Pesquisadores do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper), em viagem técnica, conheceram o uso de parasitoides no controle biológico da broca do café na Colômbia.
Pesquisadores do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper), em viagem técnica, conheceram o uso de parasitoides no controle biológico da broca do café na Colômbia. A visita ocorreu em conjunto com extensionistas do Instituto que estiveram no país para conhecer a produção de cafés finos.
Os entomologistas do Incaper David dos Santos Martins e Renan Queiroz visitaram dois importantes laboratórios que atuam no controle da broca do café, o Laboratório de Controle Biológico da broca do café por vespas parasitoides (Biocafé) e o Laboratório BioProtección (Produción de Controladores Biológicos).
“Visitamos o Centro Nacional de Investigaciones de Café (Cenicafé), onde pudemos ver toda a estrutura, procedimentos e materiais utilizados na criação da broca do café (Hypothenemus hampei) e das três principais espécies de vespas parasitoides (Cephalonomia stephanoderis – vespa da Costa do Marfim, Prorops nasuta – vespa de Uganda e Phymastichus coffea, esta última não ocorre no Brasil) utilizadas no controle biológico aplicado. Essas vespas são utilizadas para liberação nas lavouras de café na Colômbia”, explicou Renan.
Ele também disse que viram todas as especificidades de cada parasitoide, como a fase do hospedeiro em que cada vespa parasita e quais as melhores condições ambientais para a liberação de cada parasitoide. “Pode-se aplicar tudo isso no manejo da broca do café no Espírito Santo, visando à diminuição do uso de inseticidas pelos cafeicultores capixabas”, destacou Renan. Atualmente, esse Laboratório está produzindo cerca de 100 mil vespas de cada espécie, mas ele tem a capacidade para produzir até 6 milhões de cada espécie.
O outro laboratório visitado, de BioProtección, é mais voltado para a produção de fungos e bactérias entomopatogênicas para o controle de insetos praga. “Foram mostrados diversos produtos já prontos para comercialização a partir de fungos entomopatogênicos, como Beauveria bassiana, Metarhizium anisopliae, Isaria fumosorosea, além de bactérias, por exemplo, a Bacillus thuringiensis. Todos esses produtos contêm diferentes cepas de fungos ou bactérias utilizadas de acordo com cada praga e cultura, não trabalhando apenas com café. Além disso, o produtor pode encomendar um ‘mix’ de organismos entomopatogênicos de acordo com a sua necessidade”, explicou o pesquisador David Martins, que destacou a eficiência operacional do laboratório. Eles conseguem manipular e disponibilizar o produto em 48 horas, após ter recebido o diagnóstico do técnico.
Pesquisa aplicada ao ES
Na área de Entomologia, o conhecimento de todo o processo para produção e liberação de agentes controladores biológicos de insetos praga e, mais especificamente, a broca do café por vespas parasitoides, é de suma importância para aprimorar essa tecnologia no Incaper e, posteriormente, divulgar para os produtores de café conilon e arábica. “As informações obtidas e as trocas de experiências nessa viagem técnica foram muito importantes para fortalecer e direcionar as ações de pesquisa dentro do Instituto, visando à Inovação Científica e Tecnológica, focando no desenvolvimento sustentável. Tendo em vista que anteriormente o Incaper já trabalhou com a produção de vespas parasitoides, tendo o domínio da criação e técnicas de liberação de uma das espécies (Cephalonomia stephanoderis), introduzida no estado no ano de 1994 pelo Instituto, é importante também a utilização das outras duas vespas, uma vez que elas atuam em diferentes condições ambientais e se alimentam de fases diferentes da broca do café. Isso pode permitir um controle biológico mais eficiente da broca do café”, explicou David.
Além disso, ele disse que o Espírito Santo tem sofrido com a utilização de pesticidas, que causam problemas dos mais diversos e em todos que participam da cadeia de produção dos cultivos e, consequentemente, para os consumidores. “A utilização de estratégias de controle biológico pode ajudar a reduzir a utilização de inseticidas na cultura do café, além de outras culturas de interesse econômico. Como instituição pública, com foco na agricultura familiar e na produção de alimentos com qualidade e sem contaminação, o Incaper pode avançar na área de controle biológico e essa viagem nos deu uma condição melhor de atender a essa demanda”, destacou Martins.
A visita técnica faz parte do projeto “Manejo Fitossanitário do café conilon no Estado do Espírito Santo”, que tem como um dos planos de ação o “Manejo de escolitídeos – pragas em cafeeiro conilon”. A viagem ocorreu entre os dias 11 e 18 de dezembro com a equipe técnica composta, além dos pesquisadores Renan Queiroz e David Martins, pelos extensionistas do Incaper Fabiano Tristão e Lúcio Herzog De Muner e do engenheiro agrônomo da P&A, Silvio Padilha.
Broca do Café
Originária da África, a broca-do-café é a principal praga do Conilon e causa severos danos ao café arabica, pois tem capacidade de atacar os frutos em todos os estágios de maturação, de verde até maduro (cereja) ou seco. Essa praga foi constatada pela primeira vez no Brasil em 1913, no município de Campinas, Estado de São Paulo. Entretanto, sua presença foi registrada oficialmente somente em 1924, quando causou grandes prejuízos.
O adulto da broca-do-café é um pequeno coleóptero preto, com o corpo cilíndrico e ligeiramente recurvado para a região posterior. Os élitros são revestidos de cerdas e escamas piriformes características. Os machos são semelhantes às fêmeas, mas são menores medindo cerca de um terço do corpo daquelas e dotados de asas rudimentares. Por essa razão, os machos não voam e não saem dos frutos de onde se originaram. A proporção na população é de 1 macho para 10 fêmeas.
O acasalamento ocorre dentro do fruto onde a fêmea foi originada; logo após, ela procura outro fruto e o perfura, geralmente na região da coroa, iniciando a escavação de uma galeria até atingir o pergaminho da semente.
A fêmea pode atacar os frutos desde a fase de chumbinho. Entretanto, somente quando o fruto de café atinge teor de umidade/matéria seca adequada, isto é, passado o período de “água” (estágio de “chumbão verde”), as fêmeas iniciam a oviposição. No interior da semente, ela alarga a galeria e inicia a postura. Uma fêmea pode viver 156 dias e pode ovipositar de 31 a 119 ovos. As larvas nascem depois de 4 a 10 dias da postura do ovo e passam a se alimentar da semente, desagregando pequenas partículas das paredes da câmara onde nasceram. Após alguns dias, a semente pode ser totalmente consumida.
Levantamentos realizados no Espírito Santo mostraram que em anos propícios à infestação, a broca-do-café causa prejuízos superiores a R$ 40 milhões anuais.