HISTÓRIA DO CAFÉ – Bauru a Metrópole noroestina

Por: 02/08/2009 09:08:58 - Jornal da Cidade - Bauru

Após a inauguração dos primeiros 48 quilômetros da Estrada de Ferro Noroeste
do Brasil (NOB), Bauru começou a viver uma vida de metrópole. Segundo relata
Lúcia Helena Ferraz Sant’Agostino em seu trabalho de mestrado, malas postais,
cargas, passageiros e, sobretudo, caixeiros-viajantes começaram a chegar na
cidade. Os hotéis começaram a receber pessoas importantes. Como conseqüência, os
investimentos na cidade cresceram com uma rapidez incrível.


Dentre as conquistas desse época, Lúcia Helena cita a fundação da Sociedade
Italiana “Dante Alighieri”, Coletoria Federal, instalação provisória da cadeia
pública, construção de mais hotéis, olarias, serrarias, pequenas indústrias de
ferraria, móveis, colchões, bebidas, inauguração do Cemitério da Saudade, do
Paço Municipal, do vice-consulado italiano, serviço de água e esgoto, luz
elétrica, cinema, instalação da Comarca de Bauru, construção do hospital Santa
Casa de Misericórdia e do primeiro grupo escolar.


Isso para citar os avanços ocorridos até 1912. Lúcia Helena cita uma
monografia de 1913 intitulada “O Estado de São Paulo e seu municípios” que assim
descreve Bauru: “Bauru é um centro econômico de notável importância (…) pode-se
considerar o centro e a capital da zona ocidental do grande Estado de São Paulo
(…)”


Entre as décadas de 1920 e 40, Bauru decola com os 100 milhões de pés de café
plantados na região noroeste do Estado. Funcionários e suas famílias são
transferidos para cá e passam a ser muito bem pagos. A cidade ganha um “parque
industrial”. Inauguradas em 1921, as oficinas da NOB constituem-se no cartão
postal de Bauru, junto com o pátio e o edifício da nova estação ferroviária, que
congregará as três ferrovias, a partir de 1937. Adilson Camargo
 

Ferrovia leva cidade do nada ao tudo

Em 1904 foi
definida a construção da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil; cidade de 500
pessoas passou a ter 10 mil Bauru foi uma cidade que cresceu muito rápido. Entre
seu surgimento e crescimento vertiginoso há um intervalo de poucos anos. De
acordo com o historiador e professor de história moderna e contemporânea João
Francisco Tidei de Lima, da Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Bauru,
essa é uma característica das cidades que foram beneficiadas por uma frente
pioneira. Segundo ele, existem poucas no Brasil que podem ser classificadas
dessa forma.


No caso de Bauru, o avanço ocorreu em função da versão paulista da “Marcha
para o Oeste” – movimento que incentiva a ocupação de terras ainda
desconhecidas. Em São Paulo, isso aconteceu no início do século passado.


João Francisco lembra que, até o fim do século 19, a região oeste do Estado
era praticamente desconhecida. Os mapas da época mostram um vazio que vai da
região central até o extremo oeste. Nessa área está escrito “terrenos
desconhecidos, povoados por índios”. E Bauru era uma das últimas povoações até
esse vazio. Fazia uma espécie de fronteira com o desconhecido.


Com a expansão da cultura do café, somada à chegada de milhões de imigrantes
à província paulista, o governo se vê obrigado a abrir mais fazendas e a ampliar
o sistema de transporte. E Bauru estava na rota desse avanço.


Em 1893, Bauru era apenas um bairro de Espírito Santo da Fortaleza. Depois
virou distrito. Em 1896, passa a ser município. Em 1900, chega um ramal da
Estrada de Ferro Sorocabana, vindo de Botucatu. Em 1904, decide-se no Rio de
Janeiro pela construção da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil (NOB) partindo de
Bauru. As obras têm início no ano seguinte. Uma cidade que tinha 500 pessoas
passou a ter 10 mil.


Em 1910, chega a Bauru a Companhia Paulista de Estradas de Ferro, que vinha
de São Paulo e passava por Dois Córregos, Jaú e Pederneiras. “Num intervalo de
dez anos, uma cidade que não tinha nada agora tem três ferrovias, vira um
entroncamento ferroviário”, observa o historiador. Bauru dá um salto em seu
desenvolvimento. “A cidade não era nada. De repente, tem tudo”, comenta.


Para João Francisco, foi uma transformação muito rápida, que é a
característica da chamada frente pioneira. “São poucas as cidades no Brasil que
passaram por isso, o que torna Bauru diferente da maioria dos municípios”, diz.
A chegada da ferrovia foi o grande divisor de águas em Bauru. Foi o que
impulsionou a cidade em vários aspectos.


Lidia Possas, coordenadora do Grupo de Pesquisa CNPQ Cultura e Gênero, da
Unesp de Marília, cita que a ferrovia era o grande instrumento do progresso
capitalista no começo do século 20. Segundo ela, era um sinal de modernização.
“A ferrovia acelera o tempo. Se antes tínhamos o tempo da carruagem, a ferrovia
vem para mudar não só a perspectiva do mercado, da troca de mercadorias, mas a
concepção de mundo. A ferrovia acelera o processo de conhecimento do mundo com
suas viagens rápidas”, diz ela.


Lidia lembra que a construção da Noroeste trouxe gente do Brasil inteiro para
cá. Mesmo depois de pronta, a ferrovia continuou abastecendo a cidade de
diferentes povos. Todos os dias, milhares de pessoas desembarcavam na estação
vindas de todos os cantos. Muitas acabaram ficando. Para Lidia, isso transformou
Bauru numa cidade eclética.


“Bauru é uma cidade de forasteiros e é preciso encarar isso como uma coisa
legal. Acho interessante a cidade se sentir assim porque provoca uma postura
mais democrática”, sustenta. Na avaliação dela, no fundo, todos os moradores de
Bauru são forasteiros. “Mesmo quem nasceu aqui, tem o avô ou bisavô que veio de
fora. Isso aqui era terra de caingangues”, argumenta. Adilson Camargo


Fonte: http://www.jcnet.com.br/busca/busca_detalhe2009.php?codigo=162589

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