O governo federal está concretizando a maior encomenda de navios feita até hoje
à indústria naval brasileira. A Petrobrás Transporte S.A. (Transpetro) recebe,
no dia 28 de dezembro, os envelopes com as propostas dos oito participantes da
licitação para a construção dos primeiros 26 petroleiros do Programa de
Modernização e Expansão da Frota.
A iniciativa é estratégica porque
representa o renascimento da indústria de grandes navios no país e equivale a um
terço de todos as embarcações que o Sistema Petrobras já teve até hoje. Nessa
primeira fase, o processo vai gerar 22 mil empregos. A expectativa é de que os
contratos para o início das obras sejam assinados até março de 2006 e que as
primeiras embarcações já estejam navegando no final do próximo
ano.
Segundo o presidente da Transpetro, Sérgio Machado, o programa
representa uma mudança de paradigma na indústria de grandes navios, que há 20
anos não realizava encomendas. A partir de uma encomenda de grande porte,
segundo ele, será possível aos estaleiros investir em modernização tecnológica e
se tornarem competitivos internacionalmente.
Machado lembra que a
indústria de grandes navios já foi forte no país na década de 70, chegando a
ocupar o segundo lugar no ranking mundial. A partir daí, passou por um processo
de estagnação, que começou a ser revertido na década de 90, com a produção de
plataformas e barcos de apoio.
O Banco Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social (BNDES) vai financiar até 90% dos custos necessários à
construção dos primeiros navios. Os recursos são do Fundo de Marinha Mercante,
do Ministério dos Transportes. O prazo de Amortização é de 20 anos e os juros
são de 4% ao ano.
Atualmente, dos 120 navios petroleiros usados pela
Petrobrás, mais de 70 são fretados. Com o programa, a Transpetro espera reduzir
essa dependência.
Programa de Modernização e Expansão da Frota
O
Programa de Expansão e Modernização da Frota vai gerar 22 mil empregos na fase
de construção dos navios. As premissas são de que todos os navios sejam
construídos no Brasil e que pelo menos 65% de seus componentes sejam nacionais e
os estaleiros se tornem competitivos internacionalmente. Serão utilizadas 290
mil toneladas de aço, 125 mil toneladas de tubos, mais de 6 milhões de litros e
tintas e 2.200 quilômetros de cabos elétricos.
O processo promove ainda
um aquecimento nos setores industriais que vão oferecer peças e insumos para os
estaleiros, como o metalúrgico, o siderúrgico, o químico e o de instalações
elétricas, por exemplo. Os navios encomendados são dos tipos Suezmax (dez
unidades), Aframax (cinco unidades), Panamax (quatro), Produtos (quatro) e GLPs
(três).
A característica do programa é a quebra de paradigma da indústria
de grandes navios. No passado, o Brasil, construía apenas dois ou três navios de
cada vez. Com a encomenda de 26 embarcações de uma só vez e de mais 16 em
seguida, os estaleiros podem fazer os investimentos necessários em modernização,
porque terão demanda para produzir em escala. E somente essa produção em escala
é que garantirá que eles sejam competitivos em nível internacional em relação a
preços, prazos e qualidade.
Segundo o presidente da Transpetro, o
programa é inovador porque foi estruturado com a participação de diversos
segmentos da sociedade, unindo o Sistema Petrobrás, a comunidade acadêmica, o
governo, os estaleiros e representantes de sindicatos de petroleiros, marítimos
e metalúrgicos.
Renascimento da indústria
A indústria brasileira
de construção de navios já foi a segunda maior do mundo, gerando mais de 40 mil
empregos e exportando para países como a Inglaterra, França, Alemanha, Grécia e
Estados Unidos. Mas entrou em declínio no final da década de 80 e foi
praticamente extinta em 1996. O último navio de grande porte fabricado no Brasil
foi o Livramento, encomendado em 1987, entregue em 1996 e incorporado à frota em
1997.
Hoje, a Coréia tornou-se a maior fabricante mundial de grandes
embarcações, seguida por Japão e China. Os três países concentram 89% da
produção mundial, um mercado que fabrica por ano mais de 1.100 navios, com uma
carteira superior a 4.700 navios e suas instalações ocupadas pelos próximos
quatro anos.
Nesse período, os grandes construtores investiram
continuamente em tecnologia e hoje estão entrando na quinta geração tecnológica,
que tem quatro características principais: montagem em dique seco, capacidade de
movimentação de grandes peças, processo automatizado de corte do aço e
utilização intensiva de recursos de informática. Os estaleiros funcionam com
linhas de montagem e unidades integradas, o que garante prazos de construção
entre oito e 12 meses.
No Brasil, a indústria naval começou a se reerguer
no ano 2000, impulsionada pelas encomendas para o offshore da Petrobrás, que
continua sendo a principal cliente do setor. Essa recuperação, entretanto, ainda
não tinha chegado ao segmento de construção de grandes navios. Com o Programa de
Modernização e Expansão da Frota, o governo federal está criando oportunidade
para o renascimento do setor.
Empresas da Licitação
As empresas
que participam da licitação são as seguintes:
Rio de Janeiro –
RJ
· Consórcio Rio Naval – Sermetal-Ivi (Brasil-RJ), IESA (Brasil-RJ),
MPE (Brasil-RJ) e Hyunday (Coréia)
· EISA Montagem (Brasil/RJ), STX (Coréia)
Niterói – RJ
· Mauá Jurong (Brasil), Maric CSSC (China)
Angra
dos Reis – RJ
· Brasfel (Brasil), Keppels Fels (Cingapura) e Daewoo (Coréia)
Recife – PE
· Camargo Corrêa (Brasil), Andrade Gutierrez (Brasil) e
Mitsui (Japão)
Rio Grande – RS
· Consórcio Rio Grande – Aker Promar
(Brasil), Queiroz Galvão (Brasil), Aker (Noruega) e Samsung (Coréia)
·
Estaleiro Rio Grande (Brasil-RS) e Ishikawajima (Japão)
Itajaí – Santa
Catarina
· Estaleiro Itajaí