Estou cuidando do que já tenho
plantado. Não está sobrando para investir em lavoura nova e fazer dívidas, pois
acho muito arriscado’, avalia.

Seu vizinho de propriedade, João Luiz
Silva, parece mais confiante. ‘Estou plantando um pouquinho de lavoura nova’,
disse. São sete mil novas covas de café Catuaí Amarelo, uma das variedades bem
aceitas pelo comércio na hora da venda. Silva afirmou que que tinha um terreno
no jeito, cujo preparo não deu muito trabalho, nem ficou muito caro, então se
arriscou. ‘Quem está na chuva é para se molhar, não é? Se não plantar, não
colhe’, lembra. (Colaborou Margarida Hallacoc)

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