La Nina e a nova safra de verão

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18/08/2010 
  
 
 
Está confirmado: vem ai um novo episódio do fenômeno La Nina. Depois de um período de aproximadamente um ano com águas aquecidas (El Nino), desde junho se observa um processo de resfriamento das águas do Oceano Pacifico Equatorial, indicando o retorno do fenômeno La Nina e alterações no clima já na próxima primavera. A queda na temperatura dessas águas deve aumentar gradualmente no decorrer deste inverno, com o La Nina totalmente configurado durante a primavera e permanecendo durante o verão de 2011. A previsão é de um episódio de intensidade moderada a forte e que deverá durar pelo menos até o outono de 2011. 0 último La Nina ocorreu no verão de 2007/2008. Porém, dadas as características como intensidade, rapidez na formação e provavelmente duração, o atual episódio tem mais semelhanças com o observado entre 1998 e 1999.


Veja como o fenômeno agirá sobre as principais lavouras no pais:


SOJA: o fenômeno La Nina provoca dois impactos bem caracterizados. Primeiro, atrasa o retorno das chuvas no Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste. Já para as lavouras do Sul e de Mato Grosso do Sul, reduz a incidência de chuva e aumenta o risco de estiagens regionalizadas no verão. Na safra 2011, portanto, muda o cenário climático, principalmente se comparado com o observado na safra passada. O retorno das chuvas neste ano deverá ocorrer somente no final de outubro e em novembro, de forma muito irregular, o que deve implicar o atraso do plantio para as lavouras de Mato Grosso, Goiás, Minas Gerais, Bahia, Piaui, Maranhão e Tocantins.


Durante o verão, as chuvas nesses estados devem apresentar um comportamento médio, com o risco das chuvas se prolongarem até abril e meados de maio. Já as lavouras sulinas e de Mato Grosso do Sul não devem enfrentar grandes problemas no plantio, mas têm de considerar o risco de estiagem no verão. 0 outono também deve ter chuvas abaixo da média.


Milho Verão: o cenário climático é muito semelhante às condições descritas para a soja. 0 risco aumenta principalmente para as lavouras do Sul, em função das estiagens no verão. Porém, os cultivos do norte/noroeste do Aio Grande do Sul e do oeste de Santa Catarina, implantados mais cedo (em agosto), ainda têm chance de se beneficiar das chuvas da primavera, podendo assim escapar do risco de estiagem a partir de dezembro. Para as lavouras de milho do Nordeste, incluindo Agreste e Sertão, a presença do La Nina num primeiro momento traz um bom período de chuvas (“inverno nordestino”, que vai de fevereiro a maio). Porém, a qualidade dessas chuvas ainda depende das condições do Oceano Atlântico, que ainda não estão definidas. De qualquer forma, o cenário climático para 2011 é bem melhor que o observado na safra anterior.


ARROZ IRRIGADO: o fenômeno La Nina está associado a chuvas abaixo da média e a períodos de estiagens nas áreas produtoras de arroz do sul do Brasil. Porém, considerando que elas vêm de um período chuvoso, com a maioria dos reservatórios e barragens cheios – e ainda há as chuvas da primavera para completar o nível -, o indicativo de verão mais seco representa um cenário climático mais favorável para a próxima safra de arroz gaúcha e catarinense. É bom lembrar que o principal problema da safra passada foi o excesso de chuva da primavera, devido ao El Nino. Além disso, a previsão de redução das chuvas durante o inverno, com a incidência de períodos secos nas principais áreas produtoras, deve beneficiar o processo de drenagem e preparação do solo para o plantio, cujas atividades em grande parte se concentram no inverno, favorecendo posteriormente o plantio, que se inicia em outubro.


ALGODÃO: o atraso no retorno das chuvas na primavera não deve representar grande problema na implantação da lavoura de algodão em Mato Grosso e na Bahia, pois durante o verão deverá prevalecer o padrão médio de chuvas, portanto, sem afetar o desenvolvimento vegetativo. Mas é importante considerar a possibilidade de o período de chuvas se prolongar até abril ou meados de maio de 2011, o que, em tese, favorece a lavoura de algodão adensado (safrinha), mas, por outro lado, pode representar risco nas fases finais (abertura da pluma e colheita). Portanto, em 2011 não deverá se repetir o problema observado na safra deste ano, quando a falta de chuvas em abril e maio reduziu o potencial de produção de algumas áreas.


CANA-DE-AÇÚCAR: o período seco mais definido e longo que vem sendo observado em 2010 tem favorecido o corte e o processo de moagem da cana do Sudeste e do Centro-Oeste. Porém, como o período seco está bem mais crítico e considerando a possibilidade do atraso no retorno das chuvas da primavera, isso deve afetar o desenvolvimento das plantas novas e assim comprometer a produção da próxima safra. Deve-se ressaltar ainda que, em 2011, devido à presença do La Nina, o período de chuvas pode se prolongar até abril e meados de maio, retardando o início do processo de corte e moagem.


CAFÉ e LARANJA: neste ano, o outono e o inverno mais secos e com temperaturas mais amenas beneficiaram a finalização e a qualidade da safra, assim como têm favorecido o processo de colheita. Entretanto, como a seca está mais severa, e considerando a possibilidade do atraso no retorno das chuvas, na primavera isso pode afetar o desenvolvimento das plantas e as fases de florada, comprometendo a produção da próxima temporada. Para o verão, a previsão é de chuvas em torno das médias climatológicas, o que, mesmo com alguma irregularidade, deverá garantir uma recuperação hídrica do solo.

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