Publicação: 15/06/07
Volume de negócios com minicontratos de Ibovespa futuro saltou de 4 mil em 2005 a 2 milhões/mês. A popularização da Bolsa de Valores está levando o pequeno investidor a descobrir o mercado de derivativos, em busca de proteção contra variações desfavoráveis de preços de seus ativos. Para se ter uma idéia, o número de minicontratos futuros do Índice Bovespa negociado mensalmente na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F) saltou de 4 mil no início de 2005 para cerca de 2 milhões neste ano.
“Os minicontratos de Ibovespa futuro estão com grande liquidez, até pelo momento fantástico da Bolsa”, afirma o diretor de pregão da BM&F, José Carlos Branco. “Cerca de 90% são clientes pessoa física”, acrescenta.
O mercado de derivativos, também conhecido como mercado futuro, tem o objetivo de servir de instrumento para a administração do risco de variação de preços de ativos financeiros, por exemplo uma carteira de ações, ou de produtos do agronegócio, como boi e café. A fixação de preços através de negociações com contratos futuros permite que o risco seja transferido para terceiros, que estão dispostos a assumi-lo em troca de expectativa de lucro. Ao aplicar no mercado futuro, o participante não compra um produto, mas assume o risco da variação de preço.
Boa parte dos investidores que tem procurado o mercado futuro, segundo o gerente de home broker da Coinvalores, Otávio Sant’Anna, já tem alguma experiência em Bolsa e até mesmo no segmento de opções de ações. Uma operação bastante comum, afirma Sant’Anna, é o uso do mercado futuro pelo investidor para proteger contra oscilações de preços uma carteira de ações que tenha formado no mercado à vista.
Vamos dizer que esse investidor esteja esperando por uma turbulência no curto prazo mas não quer se desfazer das ações porque acredita que são empresas sólidas e com boas perspectivas no longo prazo, então ele pode vender minicontratos de Ibovespa futuro na BM&F para assegurar a pontuação. Se a Bolsa recuar no curto prazo, a perda de valor da carteira de ações poderá ser compensada pelo ganho oferecido no mercado futuro.
O mercado derivativos de dólar também tem atraído o investidor pessoa física, conta o gerente comercial da Interfloat, Fernando Augusto Cardozo, especialmente aquele que vai precisar comprar dólares no futuro mas não quer se surpreender com uma alta na cotação da moeda. Um exemplo típico, conta Cardozo, é o daquele sujeito que está programando uma viagem ao exterior em julho, não tem todo o dinheiro para antecipar a compra de dólares, mas quer assegurar a cotação atual na faixa de R$ 1,95. Como fazer isso? Segundo o gerente da Interfloat, basta ele comprar contratos de dólar futuro equivalente ao montante de dinheiro necessário. Se o dólar subir até o dia da viagem, o ganho que ele terá no mercado futuro vai compensar o montante a mais que ele vai precisar dispor para comprar os dólares na ocasião.
Mas não é só para proteção que o mercado de derivativos tem sido procurado, acrescenta Cardozo. “A operação típica é de proteção, mas tem muita gente operando na tendência”, afirma. “O especulador é personagem importante”, concorda Sant’Anna. Nesse caso, o investidor busca tirar proveito de uma variação futura do preço do ativo, apostando na alta ou baixa da cotação. Quanto mais oscilar um ativo, mais a margem para especular, afirma o gerente da Coinvalores. Mas ele ressalta que, para evitar perdas se o mercado caminhar na direção oposta à esperada, o cliente deve trabalhar com mecanismos de proteção como o “stop”, que tanto limita o prejuízo quanto os ganhos. No mercado futuro, para sair de uma posição, basta fazer a operação inversa.
Para o investidor começar a testar esse mercado, a melhor alternativa são de fato os minicontratos futuros da BM&F. Além do tamanho menor do que um contrato futuro padrão, a negociação dos míni é feita exclusivamente através de uma plataforma eletrônica chamada de WebTrading (WTr), o que permite ao investidor final colocar diretamente suas ofertas utilizando o site de uma das corretoras associadas – assim como no sistema de home broker da Bovespa. “Desde 2005, com o lançamento da plataforma, qualquer um pode operar o mercado futuro e de qualquer lugar do mundo”, ressalta Branco. Além disso, segundo o diretor, a plataforma e a criação dos míni democratizaram o mecanismo de proteção. Sant’Anna acrescenta que uma das vantagens do sistema é que a pessoa física pode operar em igualdade de condições com operadores profissionais. Isso porque o ambiente eletrônico traz mais transparência, flexibilidade e rapidez para a negociação. O custo de transação atraente é outro fator que tem estimulado o desenvolvimento do mercado, lembra Cardozo.
Minicontrato atrai pelo tamanho e custo menor
O minicontrato de Ibovespa futuro equivale a 20% do contrato padrão, cuja cotação é definida pela pontuação do Índice. Em outras palavras, enquanto no contrato padrão cada ponto do Índice vale R$ 1,00, no míni um ponto representa R$ 0,20. Ou seja, se o Ibovespa futuro está cotado a 50 mil pontos ou R$ 50 mil, o míni vale 10 mil pontos ou R$ 10 mil. Já o minicontrato de dólar equivale a 10% do padrão, cujo valor de face é de US$ 50 mil, ou seja, US$ 5 mil. Estão disponíveis ainda minicontratos de boi gordo e café.
No caso do boi, cada contrato padrão equivale a 330 arrobas líquidas ou 20 bois. Já o míni de boi gordo representa 10% disso, ou 33 arrobas líquidas ou dois bois. Para saber o valor do minicontrato em reais, basta multiplicar 33 pela cotação da arroba. O míni de café também é 10% do padrão, o que corresponde a 10 sacas de 60 quilos.
Para começar a operar no mercado, o cliente, além de ser cadastrado na corretora e habilitado no WebTrading, precisa depositar uma margem de garantia numa conta na BM&F. Para cada contrato de míni Ibovespa, a margem exigida é de R$ 1.104. Para o míni de dólar, a margem é de R$ 1.110; para o míni de boi, R$ 96,00, e para o míni de café, R$ 144,00. Para efeito de comparação, a margem de garantia exigida num contrato padrão de dólar futuro varia de R$ 7,2 mil a R$ 8,7 mil. No caso do Ibovespa Futuro, vai de R$ 5,2 mil a R$ 6,3 mil. E, diferentemente dos mínis, para negociar o contrato padrão, o mercado trabalha com lote mínimo de 5 para o dólar futuro e de 10 para o Ibovespa.
Vale lembrar que a BM&F aceita como garantia para negociar os míni ativos como carteiras de ações, títulos públicos, entre outros, o que para o investidor é mais vantajoso do que manter dinheiro parado. O custo de negociação é fixo. A BM&F sugere que as corretoras cobrem um mínimo de R$ 3,00 por míni de dólar e míni de boi e R$ 2,00 por míni de Ibovespa e míni de café. Para as operações “day trade” (em que a posição é aberta e fechada no mesmo dia), há um desconto de 50%. A liquidação dos contratos é financeira, o que significa que não há entrega física de ativos ou produtos. Para sair de uma posição antes do vencimento, basta fazer a operação inversa. Durante o prazo de duração os contratos sofrem ajustes diários e, por isso, o cliente tem de reservar um dinheiro para fazer frente a esses compromissos. Entra e sai dinheiro da conta todo o dia, toda vez que o ativo varia de preço.
Se tudo isso parece muito complicado, a BM&F coloca à disposição em seu site (www.bmf.com.br) um simulador com o intuito de treinar o cliente pessoa física.