Após anos de sono, as matérias-primas agrícolas despertaram em 2006, atingindo cotações recordes para a última década, uma retomada que deve se prolongar em 2007.
“O baixo nível dos estoques (o menor desde 1983) e o interesse dos mercados pelos combustíveis alternativos anunciam preços mais elevados para 2007, mesmo depois dos ganhos deste ano”, dise John Normand, analista da JP Morgan.
O milho é, segundo ele, o mais promissor, seguido do trigo e da soja. A China promete ser mais uma vez a força motriz da demanda agrícola.
Os produtos agrícolas eram os mais fracos das matérias-primas desde o início do ciclo de altas dos preços em 2002.
Mas este ano novas fontes de demanda, escassez de produção, vivo interesse dos investidores financeiros e a expectativa de um ajuste maior entre a oferta e a demanda criaram a equação perfeita para os mercados agrícolas, explicou Normand.
O preço do milho subiu cerca de 80%, chegando perto dos quatro dólares no contrato de novembro em Chicago. Na mesma esteira, o trigo teve aumento de 45%, atingindo um pico de mais de 5,5 dólares em outubro. Todos os dois atingiram níveis inéditos desde 1996.
Para o milho, foi a disparada na demanda do etanol, biocombustível alternativo à gasolina, que serviu de trampolim para os preços. O trigo foi sustentado, sobretudo, pela seca, que reduziu as colheitas de inúmeros produtores na União Européia e principalmente na Austrália, que foi afetada pela pior seca de sua história.
A chegada do etanol também beneficiou o açúcar, porque seu principal fornecedor, o Brasil, consagrou uma grande parte de sua safra de cana-de-açúcar à produção deste biocombustível. A reforma do regime açucareiro da UE também desempenhou papel importante, transformando a região de exportadora em importadora de açúcar pela primeira vez em 20 anos.
O açúcar bateu recorde histórico em maio em Londres, a 497 dólares a tonelada, mas recuou depois com a previsão de um amplo excedente de produção em 2007, após quatro anos de déficit.
O ano foi movimentado para o café, que subiu mais de 20% com a seca no Vietnã, primeiro produtor mundial de robusta. Esta qualidade de café atingiu seu nível recorde em sete anos em Londres.
A meteorologia também elevou o preço do suco de laranja, cujos preços atingiram seu mais alto patamar em 16 anos em Nova York, porque os violentos furacões dos últimos anos encolheram as safras na Flórida.
A borracha bateu recorde histórico em Tóquio a mais de 300 ienes o quilo e a lã subiu 30% na Austrália, mas o algodão e o cacau estiveram entre as raras matérias-primas a recuar.