06/03/2012
SYLVIA SAES
ESPECIAL PARA A FOLHA DE SÃO PAULO
A Organização Internacional do Café projeta o crescimento da demanda mundial de café nos próximos dez anos em 2% ao ano. A estimativa corresponde a 164,6 milhões de sacas, 30 milhões a mais que o consumo atual.
A OIC ainda ressalta que o consumo mundial vem crescendo “de forma consistente há mais de 40 anos, a uma taxa anual de 1,6%”.
Esse aumento da demanda vem acompanhado por uma sofisticação do consumo com o crescimento dos cafés especiais, que incluem um amplo espectro de conceitos, como qualidade superior da bebida, forma de colheita, tipo de preparo, tradição, origem dos plantios, variedades raras e sustentabilidade.
Esses cafés apresentam taxas de crescimento acima da média, sendo estimada em 10% ao ano, nos principais mercados consumidores.
Para chegar ao consumidor, o café é processado nas empresas de solúvel ou de torrado e moído. A indústria de solúvel possui grau elevado de tecnologia, configurando um segmento concentrado no mundo todo, inclusive no Brasil, que conta com apenas seis firmas atuantes -as quatro maiores detêm 90% da produção total.
É um mercado que cresce 3,5% ao ano, devido principalmente ao maior consumo na Ásia e no Leste Europeu.
O Brasil consome muito pouco solúvel, mas é responsável pela oferta de 24% do mercado internacional. Número que já foi bem maior.
Hoje, a indústria tem enfrentado forte concorrência com a abertura de várias empresas no mercado internacional, que se sentem atraídas pelo crescimento da produção de café verde em outras partes do mundo.
No que se refere ao torrado e moído, diferentemente do que ocorre no mercado internacional, a indústria brasileira é bastante pulverizada, com cerca de 1.300 empresas, embora com forte tendência à concentração.
Hoje, as oito maiores empresas já comercializam 73% do total vendido no Brasil. A presença brasileira no exterior é incipiente.
Trata-se de um segmento em que, apesar dos avanços, ainda vigora a competitividade de preços e a concorrência predatória, em que algumas empresas se valem de café de baixa qualidade (ou até mesmo da adição fraudulenta de outros insumos) para compor o seu produto.
Entretanto, tais características, aliadas ao crescimento do consumo de cafés especiais, tornam o setor bastante atrativo.
De um lado, o café pode ser identificado a um hábito saudável e sofisticado, com a possibilidade de estratégias inclusivas e sustentáveis de produtores rurais, na sua maioria de pequena escala.
De outro, o Brasil possui excelentes condições de competitividade como matéria-prima de diversas qualidades “no quintal de casa”, grande experiência na produção e um mercado interno forte.
Com tais condições, como explicar a ausência de investimentos que potencializem tais vantagens e tornem o Brasil um grande exportador de torrado e moído?
SYLVIA SAES é professora do Depto. de Administração da FEA/USP e coordenadora do Cors.
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