O marketing no agronegócio ainda está engatinhando no Brasil. Mesmo com o potencial produtivo que o país apresenta, somente agora está sendo possível atingir níveis recordes de exportação de determinados produtos agropecuários com a ajuda do marketing. Com o objetivo de ampliar este conhecimento, os autores Richard Jakubaszko, Ariovaldo Luchiari Júnior, Décio Luiz Gazzoni e Paulo Choji Kitamura tratam sobre este tema no livro Marketing da Terra. O livro tem o prefácio do ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues. Acompanhe a entrevista de Richard Jakubaszko, jornalista, publicitário, consultor de marketing e especialista em Comunicação e Marketing no Agronegócio. Agrolink – Um livro de marketing para produtores rurais, não é um sonho utópico dos autores? A partir de agora obrigaria os agricultores a aprender sobre marketing? Richard Jakubaszko – Não, não é um livro sobre marketing, o Marketing da Terra é um livro que mostra como usar técnicas de marketing, na ótica do produtor rural, sobre aquilo que ele conhece e entende como ninguém, que é o produto que ele planta e colhe, ou cria. Entretanto, o marketing, mais do que nunca, deve ser decifrado. É como o desafio da esfinge, lançado pelos gregos há milênios atrás: “decifra-me ou te devoro”. Quem não decifrar e entender os desafios da modernidade será excluído do mercado. Esse desafio está, hoje em dia, para o agricultor, em conhecer e praticar o marketing, para poder agregar valor, para ter lucro, e que é uma justa necessidade de ganhar a vida, pois não é pecado ter lucros.. Alguns anos atrás, lá nos anos oitenta chamava-se isto de “barrados no baile”, eram os excluídos da época. Agrolink – Mas como o produtor rural vai diferenciar as técnicas de marketing sem conhecer o assunto, sem nunca ter utilizado o conceito? Richard Jakubaszko – Os produtores rurais sempre fizeram marketing, apenas não sabem disso. Ao escolher o que vão plantar já estão fazendo marketing. Se vai plantar soja ou milho, batata ou algodão, essa é uma típica decisão de marketing, é como a indústria faz marketing ao decidir se vai fabricar ventiladores, geladeiras ou tratores. A diferença é que o agricultor pára por aí, não usa na seqüência da sua atividade as técnicas do marketing para agregar valor aos produtos da terra, como faz a indústria. Outros agricultores, mundo afora, fazem muito marketing, investem em programas de marketing a médio e longo prazo, e agregam valor àquilo que plantam. Eles se reúnem em cooperativas e “botam prá quebrar”. Os produtores de leite, nos USA, por exemplo, estão entre os 15 ou 20 maiores anunciantes do país, e chegam a patrocinar a corrida de Fórmula Mundial de Indianápolis, que é o evento automobilístico mais caro do planeta. Isso é marketing. O Popeye vendeu tanto espinafre nos USA e mundo afora que recebeu cerca de 10 estátuas espalhadas pelo país em sua homenagem. São estes e outros exemplos que detalhamos no livro Marketing da Terra, para demonstrar que é possível agregar valor aos produtos da terra. Mas não ficamos apenas nos exemplos do exterior, mostramos no livro exemplos brasileiros, como o Café do Cerrado e outros. Agrolink – E quais outros exemplos são dados no livro? Richard Jakubaszko – Para fugir de uma abordagem técnica sobre marketing, analisamos de forma específica os problemas de alguns dos principais produtos da terra, como soja, tomate, batata, café, cana-de-açúcar, álcool, biodíesel, carnes vermelhas, hortifrutigranjeiros, em paralelo o cooperativismo como forma de alavancar esses propósitos, e mostramos de forma objetiva o que se faz de certo e de errado em termos de marketing no agronegócio no Brasil. Por exemplo, os transgênicos têm 2 capítulos específicos no livro, um capítulo meu e outro do Gazzoni. O Gazzoni dá uma antevisão sobre os transgênicos que vale para os próximos 8 a 10 anos. Transgênico em si é marketing, tem um diferencial, e em marketing o que agrega valor é algo que tenha diferencial, e o Gazzoni analisa quais as diferenças para os diversos públicos que são os beneficiados diretos com o plantio dos OGMs, sejam os agricultores, os consumidores ou mesmo as indústrias. Já o Luchiari e o Kitamura mostram a importância futura do meio ambiente em relação ao marketing dos produtos da terra. O problema maior é que nos tempos atuais os consumidores europeus e americanos, cada vez mais, são mais exigentes, além de politicamente corretos, e o Eurepgap é só um exemplo desse futuro gargalo, quem não se enquadrar não vai vender, nem mesmo no Brasil, pois aqui é só uma questão de tempo o nosso consumidor copiar os gringos. Agrolink – Nesse sentido o Marketing da Terra seria uma antevisão futura do agronegócio? Richard Jakubaszko – Não é tanto assim, pois o que descrevemos e analisamos no livro de certa forma já acontece lá fora. Na verdade o Marketing da Terra é apenas um novo jeito de olhar para as coisa do agronegócio. O agricultor tem de entender que commodity tem sempre pagamento de preço baixo, quem faz o preço é o comprador e não ele como vendedor. Porque a indústria pode fazer o seu preço e o agricultor não? Claro que para agregar valor os agricultores terão de entender o processo, se reunir com esses objetivos nas suas cooperativas e associações, traçar objetivos comuns, e investir. Porém, uma coisa deve ficar claro, se não fizer um marketing competente, para ganhar dinheiro com commodty tem de rezar prá não chover, ou chover demais, na horta do vizinho. Agrolink – Lamentável constatação, essa… Richard Jakubaszko – É verdade, mas realista. O problema é quando acontece na nossa horta… Para evitar isso temos de ser competentes. O livro Marketing da Terra é só o primeiro grande passo nesse sentido. Foi editado pela exigente Editora da UFV – Universidade Federal de Viçosa, com prefácio do Ministro da Agricultura Roberto Rodrigues, um apaixonado pelo assunto, e tem co-autores do porte e magnitude dos engenheiros agrônomos Ariovaldo Luchiari Júnior, Décio Gazzoni e Paulo Kitamura, todos pesquisadores científicos do primeiro time da Embrapa. É isso, o livro mostra como agregar valor aos frutos da terra, porém temos de saber que para agregar valor aos produtos temos que ter um diferencial, temos que ter qualidade, senão vamos sempre lamentar os aumentos dos custos de produção em insumos, equipamentos e logística, sem esquecer os juros mais altos do mundo. Serviço: O livro Marketing da Terra (279 páginas, R$ 35) pode ser adquirido por telefone na livraria da UFV (31) – 3899.3117 ou pelo e-mail livraria@ufv.com.br ou no site www.editora.ufv.com.br, fazendo a busca pelo nome da obra. |