Histórico café São Luiz em Natal

Por: 24/06/2007 05:06:19 - Diário de Natal

Herói da resistência para evitar a derrocada


Enquanto muitos anunciam a derrocada do chamado Centro de Natal, outros se negam a fechar as portas e teimam em investir na região por acreditar que o bairro ainda carrega e continuará carregando por muitos anos o status de ser o “grande ponto” da cidade. Um exemplo clássico dessa resistência é o revitalizado e histórico café São Luiz, localizado na Avenida Princesa Isabel.


Embora o cenário seja favorável para o fechamento de vários empreendimentos, tendo em vista o conforto e as facilidades de acesso aos similares situados nos grandes shoppings, alguns desses antigos negócios chegaram a estabelecer uma identidade cultural com os freqüentadores tão forte que a tradição acaba superando as dificuldades do mercado moderno.


E dentro desse contexto histórico-cultural destaca-se, no Centro, um local impar na cidade, onde se discute de tudo, mas não se briga por nada. Ambiente de pura nostalgia que testemunhou a transição do comércio da Ribeira para o Centro, passou pela 2ªGuerra Mundial, vivenciou a ditadura militar e repercutiu a ida do homem à lua. Também presenciou o retorno da democracia por meio da abertura política no início dos anos 80 e se rendeu aos caprichos da tecnologia da virada do milênio.


Considerado um point há muitos anos, nasceu junto com a torrefação São Luiz, que foi fundada em 1937, por Luiz Eugênio Ferreira Veiga Filho. O empreendimento tinha o objetivo de funcionar como ponto de degustação do novo café que surgia na praça. A torrefação durou até o início dos anos 90, quando a família decidiu fechar a empresa permanecendo apenas a cafeteria, que teve que trocar de fornecedor.


Nos últimos anos, o cafezinho comercializado mudou de santo.. Agora é Santa Clara, mas os freqüentadores afirmam que a qualidade não caiu. Contudo, o nome do estabelecimento manteve-se como o original.


Recentemente, o estabelecimento passou a ser administrado por André Ximenes que pertence à terceira geração dos Veiga. ‘‘Assumimos a administração em março e resolvemos revitalizar o estabelecimento com uma reforma que durou todo o mês de abril, o que deixou muita gente órfão. Mas a loja reabriu com tudo que tinha antes, incluindo a parte de tabacaria, não deixando a desejar para qualquer café de shopping. O interessante é que sempre comentam que o movimento no Centro está acabando, chegaram a criticar o investimento, mas o que percebemos é que a movimentação no Centro parece não ter sido alterada como alardeiam por aí. Tanto que a clientela tem até se renovado bastante’’, disse André Ximenes.


AGENDA


De segunda a sábado, o café recebe a visita de várias pessoas que vão desde intelectuais, políticos e artistas até o simples engraxate. O auge desse encontro acontece por volta das 10h quando o balcão fica lotado, os bancos da calçada cheios, além dos vários grupos que se formam nas proximidades. Um momento empírico de deixar qualquer historiador ou antropólogo em êxtase com a ebulição de uma verdadeira memória viva que se forma no local. As reuniões são regadas ao tradicional jogo de “porrinha”, a leitura do jornal é obrigatória, também rola aquela paquera, cujas musas são cantadas nas rodas de samba e MPB. O assunto indispensável versa sobre política, economia e vida alheia, ou seja, fofoca.


De acordo com a atendente Rita Cardoso, que trabalha no café há 26 anos, o local funciona como uma espécie de terapia para muitas pessoas que viveram a história da cidade e hoje estão aposentados. ‘‘Tem gente que sobrevive porque o café existe, pois é aqui onde muitos preenchem o vazio da vida na companhia dos amigos de longas datas. Conheço alguns senhores que passam o dia aqui, inclusive, teve um que já teve infarto no banco, foi socorrido e quando teve alta do hospital antes de ir para casa passou por aqui primeiro. E mesmo com a despedida de muitos que faleceram, a clientela é renovada com o passar dos anos. Temos muitos idosos que freqüentam o estabelecimento, mas também aparecem muitos jovens que vão ficando e envelhecendo como os outros. Realmente, eu não vejo o Centro sem o café São Luiz’’, disse Rita Cardoso.
 
 

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