Missão Velha (Sucursal/Crato) — “O verdadeiro agricultor não cultiva plantas. cultiva solos”. Com esta filosofia de trabalho, o casal de agrônomos Fábio Régis Albuquerque e Cristiane Martinazzo está produzindo 40 toneladas de banana irrigada por hectare, 150 toneladas por semana. A maior parte do produto está sendo transportada, em carretas com câmaras frigoríficas, para o mercado de Fortaleza.
É o maior empreendimento particular do gênero do Cariri. São 220 hectares de banana, sete hectares de uva sem caroço e cinco hectares de mamão. O modelo de cultivo é uma lição para a maioria dos agricultores da região que costuma realizar queimadas para plantar. As queimadas, segundo Fábio Régis, prejudicam o solo, pois além de destruir toda a vegetação, o fogo também acaba com nutrientes e com os minúsculos seres (decompositores) que atuam na decomposição dos restos de plantas e animais.
Fábio Régis diz que, quando chegou ao Cariri, em 1994, para implantar o projeto, comprou uma propriedade degrada, no sítio Barreiras, município de Missão Velha. Em alguns trechos, não nascia nem mato. Era o retrato da maioria das terras do Cariri, que estão sendo arrasadas pelo sistema agrícola tradicional, sem nenhuma preocupação com a recuperação do solo. Fábio adverte que “não se pode apenas colher, sem a terra devolver”. É nela que está a essência, que gera a vida e dá o fruto. Dá ao homem a riqueza ou a pobreza. Faz do mundo a beleza ou a destruição. “A sustentabilidade de nossas vidas está terra”, garante.
Ao fazer esta advertência, o agrônomo mostra um vídeo com fotografias de vários pontos do Cariri que não produzem mais nada. Alguns trechos foram assoreados, cobertos de areia, em conseqüência das enxurradas. Outros, estão exauridos porque não houve nenhuma recomposição. Além da formação acadêmica, Fábio tem o apoio do pai, Sebastião Régis, um agricultor ambientalista, “missionário da terra”, que prega no deserto do Cariri uma frase que costuma repetir: “A terra não é uma herança que você recebe dos seus pais, e sim um empréstimo que você toma dos seus filhos”. Aos 73 anos, Sebastião é um defensor intransigente do solo. Para ele, é um crime o que vem ocorrendo no Cariri. “A natureza cobra um preço alto por esta irresponsabilidade”, afirma.
Com a experiência de outros plantios realizados no Maranhão, o casal de agrônomo iniciou a recuperação do solo, usando um composto de esterco, melaço, farinha de trigo nutrientes químicos e, principalmente, o mato nativo. Com este adubo, oito poços profundos e muita tecnologia, surgiu o mais rentável pólo de fruticultura da região que emprega 120 operários com carteira profissional assinada. Além do salário, que é pago no banco, os operários têm direito ao café da manhã e a uma refeição.