Supermercadista diz que novas tabelas de preços das empresas que usam commodities em seus produtos foram apresentadas na virada do mês
Marcelo Rehder, de O Estado de S.Paulo
SÃO PAULO – A escalada do preço das matérias-primas (commodities) no mercado internacional já provocou alta da inflação no Brasil e deve pressionar ainda mais os preços nos próximos meses. Na virada de janeiro para fevereiro, os produtores de alimentos industrializados e artigos de higiene pessoal e limpeza doméstica – que usam de açúcar a petróleo em suas fórmulas – apresentaram novas tabelas de preços aos supermercados.
As novas tabelas preveem aumentos entre 5% e 7%, mas em alguns casos, como o dos detergentes líquidos e refrescos em pó, os reajustes chegam a 20%. \”O nível de reajuste está forte e não está dando para negociar porque o mercado está aquecido\”, diz o presidente da Associação Brasileira dos Supermercados (Abras), Sussumu Honda.
Nos produtos de limpeza, que usam matérias-primas petroquímicas, a indústria quer emplacar aumentos de 8% e 9%. Em alguns casos, o porcentual é maior. A Química Amparo, dona do detergente líquido Ipê, propõe reajuste de 20%. Até o fechamento desta edição, a empresa não havia retornado as ligações da reportagem.
As novas listas incluem alimentos industrializados que já haviam subido nos últimos meses. Entre eles, estão produtos que usam muito açúcar, como o refresco em pó Tang, da Kraft Foods, reajustado em 20%. A Kraft não retornou as ligações.
Outro exemplo é o café em pó. A Sara Lee reajustou em 15% o preço do café Pilão esta semana. Procurada pela reportagem, a Sara Lee disse que a proposta de reajuste não é uma questão da empresa, mas de todo o mercado. Entre os derivados de tomate, o aumento médio ficou entre10% e 11%. Nos produtos da marca Po marola, a alta foi de12%. A Unilever informou que não comenta política de preços.
\”Os fornecedores aproveitaram a virada de ano para tentar impor nova política de preços\”, diz um empresário do setor de supermercados que não quer ser identificado.
O impacto no bolso do consumidor depende das negociações. Geralmente, os supermercados conseguem descontos sobre os preços de tabela. Mas, este ano, a disputa ficou mais acirrada, pois o consumo está aquecido. Os supermercados trabalham com estoque suficiente apenas para a reposição semanal, e ninguém quer ficar sem produto. \”Se você não compra, alguém compra\”, diz o presidente da Abras.
Além da queda de braço entre indústria e varejo, os aumentos de preço também dependem da disposição do consumidor em aceitar os aumentos. Se o reajuste é exagerado, as vendas caem.
\”A reação do consumidor é imediata\”, diz o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Massas Alimentícias (Abima), Cláudio Zanão. \”Só que os custo s pressionam os aumentos. No caso do macarrão, a farinha de trigo representa 70% do custo de produção. \”Se essa matéria-prima tem alta, não há como não repassar.\”