São Paulo, 10 de Dezembro de 2008 – Em discordância com o mercado, o Ministério da Agricultura calcula que as exportações do agronegócio vão recuar de 5% a 10% em 2009. Célio Porto, secretário de Relações Internacionais do Ministério da Agricultura, afirma que esse percentual pode chegar a até 20% para o caso das carnes, sendo que as mais afetadas devem ser as de boi e de suínos. “Além de ser mais barata, a carne de frango é consumida no mundo todo, diferente da bovina e da suína, que têm restrições religiosas em alguns mercados”, justifica Porto. Desde outubro, as exportações do complexo carnes já vêm sentindo o efeito da crise internacional.
Em outubro, a queda foi no volume embarcado que recuou para frango (-2,3%), carne suína (-9,7%) e bovina (-7,3). No mês seguinte, o resultado negativo atingiu também a receita das exportações, que recuou 13% para as carnes bovinas, 40% para a suína e 10,3% para os frangos. Em novembro, segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), o preço da tonelada da carne bovina para exportação atingiu o menor nível desde maio – auge da queda dos embarques para a União Européia. O valor foi de US$ 3,984 por tonelada, queda de 9,8% sob o valor de novembro e só maior do praticado em maio US$ 3,840 por tonelada.
Por conta do maior efeito negativo sobre as proteínas animais, o governo adotou, segundo o secretário, a estratégia de priorizar neste ano a abertura de novos mercados para carnes e lácteos e também ovos. “Estamos planejando visitas a países na Ásia, África e Oriente Médio, que têm poucas restrições sanitárias”, acrescenta. Já para os grãos, a retração na receita com vendas externas é estimada pelo secretário do ministério em apenas 5%, mesmo com o recuo neste ano de 34% na cotação internacional da soja, principal produto da pauta exportadora do agronegócio.
Fábio Silveira, economista da RC Consultores, avalia que o governo está subestimado o tamanho dos impactos dessa crise. A projeção da consultoria é de que a queda na receita das exportações do agronegócio será de 27% em 2009. O percentual representará uma exportação ao setor de US$ 44,8 bilhões em 2009, puxado sobretudo pela retração na receita do dos complexos carnes (-25%), soja (- 37%), açúcar (-11%), café (- 34%) e laranja (- 12%).
Balança comercial
Com isso, o saldo da balança deste setor em 2009 deve recuar para US$ 38,8 bilhões, contra os US$ 53 bilhões previstos para 2008. “Esse será o principal fator para que o saldo total da balança comercial brasileira em 2009 recue para US$ 8 bilhões, ante os cerca de US$ 25 bilhões neste ano”, explica Silveira
Desde 2007, o superávit da balança comercial do Brasil depende do superávit da balança do agronegócio. Naquele ano, o saldo do Brasil foi de US$ 40,03 bilhões, enquanto que o do agronegócio foi de US$ 49,70. Neste ano, a situação se repete. O superávit do Brasil entre janeiro e novembro foi de US$ 22,4 bilhões e, o do agronegócio, maior, de US$ 56,1 bilhões.
“Teremos como conseqüência o empobrecimento do setor externo e perda de dinamismo no crescimento do País. Essa forte desaceleração do agronegócio prejudicará todos os outros segmentos que são interligados, da indústria, serviços. Esse impacto forte está sendo subavaliado pelas autoridades. A impressão que dá é que o governo está perdido no meio dessa crise”, avalia Silveira, da RC Consultores.
O especialista prevê que as importações do agronegócio também vão recuar em 2009, em torno de 25% para US$ 6 bilhões, sobretudo por causa das perspectivas de diminuição das importações de cereais (- 32%), isto é, de trigo e arroz.
Para Silveira, a recuperação não virá no primeiro semestre de 2009, como vem sendo avaliado por alguns setores. “Não compartilho dessa visão. A recuperação não virá no ano de 2009 e nem no primeiro semestre de 2010”, afirma.
Frangos
O presidente da União Brasileira de Avicultura (Uba), Ariel Antônio Mendes, afirmou que até o início deste mês, a queda no alojamento de pintinhos nas granjas do Brasil caiu apenas 10%, quando a orientação dada em outubro era de queda de redução de 15%. “As empresas não estavam acreditando no tamanho da crise. Essa certeza só veio quando os números oficiais começaram a confirmar a queda nos embarques”, explica.
Na última semana, tanto a Uba quanto a Associação Brasileira dos Exportadores de Frango (Abef) elevaram a orientação de diminuir alojamentos para 20%, o que, a partir de agora deve ser seguido pelo setor, na avaliação de Mendes. A previsão da Uba é de que em janeiro estejam alojados 400 milhões de pintinhos, ante os 496 milhões de outubro. Em novembro, foram alojados 462 milhões de pintinhos. “Se não reduzirmos a produção, não teremos para quem vender”, diz.