Inflação motiva o governo a defender produtos sensíveis

Por: VALOR ECONôMICO

Ao mesmo tempo em que abre excelentes oportunidades para o Brasil reforçar seu papel de protagonista global na oferta de produtos do agronegócio, as elevadas cotações mundiais de grãos e carnes fizeram soar as sirenes de alerta do Ministério da Agricultura em relação aos preços e ao abastecimento de algumas culturas no país.


“O momento é bom para a agricultura brasileira, que tem capacidade para abastecer o mercado interno, gera excedente exportável e produz energia limpa. Mas, nesse contexto, há alguns produtos sensíveis que precisam de políticas específicas”, afirmou Reinhold Stephanes, ministro da Agricultura, durante a 16ª edição do Seminário do Agronegócio para Exportação (AgroEx), realizado ontem na sede da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).


Conforme Stephanes, são quatro os produtos sensíveis – feijão, arroz, trigo e milho, e as políticas de apoio direcionadas a eles têm de ser definidas com cuidado. “Não podemos cair na armadilha argentina. Temos que deixar o mercado [atuar] e estimular o aumento das produções”, disse. Preocupado com a escalada de seus índices inflacionários, o governo vizinho restringiu as exportações e provocou, com isso, protestos ruralistas que já duram meses.


Para o feijão, prometeu o ministro, será lançado junto com o Plano de Safra 2008/09, em meados deste ano, ações específicas para garantir financiamento, garantia de preços e seguro para os produtores. Stephanes observou que os preços subiram muito no ano passado – “de R$ 60 para R$ 210 a saca” – devido à menor oferta doméstica, determinada pelas cotações que vinham sendo praticadas, que estavam abaixo do custo de R$ 50 a saca.


No caso do arroz, o temor do ministério ficou evidente com a já adotada restrição às exportações dos estoques oficiais – suficientes, hoje, para cerca de 90 dias de consumo, segundo o ministro. Stephanes lembrou que o produto vinha de sete anos “no preço mínimo” e que o mercado não deverá voltar a esses patamares, mas disse que há pouco espaço para novas valorizações. De uma maneira geral, inclusive, Stephanes crê que os preços agrícolas não deverão superar o atual patamar pelo menos até o fim de 2009. Depois disso, ao contrário de economistas consultados pelo Valor nas últimas semanas, ele vê espaço para nova disparada.


O trigo, que praticamente dobrou de preços no exterior e no Brasil no último ano, é outro que continuará sendo acompanhado de perto, mesmo após o aval para a importação, desde terceiros mercados, de 2 milhões de toneladas isentas da Tarifa Externa Comum do Mercosul (TEC). Como já havia afirmado ao anunciar o incentivo às importações, o ministro reiterou que o Brasil “deve voltar a pensar em auto-suficiência” nessa frente, “até pela instabilidade dos fornecedores” – uma referência direta à Argentina. Também aqui, disse, é preciso elevar o preço mínimo, ampliar os financiamentos e fortalecer o seguro. Atualmente as importações respondem por cerca de 80% do consumo doméstico.


O quarto produto sensível é o milho. Apesar de o país estar se fortalecendo como exportador, lembrou Stephanes, é preciso cuidado sobretudo por conta dos custos de produção de carnes, que hoje disputam com o complexo soja (grão, farelo e óleo) a liderança da pauta de exportações do agronegócios. Nesse caso, o maior problema costuma ser o abastecimento dos frigoríficos de aves e suínos na região Nordeste, que recorrentemente pedem aval para importar, mesmo o grão geneticamente modificado, para suprir suas necessidades.


Apesar dessas ações específicas, o ministro garantiu que não seguirá o caminho da Argentina e lembrou que as pesquisas nacionais ganham fôlego com os aportes de cerca de R$ 1 bilhão previstos no “PAC da Embrapa”. Afirmou ainda que as questões sanitárias são prioritárias e disse que a alta dos fertilizantes é alvo de estudos há oito meses. Stephanes garantiu também que a Medida Provisória da renegociação das dívidas rurais está pronta e instou investimentos em infra-estrutura e logística. E, no front externo, louvou a nova rede de adidos agrícolas que começou a ser instalada, como tanto queria o ex-ministro Roberto Rodrigues.


Para o anfitrião Rodrigues, presidente do Conselho Superior do Agronegócio da Fiesp, é preciso uma boa conjugação público-privada para que o país possa aproveitar os preços elevados dos alimentos no exterior, organizada sob o conceito de cadeias produtivas, “tendo em vista as exportações e as exigências dos consumidores lá fora”. Para ele, o país precisa investir em acordos bilaterais de comércio e em contratos de exportação de longo prazo. “Etanol para o Japão, por exemplo, só com contratos de longo prazo”, afirmou.
 

Mais Notícias

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.