Importação de café: Volume comprado é irrisório e não tem força para mudar dinâmica do mercado

Analista e CNC afirmam que prática não é viável e que nenhum outro país produtor conseguiria suprir parcela brasileira no mercado_

27 de outubro de 2021 | Sem comentários Mercado
Publicado em 26/10/2021 16:11 e atualizado em 26/10/2021 16:49
A *notícia de que o Brasil importou grande quantidade de café, com previsão de chegada no país em 45 dias*, movimentou o setor cafeeiro no último final semana. De acordo com a publicação que circulou nas redes sociais, a *importação do grão poderia ser uma alternativa para suprir a quebra de produção do Brasil em 2022.*
De acordo com *dados disponíveis da página de Estáticas de Comércio Exterior (Comex Stat)* o *Brasil tem autorização e de fato exporta um pequeno volume de resíduos de café e café torrado*, no _entanto_, de acordo com analista de mercado Eduardo Carvalhaes e com o próprio Conselho Nacional do Café (CNC) é *inviável para o mercado, apesar do país ter autorização e importar pequenas quantidades.*
A *importação de 500gr de café verde proveniente do Peru foi de fato realizada pela empresa José Arriel Coffe, localizada no Sul de Minas Gerais, neste mês de outubro*. De acordo com Afrânio Junior, porta-voz da empresa, a *amostra foi trazida para o Brasil com a finalidade de fazer blend e apresentar café diferenciado ao mercado interno.* *_”Quantas pessoas não podem viajar e sentem a vontade de tomar um café diferente? Acho que isso pode aumentar as vendas de café do Brasil e movimentar o mercado”_*, comenta ao Notícias Agrícolas. 
Em *relação às notícias de que contêineres estariam chegando no Brasil nos próximos dias, o porta-voz relatou que os testes ainda estão sendo feitos, e que o próximo passo para fechar negócio em maior escala é visitar o Peru e conhecer as áreas de produção.* _”Tenho sim interesse em comprar mais café, mas a compra ainda não está fechada. Acredito que pode ser uma solução para pensar em bebida diferenciada, apresentar outras opções de café diferenciado”_, complementa.
Segundo dados da *Comex Stat*, no período entre *janeiro/setembro de 2021*, o *Brasil importou 3.761,26 toneladas de café torrado, extratos, essências e concentrados de café.* O número representa *0,04% de participação nas importações totais no período*, e com receita de US$ 60,21 milhões.  
Os gráficos mostram ainda que a *maior parte dos produtos foram importados da Suíça com 56%* do total, *França* aparece com *18%* e *Reino Unido* com *8,4%*. Já em relação aos *estados exportadores*, *São Paulo* aparece em *primeiro lugar* com participação de *92,9%* no período. Os *demais estados produtores* como Minas Gerais, Bahia, Paraná e Espírito Santo também aparece na relação, mas as exportações não chegam a *1%.* 
Em relação ao *café não torrado*, no período entre *janeiro/setembro de 2021*, o *Brasil importou 2.074,27 toneladas no período*, com receita de US$ 3,59 milhões. O montante *representa 0,002% nas importações totais do período*. *Alemanha* aparece com *maior fornecedor de café, com 58%* e *México* vem logo na sequência com *39% de participação*. Em relação aos *estados importadoras*, *Paraná* aparece *como principal importador*, seguido do Rio Grande do Norte, Minas Gerais e Espírito Santo. 
O *Brasil consome em média 22 milhões de sacas/ano*. O *mercado interno é aquecido e por isso*, Carvalhaes descarta qualquer possibilidade de outro país produtor suprir a necessidade do Brasil. *_”Brasil é forte do jeito que é porque tem o consumo interno que também sustenta nossa produção. Não consigo imaginar onde teria tanto café para suprir uma necessidade como essa. Se alguém conseguir comprar com o dólar a esse preço e com os impasses logísticos, precisamos saber onde está esse café”_* acrescenta. 
Segundo Eduardo, *ainda que o Brasil importasse mensalmente um contêiner com 340 sacas, por exemplo, ainda assim o volume no acumulado de 12 meses pouco movimentaria o mercado*. *_”5 mil sacas de cafés não faz mercado no Brasil. E não podemos esquecer que todos os países de café enfrentam problemas, e quando vemos a Colômbia, segundo maior produtor de café do mundo, importando café do Brasil entendemos que além de quantidade, temos muita qualidade sendo oferecida”_*, comenta. 
Os números do  Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé) referente ao mês passado, comprovam a participação efetiva da Colômbia nos embarques do Brasil. A nação vizinha adquiriu 866.268 sacas entre janeiro e setembro de 2021, apresentando significativo crescimento de 82,6% na comparação com as compras do produto nacional realizadas nos nove primeiros meses do ano passado. Desse total, 814,5 mil sacas são do grão verde, que é utilizado para consumo interno ou industrialização como café colombiano a ser comercializado.
*Conselho Nacional do Café desmente notícia de grande importação de café*
*_”O mercado de café é extramente sensível e fica muito mexido quando tem uma notícia como essa circulando. O Brasil segue produzindo café suficiente para atender mercado interno e externo”_*, afirma o Silas Brasileiro – presidente do Conselho Nacional do Café (CNC) ao Notícias Agrícolas. 
Silas comenta ainda que *o produtor neste momento enfrenta sérios problemas, como adversidades climáticas e elevados custos de produção.* *_”Os mais afetados, sem dúvidas, são os nossos produtores. Não bastasse a seca que comprometeu a safra 2020, as quatro geadas seguintes, sendo a mais grave a de 20 de julho, os elevados custos de insumos – que se não forem mantidos, no mínimo aos preços atuais – inviabilizará a nossa produção, temos que enfrentar notícias como essas”_*, destaca. 
Em *nota emitida na segunda-feira (25)*, o CNC destacou ainda que lamenta *”profundamente que Fake News* como essa ainda seja veiculada, visto que traz um grande prejuízo para a cadeia produtiva do café, com impacto de enormes dimensões no país e no mundo, já que o mercado oscila e especula. Afirmamos que o Brasil continuará sendo o maior produtor e exportador de café do mundo, com condições de atender não só ao mercado externo, mas também de abastecer o consumo interno.” 
Por: Virgínia Alves
Fonte: Notícias Agrícolas

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