Jovens de comunidade quilombola em Divino se capacitam em cafeicultura

Sindicato dos Produtores Rurais e Sistema Faemg Senar apostam na capacitação e celebram casos de sucesso de egressos

15 de outubro de 2024 | Sem comentários Mais Café Produção

A rotina de 18 jovens moradores da comunidade rural remanescente quilombola, São Pedro de Cima, em Divino, mudou com a chegada do Programa Especial Jovem no Campo à comunidade. Agora, além do ensino médio, eles também cursam aulas sobre cafeicultura, principal atividade agrícola do município. 

A iniciativa do Sistema Faemg Senar e do Sindicato dos Produtores Rurais de Divino, visa qualificar os jovens para que eles possam trabalhar e se manter no campo com qualidade de vida e perspectivas para o futuro em empreendimentos rurais.  

Os participantes da turma têm de 15 a 18 anos e estão empolgados com os ensinamentos e as possibilidades que o programa proporciona. Os jovens fizeram quatro dos sete módulos que compõem o treinamento e já estão colocando o conhecimento em prática no seu dia a dia nas lavouras. 

Rafaela Souza, de 17 anos, conta que já identifica os problemas na lavoura, como a presença de pragas e doenças e compartilha as lições com os pais. “Eles acreditam no que eu aprendi, e agora recebi a missão de controlar as pragas e tentar corrigir outros erros”, afirmou sorridente. 

Com Estevão Guilherme Albergaria, de 18 anos, não é diferente! Ele também leva para casa os novos aprendizados e aperfeiçoa o trabalho na lavoura. “Muitas vezes a gente só reproduz o que as pessoas fazem, e nem sempre é o jeito certo”. Para o  jovem, que pretende continuar no campo, “o programa veio abrir caminhos novos para que a gente consiga produzir cada vez mais, com as técnicas certas”. 

Para Renan Faria, de 16 anos, a internet é a grande aliada nas pesquisas sobre a cafeicultura. Ele admitiu que os vídeos nas redes sociais ajudavam, “mas o curso presencial é mais focado e dá para aprender muito mais com profissionais qualificados”. Satisfeito, o jovem comemora a oportunidade de aprender sem sair da sua comunidade. “Muita gente pensa que estudar é apenas fazer uma faculdade, mas nós estamos aqui aprendendo com o Senar sobre o café no lugar onde nós moramos e produzimos”. 

Compartilhar o conhecimento é o foco de Davi Santos, um dos caçulas da turma, com apenas 15 anos ele acredita que o curso representa um avanço para muitas gerações da sua família. “Antes era difícil o acesso às informações. Mas sou jovem e estou recebendo esse conhecimento de graça para compartilhar com meus pais e avós. Aqui em São Pedro tudo é café e me aprimorando consigo aumentar a produção e ter melhor rendimento nas lavouras”.  

Instrutores do Sistema Faemg Senar conduzem as etapas do programa, Mário Martins ofereceu módulos com aulas práticas de poda, controle de pragas e doenças, colheita e preparo do café, direto nas lavouras e enfatizou a dedicação e atenção da turma às lições. 

Ele ainda reforçou que além do conhecimento sobre a atividade, o Jovem no Campo é uma oportunidade de desenvolvimento pessoal. “Conseguimos reforçar valores como a educação, amizade, o companheirismo e promover a socialização desses jovens”.

Acesso e multiplicação do conhecimento

A diretora da escola em que os jovens cursam o ensino médio, Luciana Ancelmo Braga, destacou que a realização do programa dentro da comunidade facilita o acesso ao conhecimento de qualidade oferecido pelo Sistema Faemg Senar e pelo Sindicato.

“Essa iniciativa dá visibilidade para os alunos e os motiva. Todos moram na comunidade, já trabalham com suas famílias na roça, por isso o curso traz benefícios para todos. O que eles aprendem, podem compartilhar com seus familiares e com a comunidade”. 

A vice-presidente do Sindicato e agente de desenvolvimento rural (ADR) da entidade, Viviane Cunha, reforça a relevância de levar o treinamento para dentro da comunidade como um incentivo ao ensino, à inclusão e à sucessão familiar. “O programa promove um despertar. Eles começam a perceber a importância do que tem nas mãos, que é o café. A gente vê o brilho nos olhos”. 

SIC

A formação encerra em novembro, e um dos pontos altos do programa será a visita à Semana Internacional do Café (SIC), que acontecerá em Belo Horizonte, de 20 a 22 de novembro. Para a vice-presidente do Sindicato, a experiência na feira tem um potencial transformador.

“O programa mostra que é possível e que vale muito a pena trabalhar no campo, na cafeicultura. Na SIC eles verão um leque de possibilidades de mercado e  vão saber que o que eles produzem aqui tem um potencial gigantesco. Não precisa sair de casa, não precisa ir para os grandes centros para ter sucesso profissional. Precisa sim estudar, e ter conhecimento”, afirmou Viviane. 

Conexão J

Além da turma na comunidade quilombola, o Sindicato dos Produtores Rurais de Divino também está capacitando jovens na cidade, atendendo a outros participantes com vínculo rural. A turma é formada em parceria com o Conexão J, da secretaria de Assistência Social do município, que prepara centenas de jovens para o mercado de trabalho. 

“A parceria é incrível porque o Sistema Faemg Senar tem uma gama de cursos excelentes que  nos ajudam a dar aos jovens a bagagem que eles precisam para serem bons profissionais”, comentou, Jandira Dias, secretária de Assistência Social. 

A vice-presidente do Sindicato e agente de desenvolvimento rural (ADR) da entidade, Viviane Cunha, enfatiza que o propósito da iniciativa municipal alinha-se com o objetivo do Jovem no Campo e assim, “potencializa o programa, já que o agronegócio gera muitos empregos no município, e com a capacitação, os jovens podem ocupar esses postos”. 

Além das turmas em andamento, o SPR de Divino já realizou outras quatro turmas do Jovem no Campo. A partir da capacitação, muitos jovens, como Miguel e Júlia conseguiram empregos em corretoras de café, lojas agropecuárias, estão engajados em suas propriedades rurais ou focados em estudar na área em cursos técnicos e superiores. 

Os resultados são comemorados pela entidade. “Me lembro de um jovem que não queria nem tomar café e o sonho era sair da cidade e hoje está cursando técnico em agronegócio e quer ficar no campo. A gente trabalha para isso, combatendo o êxodo rural”, compartilhou Viviane. 

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