Revista XXI Ciência para a Vida Emprapa – Mai-Ago 2014 #7 – p.41
por Luiz Gonzaga de Castro Junior*
O consumo de café é um hábito consagrado no ocidente e que ganha cada vez mais adeptos no oriente. O consumidor contemporâneo dispõe de uma grande variedade de alternativas para o preparo da bebida, tais como solúvel, coado, expresso, french press e muitas outras. Mas nem sempre foi assim. A gama de opções disponíveis atualmente é resultado de uma longa trajetória de inovações desenvolvidas pela indústria do café. Sem elas, talvez o café não fosse uma bebida tão popular.
Nos EUA, a indústria de torrefação nasceu no século XIX, graças a uma nova forma de se oferecer o café no varejo. Até a segunda metade daquele século era usual o consumidor adquirir os grãos verdes para torrar e moer em casa. Foi então que um empreendedor norte-americano, John Arbuckle, combinou duas novidades do seu tempo: máquinas para torrar café em escala industrial e sacos de papel. O que hoje pode soar simples, e até óbvio, foi uma verdadeira revo- lução para a época. Combinando as duas tecnolo- gias, o sr. Arbuckle passou a vender café torrado e moído em embalagens de papel. O sucesso veio rápido e logo a empresa se tornou uma gigante na industrialização do grão. No século XX, a Arbu- ckle Coffee foi superada pelos novos concor- rentes, mas havia transformado completamente o mercado de café, agora uma verdadeira indústria capaz de atender um número muito maior de consumidores.
Após a consolidação da indústria de café torrado e moído, foi a vez do café solúvel, cuja primeira patente foi registrada em 1890. Na década de 1930 surgiu o Nescafé, ainda hoje a marca mais consumida de solúvel no mundo. Para o consumidor, a grande inovação do solúvel foi a praticidade, pois basta aquecer um pouco de água e adicionar uma colher de grânulos para se obter uma xícara de café. Além disso, possui preço inferior ao torrado e moído, o que torna essa bebida mais acessível aos habitantes dos países em desenvolvimento. Durante as duas grandes guerras os soldados norte-americanos recebiam latas de café solúvel como parte dos seus suprimentos. No frio e umidade das trin- cheiras cavadas no front europeu, uma xícara de café quente era um dos poucos prazeres a que os soldados tinham acesso. Graças à praticidade do café solúvel, duas gerações de consumidores de café se formaram, já que o hábito foi mantido quando os militares voltaram para casa.
A partir da década de 1990, outra inovação começou a conquistar os consumidores: o café em cápsulas. Atualmente, é o segmento dentro da indústria de café que apresenta a melhor oportunidade de crescimento. As cápsulas são adequadas ao mundo contemporâneo, pois oferecem praticidade e qualidade. Basta inserir a cápsula na máquina e apertar um botão para se obter uma única xícara de cada vez, sem desper- dício e sem necessidade de outros utensílios.
As inovações das embalagens também tiveram sua importância. Elas evoluíram muito desde os sacos de papel do pioneiro John Arbu- ckle. As primeiras latas de café fechadas a vácuo foram comercializadas nos EUA já no início do século XX. Graças a elas, a validade do produto passou a ser muito maior, o que foi excelente para a indústria. Com isso, uma torrefação loca- lizada na costa leste dos EUA, por exemplo, poderia distribuir o produto na costa oeste, sem necessidade de construir uma nova fábrica.
Toda essa evolução mostra a importância da inovação no mercado de café, o que permitiu o aumento na demanda da bebida, novas formas de consumo e o atendimento às necessidades dos mais variados tipos de consumidores – dos mais exigentes até aqueles que desejam apenas praticidade e energia.
* Luiz Gonzaga de Castro Junior – Professor associado da Universidade Federal de Lavras. Doutor em economia. coordenador geral do Bureau de inteligência competitiva do café.