Publicação: 15/03/07
Indicado para ocupar o Ministério da Agricultura, o deputado federal Odílio Balbinotti (PMDB-PR) responde a processo no Supremo Tribunal Federal (STF). As acusações, formuladas pelo Ministério Público de Mato Grosso, são de crime de falsidade ideológica. “Sei da minha consciência que sou inocente”, declarou o deputado sobre a denúncia.
O caso, que envolveria empréstimos feitos pelo deputado em nome de “laranjas” no Banco do Brasil, voltou para as mãos da Polícia Federal em função da necessidade de coleta de provas e audiência de testemunhas. Em agosto de 2006, o procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, determinou a realização de diligências adicionais para auxiliar na avaliação do ministro Ricardo Lewandowski: “Considerando a gravidade dos fatos descritos e a existência de indícios veementes da prática dos crimes de falsidade ideológica (Art. 229) e de falsidade documental (Art. 298), requer o Ministério Público Federal a reautuação do feito como inquérito e, após, o envio dos autos ao Departamento de Polícia Federal para, no prazo de 60 dias, a realização de diligências”.
Em 1996, Balbinotti foi processado pelo MP do Paraná por crime de responsabilidade por causa da ausência de licitação pública quando prefeito da cidade de Barbosa Ferraz, na região de Maringá.
Nos bastidores, a indicação de Balbinotti é creditada ao governador do Paraná, Roberto Requião. O sinal verde do governador de Mato Grosso, Blairo Maggi, também ajudou Balbinotti a ganhar a disputa interna no PMDB contra o colega Waldemir Moka (MS). A bancada ruralista recebeu muito mal a indicação. “Ele não tem trânsito aqui”, afirmou Ronaldo Caiado (PFL-GO), um dos principais líderes ruralistas do Congresso. “Nos sentimos à vontade para criticar porque não fomos consultados”.
Líderes do setor também se surpreenderam com a indicação. “Quase não tive contato com Balbinotti nos últimos tempos. Não é um nome intimamente ligado ao setor”, disse o presidente da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), Marcio Lopes de Freitas.
Dono da Sementes Adriana, a maior produtora nacional de cultivares de soja, Balbinotti recebeu 116,4 mil votos na eleição passada. No quarto mandato de deputado, ele já trocou de partidos sete vezes. Começou como vereador na antiga Arena, em 1973. Depois, foi prefeito pela Arena e pelo PFL. Em seguida, elegeu-se deputado federal pelo PDT, mudou para o PSDB e acabou no PMDB. Também pertenceu ao PDC e ao PTB.
Rico e bem-sucedido, Balbinotti tem sua base política em Maringá, no noroeste do Paraná, mas administra seus negócios a partir de Rondonópolis, no sul de Mato Grosso. Para supervisionar o trabalho dos filhos Odílio Junior e Adriana, viaja com freqüência a bordo de um de seus dois jatinhos particulares. Nascido em Gaurama (RS), Balbinotti declarou ter gasto R$ 3 milhões em sua última campanha. Na prestação de contas, constam uma cobertura, apartamentos, aviões agrícolas, caminhões, caminhonetes, máquinas agrícolas e 12 mil hectares de terras em Alto Garças e Pedra Preta (MT). Seu patrimônio ascenderia a R$ 120 milhões.
O novo ministro da Agricultura evita falar que é desse ou daquele Estado. “Hoje me sinto mais brasileiro”, disse ao Valor, por telefone.
Balbinotti contou que ficou sabendo que seria indicado ao cargo na terça-feira. Ontem reuniu-se com integrantes da bancada do PMDB para tratar do assunto. “O ministério é do PMDB”, disse ele, que já aceitou a indicação, mas ainda espera o encontro com Lula para considerar-se ministro. “Sei que o presidente avalizou meu nome”, adiantou.
Ele admitiu que contou com o apoio dos governadores do Paraná e do Mato Grosso. “Tenho um bom relacionamento com Requião”, afirmou. Questionado sobre o que pretende fazer no cargo, Balbinotti disse que já tem planos. “Vamos valorizar o agricultor, que é quem aquece a economia do país.” (Colaborou Marli Lima, de Curitiba, e agências noticiosas)