HOJE E HÁ DOIS ANOS Por Rodrigo Costa

A economia chinesa cresceu menos do que o estimado no primeiro trimestre do ano, dado econômico divulgado na madrugada da sexta-feira brasileira e americana que fez com que os investidores colocassem o pé no breque de novo.


O alerta do FMI aos países exportadores de commodities sobre a expectativa de preços mais baixos das matérias-primas também ajudou os baixistas.


O resultado foi um encarecimento dos juros (yields) dos títulos europeus, que sempre apanham mais do que as demais, com as bolsas escorregando de 3% a 5% no velho continente, e 2% de baixa nos Estados Unidos – a ultima também “ajudada” pelo comentário de Bernanke de que a economia está longe de encontrar uma recuperação sustentável.


Com este pano de fundo e uma proximidade da safra-nova brasileira, o café arábica em Nova Iorque caiu US$ 7.01 por saca – o mesmo tanto que em São Paulo. O robusta em Londres conseguiu achar suporte encerrando a semana de lado.


O fluxo de negócios no físico melhorou, principalmente no Brasil onde a oferta de produtores enfraqueceu um pouco mais os diferenciais permitindo aos exportadores e dealers colocar compras nos livros. Torradores também participaram do mercado, mas não para volumes significativos.


Nas outras origens notou-se também um enfraquecimento do basis, sinal que preocupa os altistas apesar da bolsa estar se mantendo ao redor de US$ 180 centavos por libra neste instante.


Ouvi nesta semana um comentário comparando o cenário atual com o mesmo de dois anos atrás, quando estávamos na boca de uma safra-brasileira grande e muitos no mercado estavam baixistas por causa disto. Na época (coincidentemente) fiz uma palestra no Seminário do Guarujá apontando para uma alta dos preços justificando a visão com alta utilização dos certificados, spreads levemente mais firmes, e principalmente em função dos diferenciais de cafés suaves estarem completamente descolados do “C” – em  altas históricas (Colômbia por exemplo negociava a 100 centavos de prêmio sobre a bolsa).


Hoje a situação é apenas parecida no quesito de estarmos na entrada de outra safra grande no Brasil.


De positivo temos estoques mundiais do arábica equilibrados e com pouco espaço para perdas de produção e fundos com uma posição próxima de recorde vendida. No que se refere aos diferenciais vemos apenas os cafés colombianos com preços longe do referencial de bolsa, e um pouco o de Brasil distante dos níveis baratos que muitos compravam até 1 ano atrás. No mais há uma estagnação do uso dos certificados da ICE, e muito mais gente altista do que baixista – o que é razoável assumir que há mais gente do ramo comprado no mercado (a não ser que alguém seja maluco de estar bullish e vendido ao mesmo tempo).


Por fim os níveis de fixação de origens para o período é percebido pelos participantes estar menor do que o normal, e diferentemente de dois anos atrás a indústria tem uma cobertura melhor do flat-price.


Resumindo não dá para falar que a situação é igual, até por também estarmos sendo surpreendidos pelo alto consumo de robusta em detrimento do arábica.


A proximidade do primeiro dia de notificação e o alto número de contratos em aberto está inchando o volume negociado dos futuros, com a atividade de spread dominando as sessões.


Aos altistas para o curto prazo resta a esperança do maio/julho ter estreitado para menos de US$ 1 centavo por libra e de estarmos no começo da temporada de frio no Brasil que a qualquer momento pode provocar uma cobertura da posição dos fundos.



Uma excelente semana a todos e muito bons negócios.


*Rodrigo Corrêa da Costa escreve este relatório sobre café semanalmente como colaborador da Archer Consulting

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