Medidas para elevação do preço do CAFÉ Por Armando Mattiello

Estamos atravessando verdadeiras transformações a nível mundial com as sistemáticas implantadas pelas grandes corporações referente a uma logística fantástica que vem ocorrendo nas plataformas globais.

14 de outubro de 2017 | Sem comentários Mais Café Opinião

sexta-feira, 13 de outubro de 2017  Mercado, SINCAL 


No caso do café estamos bitolados nos preceitos anacrônicos e de um
amadorismo umbilical. Nossas lideranças e os cafeicultores estão alheios a essas
mudanças e, infelizmente, estão fechados e praticando um verdadeiro suicídio por
uma visão destorcida e caótica e, sendo enganados pelos manipuladores dos
grandes oligopólios que estão engolindo nossas expertises. Estão sequestrando
toda as nossas tecnologias através da evasão de divisas e trazendo-lhes lucros
exorbitantes que possibilitam investir numa logística moderníssima a nível
global. Enquanto estamos olhando para o próprio umbigo as grandes corporações
implantaram uma sistemática que capitanearam o que tínhamos de suprassumo no
café.


Quando analisamos as estatísticas do café, os preços deveriam estar num
patamar de pelo menos três vezes os preços atuais, mas as mudanças radicais no
mundo em relação ao perfil de negócios está numa dinâmica acelerada e nos, com
essa verdadeira bagunça na política cafeeira e, pelo anacronismo de nossas
lideranças que não estão percebendo essa dinâmica implantada e, não querem ou
não conseguem ver o horizonte para uma política moderna e não percebendo, ou
importando-se que o negócio café está sendo manipulado e sequestrado pelas
tecnologias citadas. O negócio café, a nível mundial, está caminhando com
excelência e nunca foi tão bem no mundo como nos tempos atuais. Os jovens estão
bebendo muito café e, o consumo está crescendo. Mas o lucro, apesar do Brasil
ser o maior produtor de café, está indo para a mão dos grandes oligopólios
estrangeiros que com o emprego dessas tecnologias está conquistando o negócio.
Primeiramente, introduziram as certificações que os asseguram de determinadas
estratégias, nos condicionando ao jogo dessas corporações. Depois compram as
grandes torrefações nacionais para ganhar toda a distribuição dentro do enorme
consumo Brasileiro e, dominam os formadores de políticas cafeeiras no Brasil e
também quando analisamos os preços dos consumidores mundiais estão com base
interessantes mas, o lucro desses preços não chegam nunca nos bolsos dos
cafeicultores brasileiros e, mesmo de outros países produtores. Sempre tivemos a
excelência no negócio café em classificação, em distribuição, em
comercialização, em bebidas e outros. Com isso estão expondo a regra deles e até
acabando com as classificações de bebidas estritamente mole, apenas mole e assim
por diante. Vieram com o modismo dos Speciality Americano e agora tentam acabar
com nossa tradicionalíssima tabela C.O.B. (Código Oficial Brasileiro) e,
introduzindo e impondo suas regras e nós não estamos enxergando esse domínio,
com isso todas as regras do café estão vindo de fora para dentro.


No passado, como o lucro do café que ficava com os brasileiros, tínhamos
recursos tanto para nossas autarquias tanto quanto para os cafeicultores e,
investíamos nas universidades e centros de pesquisas e, nesse aspecto nos
progredimos e ficamos na frente do mercado internacional. Atualmente, com o
sequestro de lucro a grande fatia fica lá fora e assim todas as inovações estão
vindo de “fora para dentro” porque eles que tem o dinheiro para o marketing e a
pesquisa. Podemos citar, como exemplo, o “case” da Nestle com o Nespresso, onde
se investiu muito dinheiro e, daí podemos entender o porquê eles estão sempre na
frente e nós os acompanhando como meros espectadores e trabalhando para essas
grandes corporações.


Basta a gente analisar quanto vende-se o quilo do café e, sobram lucros
expressivos e investem em pesquisas e aprimoramento tecnológico em relação ao
nosso sistema tupiniquim e com isso estamos sendo massacrados e perdendo o
negócio café para os estrangeiros.


Com as estatísticas indicando que os estoques estão baixando e num
determinado momento o preço vai subir e a “tropa”, nós cafeicultores, sairemos
correndo para plantar mais café e, assim que todos plantarem eles darão “um nó”
no mercado e seguram os preços nos patamares que eles bem interessam e, sempre
nos colocando “debaixo do balaio”. Precisamos URGENTEMENTE fazer uma política
moderna e encarar todo o exposto.


A situação estatística de estoques está apertada e nós estamos vendo,
claramente, que os preços não sobem porque eles tem as rédeas do negócio e nós
estamos aceitando tudo isso passivamente sem lutar para reciclarmos as
lideranças, e, criar uma nova constelação de pessoas imbuídas para reverter a
situação. Aqui compete a nós cafeicultores, apertarmos para que as mudanças
ocorram e criar uma nova liderança com visão futurista e redimensionar as ações
para enfrentarmos essas adversidades impostas pelos estrangeiros,
principalmente, países do primeiro mundo.


Possuímos as estatísticas da O.I.C. (Organização Internacional do Café) que
demonstram que o consumo está crescendo linearmente 2% ao ano. Atualmente, já
não desperdiçamos tanto café pelo “ralo” oriundo dos bules e garrafas térmicas
e, isso demonstra que o mundo está bebendo muito mais café. Sabemos que o
mercado possui as plataformas digitais e essas grandes empresas, atualmente,
possuem operações no mundo inteiro: Ásia, Europa, África, Brasil, Colômbia etc.,
e ainda elas possuem as liquidações financeiras em Nova York, Londres,
Frankfurt, Singapura, Hong Kong e tantas outras providas de entreposto na mesma
sistemática. Em cima desse traçado essas corporações possuem verdadeiros
cientistas voltados para a logística. São gênios. Essa logística moderna com os
números, gráficos, robôs, algoritmos e outros possibilitam simulações a
conjuminações logística perfeita. Quando o mercado interno não está na mão
dessas corporações eles, praticamente secam o lucro dos distribuidores
levando-os a quebrarem e, entram expondo a própria distribuição. Trata-se de uma
ciência que eles desenvolveram de uma forma fantástica e com isso,
provavelmente, não olham mais a produção do Brasil isoladamente como faziam até
então. Eles analisam o mercado como um todo e a demanda, mês a mês, do mundo.
Dentro desse exposto temos que estar cientes para desenvolvermos estratégias
futuras.


Há um grande risco que poderá ter a importação de café e, a utilização de um
mecanismo por essas grandes organizações que puxariam o café conilon da Ásia e
reverteria o arábica e, teria toda a logística montada. Com isso, eles
trabalhariam nas duas mãos e sufocariam, ainda mais a indústria nacional e,
consequentemente, os cafeicultores.


Essa logística perfeita e essa plataforma global que não estamos levando em
consideração e, eles poderão trabalhar com um estoque mínimo necessário. Procuro
achar a explicação perfeita para atual situação dos preços ridículos em cima da
logística perfeita dos grandes grupos e, assim os fatores fundamentais como a
seca fica disperso dentro dessa sistemática. O impacto nos preços virão dado as
constantes quebras de safras que estamos convivendo nos últimos tempos,
inclusive para 2018. Mas, a alta nos preços poderão ser mais demorada baseado no
exposto. Os estoques mundiais são baixos, dado a sistemática inteligente que
implantaram na logística o que possibilita uma administração profissional
competente.


O Brasil precisa tomar o seu devido lugar pois, temos 33 – 35% de market
share e, com ações estruturadas poderemos retomar a posição de protagonista.
Precisamos: de UM PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO envolvendo o setor produtivo e
industrial com agregação de valores e conquistando melhores preços e divisas
para o pais. Esse PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO deverá contar com retorno para a
pesquisa de inovações tecnológicas na industrialização e qualidade e, implantar
estratégias com relação as medidas que deverão ser tomadas em anos de safras
altas e ou baixas. Privilegiar a indústria nacional com café de qualidade
abolindo esses subprodutos utilizados, indiscriminadamente, nas torrefações que
tem mascarado as estatísticas pois, quando fazemos as contas da produção
brasileira de diversos anos e, subtraímos a exportação e consumo interno as
estatísticas nunca fecham em detrimento ao desconhecimento daquilo que está
realmente sendo industrializado.


O PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO deverá contemplar uma visão futurista de no mínimo
15 anos, para assegurarmos ao setor produtivo e industrial com tomadas de
decisões abalizadas e seguras. A modernidade das grandes corporações e mesmo de
países desenvolvidos, trabalham com projeção e cenários para décadas a frente.
Teremos que implantar estratégias mais seguras evitando o “Apaga Fogo” e,
medidas pontuais e politiqueiras.


Para a solução rápida e possível elevação do preço deveremos apertar nossas
lideranças desde a base, dentro dos Sindicatos de Produtores Rurais,
Cooperativas, C.N.C. (Conselho Nacional do Café), MAPA (Ministério da
Agricultura), entre outros, na procura de estratégias definidas e, na práticas
de medidas que foram totalmente abolidas em detrimento ao setor produtivo.
Ocorrem inúmeras deformidades e precisamos:


1) ESTATÍSTICA – Números abertos e reais de estoques, áreas plantadas e
produção;


2) ELIMINAÇÃO DAS PREVISÕES feitas pelo IBGE e CONAB. Como podemos conviver
com duas previsões por entidades estatais e descredibilizadas?


3) REPASSE DE CUSTEIO E FINANCIAMENTOS BANCÁRIOS vencimentos dentro do
preconizado no M.C.R. (Manual de Credito Rural), onde está explicito que os
vencimentos deverão ocorrer 60 dias após a colheita. Assim, o final da colheita
ocorre em setembro e os financiamentos e repasses aos cafeicultores deverão
vencer 60 dias após, ou seja, 30 de novembro. Ainda possibilitando aos
cafeicultores refinanciarem seus estoques por mais 90 dias, ou, ainda por 180
dias na expectativa de almejarem melhores preços. Pratica essa, que foi abolida
nos últimos anos no intuito de escravizar os cafeicultores a vender o café a
preço vil em plena época de colheita. Dentro dessa modalidade sempre foram
utilizadas verbas do FUNCAFÉ e recursos obrigatórios providenciados pelo C.N.C.,
junto as instituições financeiras.


4) PREÇO MÍNIMO – Tanto para o Arábica quanto para o Robusta os preços
mínimos foram estabelecidos abaixo do custo de produção. Para o Arábica foi
estabelecido a R$ 333,00/saca e sabemos que o custo de produção gira ao redor de
R$ 500,00/saca. Tal medida foi publicada pelo MAPA no dia 18/04/2017 e nos dias
seguintes os preços despencaram 11,6%. Essa situação descabida e, deu uma
conotação ao mercado internacional que ao preços praticados estavam a contento.
Total irresponsabilidade.


5) ESTATUTO DA TERRA – Que pela Lei 4504, artigo 73 e 85 legisla que
deveremos ter 30% de margem acrescido do transporte, embalagem e outros que
elevaria o preço mínimo ao cafeicultor na faixa de R$ 670,00/saca. Portanto essa
atitude inconsequente está levando os cafeicultores a um prejuízo na faixa de R$
220,00 a R$ 250,00/saca, que ao final os cafeicultores estão perdendo por volta
de R$ 12.000.000,00 (Doze Milhões de Reais) sem levar em consideração os
impostos incidentes sobre o montante prejudicando além dos cafeicultores, os
trabalhadores rurais e o IDH dos municípios.


6) BOLSA DE NOVA YORK – É regida pelos cafés lavados de 19 países e não
possuímos contratos para o café natural. Através do contrato C (C de Colômbia)
com isso estamos sempre vendendo cafés com deságio, um absurdo. Um país de 33 a
35% de market share não consegue ser protagonista do mercado provocando DUMPING
aos cafeicultores brasileiros e aos demais 3.000.000 a nível mundial. Estamos
provocando pobreza e miserabilidade ao mercado cafeeiro e ferindo as leis do OMC
(Organização Mundial do Comercio). Com esse market share deveríamos “mandar no
mercado e não sermos mandamos”. Atitude inconcebível!


7) ESTOQUES – Vendemos o restante do estoque em plena safra recorde de 2016 e
zeramos nossos estoques. Estoques estratégicos tem que ser colocada em pratica
visando, principalmente, o consumo interno num momento de escassez. Trata-se de
um fator de segurança nacional. Ainda por cima, tentam importar café numa medida
descabida e antipatriótica e prejudicando o setor produtivo. Vendemos cafés nos
últimos anos a preço vil e não tiveram a capacidade e a inteligência de
assegurarmos estoques para o abastecimento interno. Isto é uma situação que
demonstra que o CNC o CDPC e o MAPA estão visando somente o interesse dos
oligopólios internacionais e desta indústria Brasileira CAÓTICA. Recursos para
ESTOQUES ESTRATÉGICOS temos de sobra, bastando praticar o FUNDO SOBERANO,
recursos do FUNCAFÉ, R.O (Recursos Obrigatórios) e utilizarmos as normas do MCR,
citados anteriormente, além de, outros instrumentos cabíveis.


8) QUALIDADE DO MERCADO INTERNO – Faz-se necessário retornar com a IN 16
(Instrução Normativa), que preconiza a industrialização de café de melhor
qualidade retirando os cafés pretos, ardidos, palhas e tantos outros produtos
incabíveis que ao final, sem assegurar o número exato, calculamos que poderíamos
aumentar o consumo de verdadeiros cafés na faixa de 4 a 5 milhões de sacas, em
ordem de grandeza, melhorando a qualidade e os preços aos cafeicultores
brasileiros e, possibilitando aos consumidores tomarem um café de melhor
qualidade, descontaminados de produtos inaceitáveis.


9) WARRANT / RECIBO DE DEPOSITO – Os cafeicultores devem exigir o warrant /
recibo de deposito quando depositarem seus cafés nas Cooperativas ou Armazéns
Gerais. Com isso, os citados estabelecimentos ficam como fiel depositários e não
podem manipular o café dos cafeicultores evitando utilizar os estoques em
benefícios próprios. Além disso, com a posse destes documentos, que são ativos,
plenamente negociáveis para levantar recursos em qualquer instituição
financeira. Estes documentos darão total segurança aos cafeicultores em todos os
aspectos


10) RECURSOS DO FUNCAFÉ – Os recursos do FUNCAFÉ que são, praticamente,
monopolizados por Cooperativas deveram ser abertos e citando o CPF ou CNPJ dos
cafeicultores, tal pratica não tem ocorrido por intransigências dessas
instituições e demonstrando obscuridade na aplicação deste recurso que é do
cafeicultor. Trata-se de uma pratica indevida e que devia ser fiscalizada pelos
órgãos competentes.


11) ESTOQUES DA COOPERATIVAS – As Cooperativas omitem seus estoques na
retorica de uma estratégia que o mercado não deve saber desses posições,
trata-se de uma pratica que omite a transparência mostrando que sempre os
números ficam “em segredo de chaves”. Inaceitável e trazendo supostas
desconfianças a essas corporações.


Além destes pontos ainda, existem muitos a serem acertados. Pontos estes que
colocamos na reunião da Diretoria do CNC, no dia 20 de setembro de 2017, em Três
Pontas/MG. Os pontos foram discutidos, mas, ficou claro que o CNC não está
adepto a tomar iniciativas profissionais para melhoria dos cafeicultores.



Atenciosamente,


Armando Mattiello
Presidente da SINCAL
Associação dos Cafeicultores do
Brasil


Publicado originalmente no site
Sincal

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