Por
Coral Davenport
A Coca-Cola sempre esteve mais focada no seu result
ado econômico final do que no
aquecimento do planeta, mas, quando a empresa perde
u um lucrativo alvará de operação na Índia por
causa de uma grave escassez de água no país, em 200
4, as coisas começaram a mudar.
Após uma década de crescentes prejuízos no balanço
da empresa, à medida que secas em
nível mundial esgotam a água necessária para produz
ir o seu refrigerante, a Coca-Cola admite que a
mudança climática é uma força economicamente pertur
badora.
“O aumento das secas, uma variabilidade mais imprev
isível e a cada dois anos inundações
que, nas previsões estatísticas, tinham menos de 1%
de chance de acontecer anualmente”, listou
Jeffrey Seabright, vice-presidente da Coca-Cola par
a meio ambiente e recursos hídricos, comentando
problemas que estão afetando também o fornecimento
de cana e beterraba açucareira da empresa,
bem como cítricos para seus sucos. “Quando olhamos
para nossos ingredientes mais essenciais, nós
vemos esses acontecimentos como ameaças.”
A Coca-Cola reflete um ponto de vista que cresce en
tre importantes empresários e
economistas dos EUA: o aquecimento global é uma for
ça que contribui para a contração das
economias, para custos mais elevados das commoditie
s e dos alimentos, para a quebra nas cadeias de
suprimento e para o aumento do risco financeiro. Es
sa posição está em notável desacordo com o
argumento de longa data, defendido pela indústria d
o carvão e outros, de que as políticas para conter
as emissões de carbono são mais prejudiciais à econ
omia do que o impacto da mudança climática.
Na estância suíça de Davos, líderes de corporações
e políticos reunidos para o Fórum
Econômico Mundial dedicaram um dia inteiro a painéi
s e debates sobre a ameaça da mudança
climática.
Em Washington, o presidente do Banco Mundial, Jim Y
ong Kim, inseriu a mudança
climática no centro da missão do banco, citando o a
quecimento global como o principal fator no
crescimento das taxas de pobreza do mundo e na redu
ção do PIB das nações em desenvolvimento.
Na Europa, a Organização para a Cooperação e Desenv
olvimento Econômico, entidade
representativa de 34 nações industrializadas, com s
ede em Paris, começou a alertar para os custos
exorbitantes do aumento da poluição por carbono.
A Nike, que tem mais de 700 fábricas em 49 países,
muitas no Sudeste Asiático, constata que
o clima extremo está prejudicando sua cadeia de sup
rimento. Em 2008, inundações provocaram o
fechamento temporário de quatro fábricas da Nike na
Tailândia, e a empresa continua preocupada
com o aumento das secas em regiões produtoras do al
godão usado em suas roupas esportivas.
“Com isso, há menos algodão no mercado, o preço sob
e e você tem volatilidade”, diz Hannah
Jones, vice-presidente da empresa para sustentabili
dade e inovação. Tanto a Nike como a Coca-Cola
estão reagindo internamente: a Coca usa tecnologias
de conservação da água, e a Nike está usando
mais material sintético, que é menos dependente do
clima. As empresas também estão fazendo lobby
nos governos para a adoção de políticas favoráveis
ao ambiente.
Mas ideias como essas são difíceis de vender em paí
ses como China e Índia, onde a energia
barata à base de carvão impulsiona a economia e aju
da a tirar milhões de pessoas da pobreza.
Mesmo na Europa, as autoridades começaram a evitar
os custos das políticas ambientais: a União
Europeia já reduziu seus compromissos com energias
renováveis e mudança climática.
Nos Estados Unidos, os ricos podem se dar ao luxo d
e palpitar. Thomas Steyer, bilionário de
“hedge funds” (fundos de investimentos de alto risc
o) da Califórnia, já usou milhões da própria
fortuna para apoiar candidatos favoráveis a polític
as para a mudança climática. Agora, está
trabalhando com Michael Bloomberg, o ex-prefeito de
Nova York, e Henry Paulson Jr, ex-secretário
do Tesouro no governo de George W. Bush, para encom
endar um estudo econômico sobre os riscos
financeiros associados à mudança climática. O estud
o, intitulado “Negócio Arriscado”, tem por
São Paulo, 04 de fevereiro de 2014
objetivo avaliar os potenciais impactos da mudança
climática por região e setor em toda a economia
americana. “Esse estudo é sobre uma coisa: a econom
ia”, disse Paulson.
Robert Rubin, ex-secretário do Tesouro no governo C
linton, também é consultor do relatório
“Negócio Arriscado”. “Há uma porção de questões mon
umentais e realmente significativas que a
economia global está enfrentando, mas esta supera t
odo o resto”, disse Rubin. “Para avançar de
modo significativo na comunidade econômica e na com
unidade de negócios, você tem que torná-la
concreta.”
No semestre passado, governos de sete países -Colôm
bia, Etiópia, Indonésia, Coreia do Sul,
Noruega, Suécia e Reino Unido- criaram a Comissão G
lobal sobre Economia e Clima e iniciaram
conjuntamente outro estudo sobre como governos e em
presas podem lidar com riscos climáticos
para melhor alcançar o crescimento econômico.
Esse estudo e o encomendado por Steyer, além de out
ros, serão publicados no segundo
semestre, pouco antes do encontro das Nações Unidas
sobre mudança climática.
Embora nos Estados Unidos muitos republicanos se op
onham à ideia de um preço ou imposto
sobre a poluição por carbono, alguns economistas co
nservadores a endossam, incluindo Arthur
Laffer, assessor econômico graduado do presidente R
onald Reagan, N. Gregory Mankiw,
economista de Harvard que foi conselheiro econômico
da campanha presidencial de Mitt Romney, e
Douglas Holtz-Eakin, diretor do Fórum da Ação Ameri
cana e conselheiro econômico da campanha
presidencial de 2008 do senador republicano John Mc
Cain.
“Não há dúvida de que, se tivermos mudanças substan
ciais nas temperaturas atmosféricas,
como todos os indícios sugerem, isso vai contribuir
para a elevação do nível do mar”, disse Holtz-
Eakin. “Haverá efeitos econômicos e na agricultura
-é inevitável.” Ele acrescentou: “Eu ficaria
chocado se as pessoas apoiassem qualquer coisa que
não o imposto sobre o carbono”.