Folha de S. Paulo
06/12/14
Dois ícones das bebidas brasileiras, o café e o suco de laranja, estão sofrendo forte concorrência de novas bebidas, tanto no mercado interno como no externo.
Isotônicos, energéticos, achocolatados, água de coco, água com sabores, sucos de multifrutas e água normal estão nessa lista.
Um dos destaques, no entanto, é o tradicional chá. Enquanto o consumo mundial dessa bebida cresce 6% ao ano, o de café tem evolução de apenas 2%. Já a demanda mundial por suco de laranja recua 1% ao ano.
Dois motivos levam a essa perda de participação dos dois tradicionais produtos brasileiros. Primeiro, a propaganda contra componentes considerados não benéficos à saúde nesses produtos -principalmente contra as calorias do suco-, sem que houvesse um destaque no lado positivo deles.
Em segundo lugar, o setor de bebidas evoluiu muito. Essa evolução trouxe inovações em diversas áreas, enquanto café e suco de laranja demoraram para reagir.
Ross Colbert, do departamento de bebidas do Rabobank International, diz que há um aumento de consumo de café nos países emergentes, mas a bebida ainda está bem distante do consumo de chá nos países asiáticos. Já nos países industrializados, o chá passa a ser uma nova opção como bebida saudável.
Colbert aponta que o chá ainda é pouco competitivo na América Latina. Em média, os consumidores tomam 28 xícaras por ano, bem abaixo das 373 de café.
Na Ásia, no entanto, o café tem um longo caminho a percorrer para disputar com o chá. Os asiáticos consomem, em média, 187 xicaras de chá por ano e só 27 de café.
Nathan Herszkowicz, diretor-executivo da Abic (Associação Brasileira da Indústria de Café), diz que desde 1997 a indústria de café percebeu que o chá pode ser um novo concorrente do café. “É um produto para ser olhado e não pode ser desprezado”, afirma Herszkowicz. Ele diz, no entanto, que o crescimento do chá, no caso do Brasil, se dá sobre uma base menor de consumo, enquanto a evolução da demanda do café é mais difícil porque já está em 98% dos lares brasileiros.
AGILIDADE
A favor do café, Cobert diz que é mais fácil os consumidores de chá mudarem para o café do que ocorrer o contrário. Mas Herszkowicz afirma que a indústria de chá foi mais ágil do que a de café quando se trata de inovações, inclusive com produtos que atraem até os jovens.
O setor acrescentou sabores, novas opções de consumo -como o produto gelado- e novas embalagens.
Inovação e demanda por novas bebidas colocaram também as principais multinacionais do setor de alimentos no mercado de bebidas.
O setor de café está reagindo, e a oferta da bebida em monodoses (doses únicas), que cresce rapidamente, é uma resposta, diz o diretor-executivo da Abic. Ibiapaba Netto, diretor-executivo do CitrusBr, entidade que congrega produtores e exportadores de suco de laranja, concorda com Herszkowicz e diz que um dos pontos de avanço das indústrias de bebidas é a inovação. E o chá conseguiu inovar.
Além disso, o chá está dentro de um dos segmentos que mais crescem entre as bebidas, o de água. O chá é uma dose de água acrescida da matéria-prima com sabor.
Como tendência, portanto, esse crescimento faz sentido. E a disponibilidade do produto tanto quente como frio é mais um atrativo para o consumidor, segundo Netto.
O que os setores de suco e de café não podem permitir, no entanto, é que essas duas bebidas virem um subproduto de outras categorias.
Suco e café devem se manter como bebidas tradicionalmente conhecidas, segundo ele. Uma das saídas para que isso continue a ocorrer é a colocação de produtos de qualidade no mercado. E isso as indústrias vêm fazendo, diz.