Leste Europeu puxa a queda da exportação de café solúvel

9 de março de 2009 | Sem comentários Comércio Exportação
Por: DCI

Priscila MachadoAbnor Gondin


 
BRASÍLIASÃO PAULO – A crise de demanda do Leste Europeu, principal comprador do café solúvel brasileiro, já impacta o volume e a receita das importações no País. Após registrar quedas sucessivas de agosto a novembro, as exportações brasileiras de solúvel voltam a cair em 2009. No acumulado dos dois primeiros meses do ano a retração já chega a 34,5% – em um decréscimo acima de 200 mil sacas. O número é considerado alarmante pela Associação Brasileira da Indústria de Café Solúvel (Abics), que projetava para este ano uma retração da ordem de 20%. “No fim do ano, já estávamos observando a diminuição de pedidos. Nos nossos cálculos a queda seria até 20%, mas a realidade está se mostrando mais severa”, afirma Roberto Paulo, diretor executivo da Abics. Estimada em 30%, a queda na receita segue a mesma linha da retração do volume exportado e já resulta no prejuízo da indústria, que tem reduzido o ritmo de produção. De acordo com Paulo, como a indústria brasileira trabalha por encomenda, ela não forma estoques, o que, em uma situação de agravamento da crise, poderia levar o setor a interromper a produção. “As empresas já estão trabalhando em compasso menor. Em mais um ou dois meses, esse cenário pode piorar e aí teremos notícias bem claras de empresas parando”, acrescenta.


Segundo o diretor da Abics, o que poderia alterar o atual quadro de crise seria a autorização do drawback (que permitiria à indústria importar o café por um custo menor com o objetivo de reexportação), medida que é refutada pelo governo e por outros elos da cadeia. Para ilustrar a importância do drawback, Paulo pontuou a rentabilidade que os diferentes segmentos de café geraram à balança comercial brasileira em 2008. Cada quilo de café verde foi vendido, em média, por US$ 2,24, o torrado e moído por US$ 4,80 e o solúvel a US$ 7,20. Ele também aponta o imposto de 9% sobre o solúvel brasileiro cobrado pela União Europeia (UE). A região representa 22% da demanda, além de atuar como distribuidor para o restante da Europa. Na época em que a taxa entrou em vigor, a UE era formada por 12 países e hoje esse número chega a 27.


“A indústria já vem mostrando ao governo que precisa de uma compensação até que as coisas se resolvam no âmbito da Organização Mundial de Comércio (OMC)”, destaca Paulo. Ele disse ainda que sem a cobrança do imposto o Brasil, que hoje exporta cerca de 600 mil sacas para a região, poderia embarcar mais de 1 milhão de sacas por ano.


De acordo com Gil Barabach, analista da Safras & Mercado, o fluxo de café não deve ter uma queda drástica tendo em vista que o produto é vendido para os Estados Unidos, Japão e Europa Ocidental, onde a população não deve alterar muito o consumo. “O efeito sobre esse perfil de comprador é limitada à mudança de padrão”, diz. Segundo ele o mercado de solúvel tende a ser o mais prejudicado com a crise já que o principal demandante é o Leste Europeu, região que está mais vulnerável à crise na economia.


Produtor


A redução nas exportações não deve afetar a rentabilidade dos produtores da variedade conilon (ou robusta), segundo Antônio Joaquim de Souza Neto, presidente da Cooperativa Agrária dos Cafeicultores de São Gabriel da Palha (Coabriel). Isso porque a quebra de safra, da ordem de 40% na última temporada, garantiu um enxugamento da oferta do grão que está hoje com estoques quase zerados. “Não acreditamos em preços melhores porque o mundo está em crise, mas não vai baixar porque a oferta não é grande”, afirma Souza. Segundo ele, o principal concorrente do conilon tem sido o próprio arábica que está sendo vendido à indústria a preços mais baixos.


Torrado e moído


A possibilidade da indústria de solúvel se voltar para o mercado interno não assusta as empresas de torrado e moído. “O hábito de consumir café torrado e moído está consolidado no Brasil e será difícil conquistar esse mercado do dia para a noite”, avalia Natal Martins, diretor comercial da Café Canecão. A empresa deve fechar o primeiro trimestre com um faturamento 9% superior ao primeiro trimestre de 2008 e 14% acima do trimestre anterior.
 

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