Terminal da empresa em Pirapora estimula negócios. Governo e Faemg querem aumentar produção de grãos
Marta Vieira
Começa a tomar corpo o corredor de exportação de grãos do Noroeste de Minas Gerais, que há apenas um ano e dois meses se tornou realidade com a integração do terminal intermodal de Pirapora, da Ferrovia Centro-Atlântica (FCA), aos trilhos da operadora e da Estrada de Ferro Vitória a Minas – as duas controladas pela Vale – e ao Porto de Tubarão, em Vitória (ES). Depois de atrair a empresa de armazenagem e escoamento agrícola Nova Agri, que construiu os dois maiores silos verticais já implantados no país para servir à infraestrutura logística na região, o próximo passo poderá resultar das negociações já conduzidas pela FCA para atrair investidores interessados em instalar uma misturadora de fertilizantes.
O projeto está sendo apresentado a clientes pela operadora ferroviária, com a vantagem de contar com um sistema disponível de desembarque de fertilizantes em Tubarão, informou o presidente da FCA, Marcelo Spinelli. O negócio tem espaço para se consolidar, representando um grande passo para o desenvolvimento da fronteira de grãos mineira a pouco mais de 1 mil quilômetros do litoral, sem contar o percurso feito por caminhão de Unaí para embarque na ferrovia no município de Pirapora.
Em jogo, estão os ganhos futuros com o escoamento de uma produção que pode sair das 991 mil toneladas de soja colhidas no ano passado no Noroeste mineiro para um potencial de 6,3 milhões de toneladas anuais, conforme estudos encomendados pela Federação da Agricultura e Pecuária de Minas Gerais (Faemg). “Foi um desafio colocar toda a infraestrutura logística que temos hoje de forma antecipada à disposição do produtor, mas os resultados da iniciativa até agora são muito positivos”, afirma o presidente da FCA.
A operadora prevê transportar, neste ano, 500 mil toneladas, o dobro do volume que trafegou no corredor ano passado, basicamente de soja. Ao embarcarem nos trilhos, os grãos transportados em 2009 desafogaram o transporte rodoviário, retirando das estradas cerca de 9 mil carretas. Não há exagero na projeção de aumento do tráfego no corredor, de acordo com Marcelo Spinelli, tendo em vista o interesse demonstrado à empresa pelos agricultores que trocaram o asfalto pela ferrovia, inclusive produtores da Bahia que estão usando a infraestrutura montada a partir de Pirapora.
Outra aposta em novas transações sobre trilhos vem de um esforço coordenado pela Federação da Agricultura de Minas Gerais (Faemg), governo de Minas e Banco do Brasil, do qual a FCA e a Vale também fazem parte, para estimular o crescimento da produção do Noroeste.
O programa, batizado de Pró-Noroeste, será lançado amanhã em Belo Horizonte, com a oferta de linhas de crédito do BB no valor de R$ 200 milhões para custeio, investimento e comercialização da safra. Segundo o presidente da Faemg, Roberto Simões, a etapa inicial do conjunto de ações para estimular a produção terá os sojicultores como alvo. “Temos uma produção limitada a um terço da capacidade de 3 milhões de toneladas a que o corredor logístico pode chegar, em condições de custos melhores para o produtor”, afirma. Ele disse, ainda, que dentro do programa, o estado, provavelmente, reforçará recursos para seguro. As lavouras do Noroeste tornam a região a maior produtora de soja, milho e feijão de Minas – mas só ocupam 15% da área total. Há estudos indicando a disponibilidade de 2,5 milhões de hectares para plantio.
O presidente da FCA está convencido de que o cenário para os negócios em torno do corredor de exportação contempla projetos futuros de implantação de uma fábrica para produção de soja em farelo, atraindo também o milho e uma conexão para transporte de açúcar e álcool, setor que tem se desenvolvido na região do Triângulo mineiro. “A sobra de ganhos do produtor no fim da safra é nosso melhor indicador das vantagens da infraestrutura logística”, afirma Spinelli. Além da maior segurança no transporte, os produtores da região informam que custos já caíram de 15% a 25% com a substituição do caminhão pela ferrovia.
Infraestrutura reduz custos
A facilidade de escoamento da produção pelo sistema ferroviário e a redução de perdas amargadas no transporte por caminhão, frequentemente altas, são os principais atrativos da nova logística para produtores de Unaí, que esperam obter dividendos no corredor de exportação de grãos em direção ao litoral capixaba. Ainda assim, o presidente do sindicato local dos produtores rurais, Hélio Machado, diz que o setor vai insistir na necessidade de construção de um ramal ligando o município a Pirapora, projeto antigo reivindicado ao governo federal e ainda sem perspectiva de construção. “A ligação é essencial para dinamizar a nossa produção. Este é um dos entraves enfrentados pelo Noroeste”, afirma.
Irmo Casavechia, presidente da Cooperativa Agropecuária do Noroeste, que reúne 256 agricultores de milho, soja e café, afirma que, assim como a facilidade de escoamento, a possibilidade de contar com a chegada bem próxima dos insumos representa injeção de ânimo para os produtores. “Esperamos que a tendência seja de ganhos nessas possibilidades de escoamento”, diz.
A decisão do governo mineiro é de estimular a produção local de grãos a partir da infraestrutura logística já instalada, que inclui investimentos feitos com recursos públicos na recuperação da malha rodoviária que converge para Pirapora, informa Gilman Viana Rodrigues, secretário de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento. “É expressiva a infraestrutura que está disponível na região e que traz ganhos de custo. O horizonte que nós imaginamos é de novos produtores plantando grãos, porque ficou mais fácil e rentável entregar a produção”, diz. A construção do ramal ligando Pirapora a Unaí é considerada um avanço ousado pelo secretário.
A FCA planeja novos investimentos para 2011 em vagões e locomotivas, acompanhando a evolução dos contratos de transporte de grãos, e tendo em vista, ainda, os números que o programa de estímulo à produção alcançar. O terminal intermodal de Pirapora ganhou um acréscimo de capacidade de 36 mil toneladas de armazenagem de grãos – que, agora, atinge 42 mil toneladas, ao todo – com a instalação dos dois silos metálicos da Nova Agri. O negócio representa a carga somada de 1,5 mil carretas. As instalações do terminal da operadora ferroviária são resultados de investimentos feitos na reativação da malha férrea entre Corinto e Pirapora, conforme acordo firmado em 2008 com o governo de Minas e a prefeitura do município, prevendo investimentos de R$ 300 milhões. (MV)