12/04/2013
Por Francisco Góes | Do Rio
Enquanto negocia com a Petrobras tentando fazer com que a estatal se instale no porto do Açu, no norte do Rio, a LLX Logística desenvolve outro negócio: a instalação de um terminal de contêineres no local. A empresa reservou área no terminal em terra do Açu, o TX2, para a atividade de carga geral. A LLX, empresa do grupo EBX, de Eike Batista, vem discutindo o projeto com empresas de navegação e com operadores internacionais de terminais de contêineres. Até agora, porém, não fechou acordo.
A aposta da LLX é receber investimentos no Açu para movimentar contêineres tanto na exportação como na importação e também em operações ligadas à navegação de cabotagem (na costa brasileira). Por esse modelo, navios maiores poderiam utilizar o Açu para concentrar carga que depois seria redistribuída no mercado interno em embarcações menores. O Açu está autorizado a operar como terminal privativo, figura jurídica que ganhou força com a edição da Medida Provisória 595, a qual muda as regras de exploração dos portos e encontra-se atualmente em discussão no Congresso.
A LLX vem acompanhando de perto essas discussões regulatórias e participou das reuniões do setor empresarial que fez sugestões ao governo para melhorar a MP. A possibilidade de uma operação de carga geral em escala no Açu tem despertado receio dos terminais de contêineres de uso público, privatizados nos anos 90 e instalados nas áreas dos portos organizados, os quais temem concorrência ainda maior e em condições “assimétricas” com os novos terminais privados.
O presidente da LLX, Marcus Berto, disse esta semana, em visita ao Açu, que o TX2 também terá áreas para movimentação de granéis como soja, açúcar e café, além de fertilizantes. O TX2 será acessado por um canal marítimo com 300 metros de largura e que, quando estiver concluído, terá 6,5 quilômetros de extensão. Algumas empresas começaram a se instalar ao longo do canal.
Berto disse que existe outra área no Açu que será dedicada à atração de empresas que queiram instalar centros de distribuição e de armazenamento. É uma área que, nas contas dele, poderá ter entre cinco milhões e oito milhões de metros quadrados e que, originalmente, foi pensada como local para receber a siderúrgica da chinesa Wisco, que terminou desistindo do negócio. Berto disse que os centros de distribuição poderão ter ligação direta com os terminais marítimos do porto via estradas internas construídas dentro do próprio Açu, sem congestionamentos.
Ainda no TX2 o plano da LLX é ter um terminal multicarga com 1.155 metros de cais e retroárea alfandegada. A ideia é que esse terminal movimente cargas originadas ou com destino ao polo metalmecânico do porto, no qual duas empresas confirmaram instalação: a GE e a V&M do Brasil. O terminal também poderá movimentar cargas de projeto, como instalações industriais.
Esses projetos dependem, em grande medida, da chegada de uma ferrovia ao Açu. Berto disse estar na expectativa do início das novas concessões de trechos ferroviários. Se o programa deslanchar, o Açu poderá ser servido de duas linhas de trem: uma é a chamada Litorânea, entre o Rio e Vitória. O outro projeto, mais ambicioso, conhecido como Estrada de Ferro 354, prevê ligar o norte do Estado do Rio ao Centro-Oeste. A ligação ferroviária é fundamental para o futuro do Açu e Berto acredita que, quando isso ocorrer, os negócios no porto deverão dar um salto.
Fonte do setor portuário disse que a instalação de um terminal de contêineres no Açu é importante para a LLX, mas considerou que o que fará diferença no plano de negócios da empresa será o desenvolvimento do petróleo e gás no porto a partir de uma possível operação da Petrobras. Ainda não está claro se a Petrobras poderia entrar no Açu fazendo investimentos diretos para montar uma estrutura no local ou se somente investiria nas operações da companhia no porto, recebendo as instalações prontas.
A LLX avalia que a Petrobras poderia precisar de áreas para armazenagem de tubos destinados às plataformas. Mas o leque de oportunidades nas negociações entre LLX e Petrobras é maior e pode envolver outras atividades. Ontem, em Porto Alegre, a presidente da Petrobras, Graça Foster, confirmou a ideia do uso do porto com várias possibilidades, incluindo contratação de capacidade para importação de gás natural liquefeito (GNL). A LLX disse que recebeu licença prévia e de instalação para uma unidade regaseificadora no Açu, que poderá atender a futura termelétrica da MPX a ser construída no porto, além de empresas que se instalarão no local. Qualquer decisão da Petrobras depende dos resultados dos leilões do setor elétrico e da disposição da LLX de construir o terminal de GNL no Açu, como indicou Graça. (Colaborou Sérgio Bueno, de Porto Alegre)