Jair Amaral
A família é verde-amarela… … mas a casa tem produtos italianos, chineses, uruguaios, chilenos, americanos… Marlene Chaves Costa e a nora Veridiana tomam um café da manhã internacional, com louça francesa, pratos de cerâmica uruguaios, talheres chineses e espátula de bolo italiana O brasileiro não precisa fazer muito esforço para encontrar nos supermercados e dentro de casa algum item comprado recentemente que seja importado.
De uma simples escova de dentes a um equipamento de som, o dólar mais baixo em relação ao real é o principal responsável por esse intercâmbio. As indústrias e lojas nacionais trouxeram do exterior este ano todo tipo de pequenas coisas para enfeitar o lar e seus próprios clientes.
Levantamento feito pelo Estado de Minas no banco de dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) descobriu que as importações de produtos de cama, mesa e banho, utensílios domésticos, objetos de enfeite pessoal, móveis e equipamentos para casa e aparelhos domésticos subiram 33% nos quatro primeiros meses deste ano. A compra externa desses produtos somou US$ 719 milhões, entre janeiro e abril de 2005, enquanto nomesmo período deste ano, a manutenção do dólar em valores atrativos aos importadores elevou esse tipo de importação para US$ 954 milhões. Especialistas dizem que muito mais mercadorias de pequeno valor agregado ainda estão para chegar nas prateleiras de todo o país. Os números são significativos, pois não incluem os gastos com a compra de bebidas e alimentos importados, que também subiu 33% no quadrimestre. Não se engane pensando que tudo não passa de quinquilharias vindas da China.
Na lista de produtos que aumentaram a participação no dia-a-dia dos brasileiros estão cremes de belezas da França, barbeadores holandeses, copos made in USA e desodorantes argentinos. Esses são exemplos de alguns itens que tiveram a importação ampliada significativamente em relação ao ano passado. “Sem dúvida a taxa de câmbio favoreceu o aumento do consumo doméstico desses produtos importados e a tendência é continuar”, diz o economista Fernando Ribeiro, da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex). Marlene usa escova e pente de madeira que parecem brasileiros, mas são italianos
Além do dólar favorável a trazer do exterior mercadorias mais baratas, o economista aponta a melhora na renda dos brasileiros como outro fator que levou a uma maior presença dos importados no cotidiano das pessoas. “Se a renda doméstica continuar subindo, as importações acompanharão de forma mais rápido esse movimento, apesar de esses bens de consumo para uso pessoal ou em casa terem pequena participação no volume comprado no exterior”, explica Ribeiro. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o salário real pago aos trabalhadores brasileiros subiu 2,18% nos últimos 12 meses. Para o professor de comércio exterior na UNA, Frederico Martini, o brasileiro tem o espírito consumista do norte-americano, mesmo sem ter renda parecida. “É uma cultura aberta na década de 90, com as políticas do então presidente Collor. Naquele época criou-se um conceito de consumismo que não tínhamos”, afirma.
Diretor da Domus em Minas Gerais, representante da multinacional de logística Eagle Global Logistic (EGL), Martini diz que produtos para casa tiveram destaque nas importações deste ano. Cestas e tapetes de fibras naturais de coco ou bambu, copos de vidro e até mesmo bandejas de silicone para assar bolo estiveram muito presentes na lista de compras das empresas importadoras. A importação de bandejas de papel cartão, aquelas usadas para servir brigadeiro e bolos em festas, por exemplo, subiu 56,5% nos quatro primeiros meses deste ano. De acordo com a Secretaria de Comércio Exterior (Secex), do Ministério do Desenvolvimento, o Chile foi o principal fornecedor desse item para o mercado brasileiro. Outros países da América do Sul e os Estados Unidos também contribuíram com grande lotes de guardanapos e toalhas de papel, que passaram de US$ 230 mil no primeiro quadrimestre de 2005 para US$ 353,3 mil no mesmo período deste ano. Mas nada encantou tanto os brasileiros como os eletrodomésticos. No banco de dados da Secex eles estão dentro do grupo chamado de máquinas e aparelhos domésticos, que apresentou importações 81,4% maiores entre janeiro e abril deste ano.
Alguns produtos são velhos conhecidos da dona-de-casa como o secador de cabelo (84% de alta na importação) e a máquina de costura doméstica (276% de crescimento), mas outros como o triturador de alimentos, comprado nos EUA, conseguiram espaço nos navios de importação. Os gastos para comprar máquinas de lavar louça, originárias da Alemanha, Itália e Espanha, passaram de US$ 676 mil em 2005 para US$ 1,36 milhão este ano.
Fonte: Estado de Minas