HISTÓRIA DO CAFÉ:O Café e a Província Fluminense no Brasil dos Braganças

O Café e a Província Fluminense no Brasil dos Braganças

Maria I (1777-1816); João VI (1816-1826); Pedro I (1822-1831); Pedro II (1840-1889)


Gênesis do Café

Tudo começou nas montanhas da Etiópia, Arábia Saudita ou Pérsia, não se sabe ao certo, antes do século 5 d.C., onde o Cahue = força/vigor em árabe que é o nome do café, chamou a atenção de um pastor de cabras, pois os animais comiam, vorazmente, os frutos vermelhos de um arbusto. Mais tarde, os grãos de café eram transformados em uma pasta misturada com uma espécie de manteiga. Daí foi para a Arábia onde os grãos eram torrados, reduzidos a pó num pilão e este pó era misturado com água fervente, como o café turco que, ainda hoje, é feito pelos descendentes de árabes no Brasil e servia como tônico revigorante para os enfermos debilitados. No final do século 15, em Meca, surgiram os primeiros locais públicos de venda de café. Essas casas de café aparecem também em Constantinopla onde o sucesso é tão grande que os pregadores arengavam contra o Carvão, (café torrado) pedindo aos fiéis que abandonassem as casas de café e voltassem para as Mesquitas. Daí, o café chega a Veneza, a bordo das naus dos comerciantes, onde é modificada a maneira de fazer o café, pois, aos venezianos, não agradava a maneira turca e eles alteram o preparo para adaptá-lo ao seu gosto: os grãos torrados, e moídos, são colocados num filtro aonde é derramada a água fervente sobre o pó que é filtrado. Essa maneira de preparar o café cai no gosto geral e o café vira moda na Itália e aparecem os salões de café, com instalações sofisticadas para reuniões de amigos; Carlo Goldoni, em 1750, faz a peça La Bottega del Caffé em sua homenagem. O café vai para a França e criam-se os saraus literários em torno do café. Até Luís XV era um apreciador e gostava de preparar o seu próprio café. Na Alemanha o sucesso é tão grande que Johann Sebastian Bach compõe, em 1732, a cantata Kaffee-Kantate: “Ah, como é doce o seu sabor ! Delicioso como milhares de beijos, mais doce que vinho moscatel ! Eu preciso de café ….”. Na Inglaterra as coffe houses não se popularizam e se mantém a primazia inconteste do chá.

Em 1820 o químico alemão Friedlieb Runge isolou, no grão de café, o princípio ativo que ele batizou de cafeína, ou seja, algo encontrado no café. No séc. XIX a cafeína, (que aparece também no chá e cacau), é a droga que, segundo alguns, tornou o mundo moderno possível, pois ajudou o homem a se enquadrar no ritmo da luz elétrica permitindo o trabalho num ciclo dominado pelo relógio e não mais no ciclo primevo das estações do ano com sua alternância de noite e dia. No séc. XXI é a droga energética que conquistou o mundo e pelo consenso médico atual a cafeína interfere na adenosina que é o recurso químico natural do corpo humano que induz ao sono, pois estimula o sistema nervoso central e aprimora o desempenho físico, alem de diminuir a dor, evitar as enxaquecas, reduzir os sintomas da asma e elevar o ânimo.

A Implantação do Café no Vale do Paraíba Fluminense Os holandeses levam algumas mudas de café para o Sri Lanka e Java e, de lá, graças ao comércio das companhias holandesas, o café chega às Guianas aonde também chega pelas mãos dos franceses que começam a plantá-lo na Guiana Francesa e, para alguns, detém o mérito de tê-lo introduzido nas Américas graças ao comandante Desclieux que vem da França com várias mudas, que não resistem à longa travessia com exceção de uma única muda, que fora regada pelo comandante durante a viagem. Está preparado o cenário para a chegada do café no Brasil, com um toque de aventura galante, pois se diz que, em 1727, o sargento-mor português, Francisco de Mello Palheta consegue as mudas proibidas, graças ao apoio romântico de Madame d’Orvilliers que lhe dá sementes de cafeeiros escondidas do marido, o Governador da Guiana Francesa, e que o oficial faz plantar no Pará. Algumas mudas são transportadas para o Maranhão onde se aclimatam esplêndidamente, permitindo a exportação para Portugal onde é protegido por decreto de João V que determina que no reino, só entra café do Maranhão. É o incipiente início da formidável aventura econômica do ouro verde, do Brasil Império no século XIX, na província fluminense.

Entre 1760 e 1762 foi trazido, do norte para o Rio de Janeiro, pelo desembargador João Alberto de Castelo Branco, mudas de Café que ele ofereceu ao Governador Geral, Gomes Ribeiro de Andrade, Conde de Bobadella. Dessas mudas só 4 vingaram: uma na casa do Castelo Branco, outra no Convento de Santa Teresa, a terceira no Convento dos frades Barbadinhos, à rua dos Barbados e a última, na propriedade do holandês João Hoppman. Das mudas plantadas pelas freiras de Santa Tereza, pelos frades Barbadinhos e de João Hoppman saíram em 1780, as sementes para as plantações na zona rural da Corte, nas fazendas do Capão do Bispo, da Mendanha e Campo Grande. O padre Antonio Lopes da Fonseca e D. Joaquim Justiniano, bispo do Rio de Janeiro, foram grandes difusores da cultura cafeeira; o 1o com extensa plantação em sua fazenda da Mendanha e o 2o distribuindo sementes para João Lopes, de São Gonçalo, subdistrito de Niterói e para o padre Couto, da localidade do Caminho de Campo Alegre que, mais tarde, passa a se chamar Rezende, onde o café foi largamente cultivado, a partir de 1783, nas regiões de Morro Redondo, Ponte Alta, e Taquaral. Em 1802, as escrituras já se referem à compra e venda de terras e cafezais como aparece na venda da fazenda Ribeirão Raso, feita por João Leite da Silva para Antonio Pereira Leite. Da fazenda de Antonio Bernardes Bahia, em Rezende, saíram as primeiras sementes para o início da cultura cafeeira em Bananal e Campinas, SP. Saint Hilaire relata que, em Macaé, se cultiva o café por dar menos trabalho que a cana de açúcar e exigir menos escravos.

Em 1810, ou 1812, D. João VI mandou vir d’África, sementes de café e as distribui entre os fidalgos que tinham terras no vale do Paraíba e norte de São Paulo. Ele mesmo, com as próprias mãos, dava os pequenos sacos com as sementes e estimulava o plantio, num gesto precursor de uma futura era de extraordinária riqueza para a província fluminense. Esse Rei português, tão injustiçado pela história oficial, pressentira o potencial de desenvolvimento e a importância do Brasil para o futuro de seu reino.

Os presentes de sementes e mudas eram entregues por D. João VI aos fidalgos mais amigos;

# Bernardo Clemente Pinto, Conde de Nova Friburgo, com 2 mudas de café vindas de Java, trazidas por colonos suíços.

# Braz Carneiro Leão, Marquês de Baependy, e seu irmão José Inácio Nogueira da Gama, foram os que mais receberam as mudas entregues pelo Rei. José Inácio, 20 anos após, colhia em suas terras 18.000 arrobas de café.

Do êxito das plantações de Rezende vai o café para as Zonas da Baixada, Vale do Paraíba, e a zona montanhosa do centro da província fluminense e começam a surgir os extensos campos verdejantes dos cafezais que, no apogeu do 2o Reinado, chegaram a conter 500 milhões de pés de café, o ouro verde.

O Embaixador Raul Fernandes, meu primo, que foi 2 vezes Ministro das Relações Exteriores (1946-51 e 1954-55), filho insígne de Vassouras, RJ, assim fala do café:

“o café, no Vale do Paraíba, era uma das colunas mestras da economia do Império; as outras esteiavam-se nos canaviais de Campos da Bahia e de Pernambuco. A riqueza das 3 províncias não era só o dinheiro com que elas abasteciam o Tesouro Imperial, mas, também, as elites formadas na sua opulência para as artes, a ciência, a política e que deram, nas últimas décadas do Brasil monárquico, o maior contigente para o verniz de civilização com que elas brilham na história nacional”.

A primeira referência sobre a entrada de café na cidade do Rio de Janeiro consta de um almanaque manuscrito do acervo da Biblioteca Nacional que informa:

Em 1792 entraram na cidade, tanto de fora como do Recôncavo, 160 arrobas de café.

A primeira remessa para o exterior só acontece em 1800, com a saída de 13 sacas de café. Em 1808, saem 8.000 sacas. Em 1810, exportam-se, 66.000 sacas. Em 1820, já são 97.000 sacas. Em 1830, são 484.000 sacas. Em 1840 são 3.463.000 sacas de café, que dão o impulso para Vassouras e Valença viverem o seu apogeu de quase ½ século de fausto, com luxo e requinte inigualáveis na história do Brasil.

No 2o Reinado, foram plantadas novas espécies de cafeeiros: o bourbon, vindo da ilha do mesmo nome; o botucatú; o café amarelo; o guatemala; o maragogipe (com as mais altas cotações da praça, mas os pés tinham uma frutificação irregular e com carga menor) e o libéria (com rosetas muito espaçadas e poucos caroços em cada uma delas e com casca grossa e aquosa o que tornava a secagem do grão muito demorada) e, por último, o montanhas azuis.

De todas as espécies, a chamada crioulo, que viera da costa africana, foi sempre a favorita por ser mais resistente, de maior duração, e com a produção mais abundante e, junto com a espécie bourbon, se constituem em 90% das plantações da região, no ocaso do Império. O Cafeeiro é uma planta perene, isto é, uma vez bem tratada não precisa de plantio anual, produzindo continuamente por muitos anos e germina em vários tipos de terra, quando se evita a erosão. Em compensação, é frágil, sensível às geadas, aceita temperaturas limites de 5° a 33°, precisa de chuvas regulares, não produz imediatamente após o plantio, demora de 4 a 5 anos, necessita de muito mais capital inicial que a cana de açúcar e muita mão de obra para o seu trato.

Cronologia da implantação do café e a sociedade dos Barões do Café fluminenses.

Foi essa a rotina dos fazendeiros pioneiros da região fluminense: primeiramente, pôr a mata virgem abaixo, depois, plantar, colher, exportar. Depois produzir muito e dispender pouco, consigo mesmo e com a família, apenas o estritamente necessário, o imprescindível, e assim conseguia-se alcançar a abastança. E, então, vinha o palacete nos fundos de uma extensa fila de palmeiras imperiais, cercado de jardins, com capelão e mordomo como os barões medievais, porém, sem nunca esquecer a vida dura do passado que era sempre recordada com emoção, como nos relatos do 2o Barão do Rio das Flores, primo irmão de meu bisavô materno. As fazendas tinham, em média, 120 alqueires, sendo o alqueire equivalente a 48.400 m2. Para os grandes proprietários as fazendas tinham, em média, de 250 a 600 alqueires e os latifundiários possuíam 2 sesmarias, ou mais, que tinham, cada uma, a área em torno de 1 légua quadrada, que eqüivale a 4.356 hectares.

1727: o café chega no Brasil, pelas mãos do sargento Francisco de Mello Palheta, com plantações no Pará, daí para o Maranhão, donde é exportado para Portugal protegido por decreto de D. João V que apenas permite o café do Maranhão em Portugal.

1760/62: o café chega ao Rio de Janeiro pelas mãos de João Alberto de Castelo Branco que oferece algumas sementes ao Governador Geral, o Conde de Bobadella. Só 4 mudas florescem: na casa do Castelo Branco, na casa de João Hoppman, no Convento de Santa Teresa e nos Frades Barbadinhos.

1780: o café vai para a região rural, próxima à Corte, começando pelas plantações de Rezende.

1792: é o 1o registro da chegada à cidade do Rio de Janeiro de café, são 160 arrobas.

1802: são exportadas para o exterior 50 arrobas de café.

1808: são exportadas 8.000 sacas de café.

1810: são exportadas 66.000 sacas de café.

1810/12: D. João VI manda trazer sementes de cafeeiro d’África e as distribui pelas próprias mãos aos fidalgos proprietários de terras, Conde de Nova Friburgo, Marquês de Baependy, e outros.

1817: John Luccok registra sua visita às fazendas de café no interior fluminense.

1822: é registrada a 1a geada na lavoura de café.

1825: o estado de São Paulo produz 250 contos de réis de café. Porém, o grande problema paulista era a distância dos portos e o altíssimo custo do transporte da produção que eqüivalia a quase 70% do valor de venda da arroba em 1830 o que quase inviabiliza o retorno financeiro.

1828: é o primeiro ano que a província fluminense registra uma produção de café maior que a de açúcar. São 5.122 contos de réis de café contra 3.466 contos de açúcar.

1835/36: o Estado de São Paulo registra uma produção de 1.000 contos de réis de café.

1850: o Brasil já é o maior exportador mundial, são exportadas 213.000 toneladas de café das quais 133.000 toneladas, ou seja, 62% eram fluminenses. Com destaque para Pati do Alferes, Paraíba do Sul, Barra Mansa, Rezende, Valença e Vassouras, esta, a verdadeira capital do café na época em que o Brasil era o Vale Fluminense.

1852: a produção fluminense foi de 7.193.000 arrobas, ou seja, 77,10% da produção brasileira.

1856/1859: a produção fluminense de café neste período foi de 63.804.764 arrobas de café, contra 9.904.705 arrobas de São Paulo e de 6.333.493 arrobas de Minas Gerais, ou seja, os fluminenses produziram, sózinhos, 4 vezes mais que São Paulo e Minas Gerais juntos !!!!!

1860: a produção fluminense foi de 8.746.361 arrobas, ou seja, 81,57% da produção brasileira.

O apogeu da produção cafeeira fluminense foi de 1830 a 1875 e, nesses 45 anos, eqüivaleu, em média, a 65% da produção brasileira. Essa produção gerou uma extraordinária riqueza para os fazendeiros fluminenses que souberam aproveitá-la muito bem, construindo suas casas, como palácios rurais, e mantendo um trem de vida onde, o luxo, o requinte e o fausto eram os apanágios corriqueiros desses ricos fazendeiros que são a grande maioria dos Barões do Café, agraciados por D. Pedro II no 2o Reinado, (1840-1889). São eles que financiam a guerra contra o Paraguai e são o esteio do Império se constituindo numa aristocracia genuinamente rural, de caráter imperial. Eles são conseqüência direta do estímulo premonitório de D. João VI, distribuindo as sementes que mandara vir d’África e da facilidade com que a planta se desenvolve, inicialmente, nas terras de Rezende e daí, para o Vale Fluminense. Oliveira Viana assim descreve o patriciado fluminense:

Não tinha esse, o fluminense, nem o orgulho do paulista, nem o democratismo do mineiro. Era mais fino, mais polido, mais socialmente culto pela proximidade, convívio e hegemonia da Corte, cuja ação o absorve. O polimento urbano lhe corrigiu a rusticidade e pela finura, pelo senso do meio-termo, acabou por desempenhar, no Sul, o papel dos atenienses da política e das letras.

A fazenda de café fora indispensável àquele resultado de elegância espiritual e polimento urbano. Dos meados dos oitocentos, sobressaem já os proprietários enriquecidos pela lavoura cafeeira. Eram palacetes cercados por jardins, prados à entrada, com pequenos lagos com renques de palmeiras imperiais soberbas que conduziam os visitantes à porta do solar.

A rotina da vida numa fazenda de café começava cedo, antes das 5 horas acordando as pessoas e predispondo-as para a jornada. As festas são memoráveis. Delas participam convidados da corte e vizinhos, também proprietários. Os banquetes tinham uma vintena de pratos diferentes, com vinhos raros, importados da França, que eram guardados nas adegas das casas, algumas famosas como a do Visconde do Rio Preto, em sua imponente fazenda Paraiso, a jóia de Valença que é emblemática como referência histórica para o período do fausto cafeeiro da região fluminense:

Em uma rua de 400 metros, ladeada por palmeiras imperiais que se abrem no final, em gracioso semicírculo, encontra-se o palacete com a placidez de um solar. Dentro resplandece o luxo, no estilo do mobiliário, na pureza dos cristais e dos espelhos, nas finas tapeçarias, na sobriedade dos damascos, nas pratarias lavradas. Galerias de quadros de valor, museu de raridades, tudo continha a Paraiso do Visconde. Há no térreo: 2 salões, de bilhar e de visitas, 4 quartos, escritório, biblioteca, sala de almoço, copa, salão de costura, capela e várias dependências: banheiros, dispensa e cozinha. No sobrado, salão de recepções, alcançado por majestosa escada (cujos lados no térreo são ornamentados por dois negros de bronze, de tamanho natural, sustentando nas mãos ricos candelabros) e que bifurca para a esquerda e direita, há ainda, sala de armas, sala de jantar, vasto dormitório, alcova, 20 quartos para hóspedes e vários banheiros. Na fazenda trabalhavam 500 escravos e havia uma banda de música com 50 figuras. A casa começou a ser construída em 1845 e tinha iluminação a gás que só chegou a São Paulo em 1870. Domingos Custódio Guimarães, nascido em 1800, 1o Barão de Rio Preto a 6/12/1854 e Visconde do Rio Preto a 14/3/1867, é um perfeito exemplo do grand seigneur do patriciado fluminense. Ele ficara riquíssimo no comércio da carne mineira para a cidade do Rio de Janeiro com o seu sócio João Francisco de Mesquita, Marquês de Bonfim em 1872 que foi um dos signatários, quando era Visconde, do atestado para Pedro II recomendando João Gualberto de Carvalho a receber o título de 1o Barão de Cajurú, em 1860. Desfeita a sociedade, resolveu investir em terras para o plantio de café. Para tal, mandou o seu sobrinho, Joaquim Custódio Guimarães, procurar fazendas e foram compradas 13 fazendas: Sta. Quitéria, Montacavalo, Mirante, São Bento, Sta. Genoveva, Jequitibá, Criméia, São Leandro, São Policarpo, União, São José, e 2 mais, compradas de João Pedro Maynard (que fora companheiro de Dom Pedro I e Dom Miguel, nas farras da juventude), a Loanda e a Paraiso, que foi comprada por indicação de Domingos Antonio, (futuro sogro de Joaquim) que é filho de João Ribeiro do Valle, o qual é irmão do meu 6o avô, Felisberto Ribeiro do Valle, ambos netos de André do Valle Ribeiro. As fazendas do Visconde produziam 60.000 arrobas de café o que daria com a saca vendida ao preço médio de R$ 150 e com o US$ a R$ 3, um resultado anual de US$ 735.000, uma fortuna para o custo de vida da época!. Com a morte do Visconde a 7/7/1868, que deixa uma fortuna de 4.000 contos de réis, (equivalentes a 3.600 kg. de ouro ou R$ 140 milhões, considerando a gr. de ouro a R$ 39), as fazendas vão para seu filho, o 2o Barão de Rio Preto a 23/09/1874 que é casado com uma filha do marquês de Bonfim, que mantém a Paraiso até sua morte em 1876. Seu filho, Domingos, a mantém até 1895, quando a vende para o sogro, o Barão d’Aliança, (sobrinho do 1o Barão do Rio das Flores que é cunhado de João Antonio de Avellar e Almeida e Silva, meu bisavô), que a mantém até 1912, quando a vende para o Major Galileu Belfort de Arantes, sobrinho do Visconde de Arantes meu tio trisavô e neto do 1o Barão de Cabo Verde, meu tio tetravô, Antonio Belfort de Arantes e sua mulher, Maria Custódia Ribeiro do Valle que é irmã de Ana Inácia Ribeiro do Valle, mulher de João Gualberto de Carvalho, 1o Barão de Cajurú a 30/06/1860, meus tetravós. Hoje a Paraiso não é mais de café, mas de gado leiteiro e ainda mantém muito do seu esplendor inicial, que tanta admiração causou em Taunay e no Conde d’Eu, e se mantém nas mãos de Arantes, trinetos do 1o Barão de Cabo Verde.

A partir de 1870 as coisas começam, lentamente, a mudar na província fluminense. A lavoura ainda tem produção expressiva tanto é que, de 1870 a 1881, os fluminenses produzem 1.398.990.752 de quilos de café o que é 1,7 vez mais que os 840.115.553 quilos produzidos por São Paulo, Minas, Espirito Santo e Bahia juntos, no mesmo período. Em 1872, Rezende produziu 500.000 arrobas de café, (cada arrôba = 14,7 kg.).

1879-1884: a província fluminense exporta o equivalente a 55,91% da produção brasileira.

1880: São Paulo tem a produção de café consolidada e dando lucro. O trabalho é apoiado no braço do imigrante que veio num total de 33.310 pessoas, entre 1822 a 1887 das quais, 28.840 italianos.

1886: é o 1o ano que a produção de café em São Paulo supera a produção de açúcar; o que acontecera 58 anos antes no Rio, em 1828. A produção paulista chega à média de 60.043.000 arrobas/ano no período de 1928/32, entretanto, o crash da Bolsa de Nova Iorque em 1929 devasta a elite cafeeira paulista que queima as safras sem compradores para evitar o custo da estocagem.

1894: a produção fluminense despenca para 20% da produção brasileira.

Diz Viçoso Jardim:
A situação Fluminense teve a alimentar-lhe o berço, o café; cresceu com ele e é ainda no café que se nutre o seu progresso.

O desgosto dos proprietários, novos e antigos, diante dessa feroz decadência teve outra conseqüência, mais fundamente prejudicial à lavoura: os fazendeiros do Império moravam em suas fazendas, nelas procuravam ter todo conforto e vangloriavam-se da sua profissão; posteriormente não. Os que podiam iam morar nas cidades, colocando administradores em seu lugar, um filho, um genro, um estranho, freqüentemente incompetente e indiferente à terra. Desapareceram os antigos predicados que caracterizavam os velhos fazendeiros: a rija resistência, a tenacidade, as ambições de um título nobiliárquico; o amor apaixonado àquele pedaço de terra. Os fazendeiros do Império tinham orgulho de sua profissão, recebida como um legado que deviam honrar, como seus pais e seus avós fizeram percorrendo com orgulho, prazer e alegria as suas terras. A decadência expulsa do lugar os proprietários, eles “queimam“ suas fazendas de terras exaustas por qualquer preço aviltante e as famílias se dispersam e, com o passar do tempo, esmaece e acaba a memória deste passado, o conhecimento desta época de fausto e requinte, que teve uma qualidade inigualada em qualquer outra província brasileira nos 67 anos do Império.

O paulista Martinho Prado expressa muito bem o risco da lavoura do café ao dizer:

Lavoura essa que, se dava a casaca tirava, também, a camisa.

E há o dito popular: Si estiveres morto, pega o teu porco. Si estiveres quebrado, pega o teu gado.

Mas com o café, não tenho fé.

Conclusão

Há uma correspondência, inequívoca, entre a força da província fluminense com o seu poderio econômico alicerçado no café, e a força do Império Brasileiro dos Braganças, pois enquanto a província foi poderosa o Império brilhou e quando a província enfraquece o Império acaba.

Hoje a região fluminense de Vassouras e Valença é uma sombra do que foi, não mais se avistam os extensos cafezais, os palacetes das cidades estão em ruínas e as poucas soberbas sedes de fazenda que resistiram à decadência e aos cupins estão, todas, nas mãos de novos proprietários que, em alguns casos, fizeram intervenções, restaurando parte do esplendor do passado, porém em outros casos, nada foi feito e as sedes estão em plena decadência, arfando nos estertores finais de uma centenária trajetória que conheceu um formidável tempo de prestígio e glória para a sociedade agrária brasileira. O governo estadual deveria valorizar essa região cujo potencial de atração é imenso e transformá-la em uma área de preservação histórica, e vigoroso polo turístico-cultural, para o turista estrangeiro, principalmente o europeu, que já conhece e admira essas casas solarengas desde o século XIX, nesta região que pode ser chamada, sem exagero, de Vale do Loire Brasileiro.

Fontes:
O Vale do Paraíba, Eloy de Andrade, Real Gráfica, Rio de Janeiro, 1989. Essa fonte foi a coluna mestra desse trabalho, tanto pelas suas informações técnicas, quanto pela sensibilidade com que retrata o passar do tempo na província fluminense e sua decadência inexorável.
História do Café no Brasil, Afonso de E. Taunay.
O Homem e a Serra, Alberto Ribeiro Lamego, IBGE, 1950.
A Cidade e o Planalto, Gilberto Leite de Barros, São Paulo, 1967.
História de Valença, 1803-1924, Luís Damasceno Ferreira, 1925.
As Barbas do Imperador, Lillian Schwarcz, São Paulo, 1996.
Ensaio Geral, 500 Anos de Brasil, Heródoto Barbeiro, Bruna Cantele, São Paulo, 1999.
Titulares do Império, Carlos Rheingantz, Rio de Janeiro, 1960.
Anuário Genealógico Brasileiro, Vol. IX, (Penúltimo), 1947.
500 Anos de Sabor, Eda Romio, São Paulo, 2000.
O Jornal, Júlio do Valle Bittencourt, Rio de Janeiro, 15/10/1927;
VEJA, 13/10/04, pg. 104, Editora ABRIL.
National Geografhic, January, 2005, Why we love Caffeine, pgs 3 a 32.


Anibal de Almeida Fernandes, Fevereiro, 2005.


Fonte: http://www.jbcultura.com.br/Anibal/ocafe.htm

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