PANORAMA ECONÔMICO
04/02/2010
REGINA ALVAREZ (interina)
A China amparou o Brasil em 2009, quando a crise derrubou nossas exportações. A venda de commodities para aquele país garantiu o superávit da balança, mas em 2010 o que preocupa é a postura cada vez mais agressiva da segunda economia do mundo na ocupação de espaços do comércio na América Latina. Estudo da área de inteligência comercial da Apex-Brasil dá a medida desse apetite
O trabalho mostra a evolução das exportações de produtos industriais do Brasil e da China para a América Latina. E os números confirmam o avanço dos chineses, que este ano devem se voltar ainda mais para a região, buscando compensar o recuo do comércio nos Estados Unidos e Europa.
Em 2002, o Brasil exportou US$ 10,6 bilhões em produtos semi e manufaturados para a AL, e a China, US$ 7,1 bilhões. Em 2008, as exportações brasileiras chegaram a US$ 45,2 bilhões, enquanto a China exportou US$ 47,9 bilhões. As nossas exportações cresceram, em média, 27,2% no período; as chinesas subiram 37,4%.
Mas o dado mais impressionante é relativo ao período da crise. No ano passado, quando a turbulência global derrubou as exportações no mundo, as vendas do Brasil para a AL caíram 31%, enquanto as da China recuaram bem menos, 19%.
A perda de espaço nesse mercado é preocupante porque a América Latina tem um peso muito importante na balança comercial brasileira. Antes da invasão chinesa, o Brasil era o líder isolado de exportações para os vizinhos.
O economista Marcos Lélis, coordenador da área de inteligência comercial e competitiva da Apex, vê com muita preocupação esse avanço da China sobre o mercado latino-americano e aponta as dificuldades do Brasil para ampliar as exportações de semi e manufaturados, que caíram fortemente em 2009.
Com a nossa economia aquecida, os exportadores de produtos industriais podem ter dificuldades para atender às duas demandas: interna e externa, e darão prioridade ao mercado interno, acredita.
As incertezas ainda vigentes sobre o comportamento da economia mundial também reforçam essa tendência. Sem garantias de ampliar a participação no mercado externo, o empresário deve optar pela segurança do mercado local.
— Os riscos em 2010 para a ampliação do comércio na região é a combinação desses dois fatores. De um lado, o crescimento da nossa economia e o aumento da demanda interna e, de outro, a atuação cada vez mais agressiva da China, que está determinada a conquistar a América Latina – afirma.
China e Obama
Por enquanto, a queda nos preços das commodities não preocupa a Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB). José Augusto de Castro, presidente da entidade, mantém a projeção para o ano de exportações de US$ 170 bilhões. Castro acredita que os meses de janeiro e fevereiro são atípicos, porque tradicionalmente a atividade econômica é baixa no mundo.
— Sabíamos que havia uma bolha nos preços das commodities, mas ainda não penso em rever para baixo as projeções das exportações, porque o nível de atividade dos países no início do ano é sempre mais baixo. É preciso esperar mais um pouco para ver se essa tendência irá permanecer ao longo do ano — explicou.
As medidas de restrição de crédito na China e a nova regulação bancária nos Estados Unidos, proposta pelo governo Obama, foram os principais motivos que desencadearam a queda das commodities em janeiro. Entre as agrícolas, a soja fechou o mês com queda de 11%, enquanto o farelo de soja caiu 12%. O trigo também teve queda de 12%, e o café caiu 4%. Nas commodities minerais, o zinco fechou o mês com queda de 18%; chumbo, 14%; petróleo, 8%; cobre, 7%; alumínio, 6%.
Fora da curva
Levantamento da Ticket Car mostra que, ao contrário do álcool e da gasolina, o preço médio do diesel permaneceu praticamente estável nos últimos seis meses, com variações que não passaram de 0,5%. De acordo com Marcelo Nogueira, gerente de negócios da empresa, a estabilidade resulta dos subsídios do governo à Petrobras, que garantiram a margem de lucros.
Entre dezembro e janeiro, o diesel recuou 0,11%, com preço médio de R$ 2,093. Já o preço do álcool disparou 4,08%, no mesmo período, enquanto o da gasolina subiu 0,40%. O Rio de Janeiro está em décimo lugar no ranking de estados onde o diesel é mais barato.
É vendido, em média, a R$ 2,033 o litro.
PESQUISA: A Coppe e a Usiminas assinarão acordo de cooperação científica, para atenuar a corrosão do aço utilizado no pré-sal, aumentando a resistência dessa matéria-prima em águas profundas
COM ALVARO GRIBEL
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