Publicação: 22/07/07
Deficiências em transporte elevam custo, que foi de R$ 271 bi em 2006
Marcelo Rehder
O Brasil paga caro por ter estradas intransitáveis, ferrovias obsoletas, aeroportos sobrecarregados, hidrovias subutilizadas e portos entupidos. Segundo pesquisa do Centro de Estudos de Logística do Instituto Coppead, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, o total gasto pelas empresas com logística atingiu R$ 271 bilhões em 2006, o que representa 11,7% do Produto Interno Bruto (PIB). Em relação à pesquisa anterior, feita em 2004, houve aumento nominal de 27,5%.
Um dos itens que mais pesaram foi o custo dos estoques acumulados para compensar atrasos nas entregas de matérias-primas e produtos acabados. Pelo estudo, o custo chegou a R$ 89,7 bilhões em 2006, ante R$ 70,7 bilhões em 2004, um salto de 27%, apesar da queda de 0,95 ponto porcentual na taxa média de juros no período.
“Temos uma infra-estrutura de logística inadequada que limita o crescimento do País”, afirma o professor Maurício Lima, coordenador de cursos do Centro de Estudos de Logística do Coppead e um dos responsáveis pela pesquisa. O problema, segundo ele, é que o transporte rodoviário responde hoje por 56%do total de carga movimentada no País, enquanto a participação do ferroviário é de 25% e do aquaviário, 14%. Nos EUA, a distribuição é mais uniforme: 46% são transportados por ferrovias e 36% por caminhões.
“Como a quantidade de caminhões para o transporte de produtos para carregar um navio é grande, e também faltam locais para armazenar a carga, os congestionamentos são gigantes nos portos”, diz o professor.
PORTOS
Não por acaso, o que mais preocupa o setor privado, no conjunto da logística, é a situação nos portos. O tempo médio de espera de navios de contêineres para atracar nos portos brasileiros aumentou 78% entre 2005 e 2006. Passou de 13 para 20 horas. No Porto de Vitória, chegou a 55 horas.
De acordo com o estudo, a ineficiência e a burocracia fazem com que a exportação do produto brasileiro em contêineres saindo do Porto de Santos, o maior do País, demore em média 18 dias. Tomando como base o principal porto de Hong Kong, onde a média é de apenas cinco dias, o Coppead estima que as empresas brasileiras arcam com um custo adicional de US$ 481 milhões por ano, só pelo tempo que o dinheiro fica imobilizado em mercadorias.
Segundo o Plano Nacional de Logística e Transporte, elaborado pelo próprio governo, há necessidade de investimentos anuais de R$ 18,2 bilhões em logística para sustentar o crescimento do País, valor bem distante da média dos últimos anos, de R$ 2,7 bilhões. “Mesmo que os investimentos previstos pelo PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) sejam de fato realizados, chegariam a apenas R$ 12 bilhões anuais”, diz o professor da Coppead.
O gargalo logístico rouba competitividade das empresas brasileiras, já bastante abalada pela valorização do real frente ao dólar. “O custo do transporte rodoviário já representa 60% do frete marítimo para exportação”, diz Mauritius Dubnitz, presidente da HVM, fabricante de componentes para iluminação em néon. “Não temos mais como repassar aumento de custos para nossos preços, que já estão bastante desfavoráveis.”
A empresa, que exporta 99% da produção e importa 40% das matérias-primas, já pensa em abandonar exportações para países mais sensíveis a preços, como China e Estados Unidos. “Vamos buscar a diferença em mercados alternativos, como Oriente Médio e África, onde podemos cobrar preços mais altos sem perder a competitividade.”
Na Artefama, maior exportadora de móveis do País, a combinação do câmbio desfavorável com o custo logístico e a carga tributária real já se refletiu em prejuízo. Segundo o presidente, Álvaro Weiss, a empresa fechou o primeiro semestre no vermelho, apesar do aumento de 6,1% no valor exportado em reais. “Somos competitivos só até a porteira da fábrica.”
Além do gargalo logístico, outra preocupação das empresas é a falta de garantias de que haverá energia elétrica suficiente para viabilizar a produção a partir de 2009. A Suzano Petroquímica se associou com a Petroquímica União e a Polietilenos União num projeto de co-geração de energia orçado em mais de R$ 250 milhões.