19/01/2010
Indústria italiana de café vai inaugurar sua primeira fábrica no país em 2011, no Rio, para abastecer mercado das Américas
Marca, que responde por 50% do café consumido na Itália, já comprou duas empresas de café no Brasil e planeja novas aquisições
MAURO ZAFALON
DA REDAÇÃO
O Brasil exportou 30,3 milhões de sacas de café no ano passado. Desse volume, apenas 107 mil foram equivalentes a café torrado e moído. Outros 2,9 milhões corresponderam a café solúvel.
O café é um dos setores mais tradicionais da economia brasileira, mas também um dos de menor agregação de valor quando se trata de vendas externas. Esse cenário pode começar a mudar.
Uma das principais indústrias de café no mundo, a italiana Lavazza fará do Brasil a base para as exportações de café industrializado para as Américas. Há vários anos no Brasil, a empresa vinha fazendo análises do mercado e buscando a localização para sua indústria.
Escolheu o Estado do Rio de Janeiro, e a nova indústria entra em operação no segundo semestre do próximo ano.
Grande na Europa, principalmente na Itália, onde responde por 50% do café consumido, a Lavazza quer agora uma expansão forte também em outros mercados.
“O Brasil está na primeira posição da nossa lista de prioridades”, afirmou à Folha Gaetano Mele, presidente-executivo da empresa. Com faturamento de 1,12 bilhão em 2008 (R$ 2,9 bilhões), 60% provenientes da Itália, a Lavazza quer ganhar força no mercado externo.
Mele diz que ainda não tem os dados de faturamento de 2009, mas que a receita deve ter ficado muito próxima da alcançada em 2008.
Aquisições
A Lavazza, que já comprou duas pequenas empresas de café no Brasil, a carioca Café Grão Nobre e a paulista Terra Brasil, vai continuar fazendo aquisições. “Vamos fazer uma série de outras pequenas compras para montar uma plataforma sobre a qual deveremos construir um crescimento orgânico”, disse Mele.
A nova fábrica da empresa será construída de forma modular. Inicialmente a empresa colocará em operação uma unidade para fornecer produto para o Brasil. Na sequência, virão os mercados da América do Sul e dos Estados Unidos. Os investimentos iniciais ficam entre R$ 35 milhões e R$ 45 milhões.
O executivo da Lavazza diz que a unidade do Brasil terá a mesma gama de produtos oferecidos na Itália, incluindo cápsulas de café.
Um mercado ascendente, as cápsulas ganham força no consumo. As vendas desse tipo de café pela Lavazza cresceram 22% em 2009 no Brasil, apesar de o produto ser importado.
Mele justifica a necessidade de a empresa colocar a maior variedade possível de produtos no mercado porque os consumidores têm gostos variados. “Não acreditamos em uma fórmula única e ideal para todos os consumidores de café.”
Como napolitano, ele justifica a própria opção de consumir “um café com quatro gotas concentradas de creme quente e doce, bem açucarado”.
Apesar da nova indústria, os objetivos da Lavazza continuam sendo os consumidores de café expresso fora de casa: cafeterias, escritórios, hotéis, indústrias etc. O segundo passo deve ser o consumo no lar.
A oferta de café em supermercados não está nos planos por ora, embora a empresa afirme que continua avaliando esse mercado.
Futuro
A aposta da Lavazza no Brasil tem um motivo: a busca de um país que terá um diferencial mundial em uma ou duas décadas. Mele afirma que a população, os recursos e a dinamicidade da economia brasileira fazem a diferença, e a empresa quer estar nesse mercado nos próximos anos.
Além disso, é o maior produtor mundial de café, o que pode tornar os custos de produção ainda menores para a empresa.
O café de qualidade custa mais e exige renda dos consumidores, mas isso não deverá ser problema para o Brasil. O crescimento de renda no país será em ritmo maior do que nos países de economia consolidada, afirma o executivo.
O desafio futuro para as empresas será obter redução de custos sem reduzir a qualidade, na avaliação do executivo. “Se há qualidade melhor da matéria-prima, deve-se pagar mais pelo produto”, diz ele.
Especulação
Mas a vida de produtores e de empresas não tem sido fácil ultimamente. A entrada dos grandes fundos de investimentos no mercado de commodities agrícolas tem distorcido os preços do café, que não seguem apenas as questões de oferta e de demanda.
Mele diz que “esses fenômenos externos ao mercado, como as especulações financeiras, preocupam muito”.
Assim como faz no Brasil, a Lavazza aposta na Índia para ser a base de fornecimento de café para os países asiáticos. A italiana já comprou uma empresa local e deverá investir em uma fábrica.
China e Rússia são dois mercados que ainda estão em análise. “Estamos aguardando, mas não tomamos nenhuma ação concreta para chegar lá.”