HISTÓRIA DO CAFÉ – A Opep do café

AGRICULTURA

Países produtores pretendem controlar preços
internacionais com a redução das vendas no mundo


Estela Caparelli



Os maiores produtores mundiais de café estão tentanto seguir a estratégia
adotada pela Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) para conter
a queda dos preços da commoditie no mercado internacional. Nos próximos dias 4 e
5 de abril, os membros da Associação dos Países Produtores de Café (APPC) vão
discutir em Londres um plano de redução da produção mundial a ser implementado a
partir de maio. O plano de retensão é o primeiro desse tipo lançado desde a
criação da APPC, em 1993.

Restringir a produção será a estratégia mais
radical já adotada pela entidade, presidida pelo ex-porta-voz da Presidência da
República, Sérgio Amaral. Até hoje, os 14 membros da associação – entre eles
Brasil e Colômbia – tinham apenas que respeitar metas de exportação para evitar
uma superoferta. O problema é que essas cotas raramente eram respeitadas. O
Brasil, o maior produtor e responsável por um terço de todo o café
comercializado no planeta, é um exemplo. O País teria que exportar apenas 15
milhões de sacas no ano passado, mas acabou vendendo 21 milhões. A decisão
provocou protestos por parte dos outros membros, principalmente da Colômbia, o
segundo maior produtor e arqui-rival dos brasileiros nessa área. “Como o
programa de metas de exportação não tem se mostrado eficiente, vamos discutir
alternativas para ordenar a oferta”, diz Roberto Abreu, diretor do Departamento
do Café, órgão ligado ao Ministério da Agricultura.



Até a semana passada, ninguém arriscava dizer se a fórmula de redução será
adotada pelos produtores. Mesmo assim, a simples idéia do plano de retensão
causava calafrios em muitos cafeicultores brasileiros. A reação pode soar
estranha vindo de um setor que foi historicamente beneficiado por intervenções
no preço por parte do governo. Afinal, o preço em março da saca do café em Nova
York no último dia 28 de março foi de 104,5 centavos de dólar por libra peso, um
valor 40% menor do que o registrado em maio de 1997, segundo Gil Carlos
Barabach, analista da consultoria Safras e Mercado.

Mas os produtores
temem que, mesmo com a alta do preço internacional, o Brasil saia prejudicado
frente aos concorrentes. Explica-se: México, Colômbia e Honduras já venderam
praticamente toda a sua última safra. Devem iniciar a próxima venda a partir de
outubro. Ou seja, eles não vão sair perdendo com uma restrição – simplesmente
por não terem o que contigenciar – e, de quebra, serão beneficiados pela alta do
preço do produto quando começarem a vender a próxima safra, quando provavelmente
o prazo para as restrições já terá expirado. Já o Brasil será pego de calças
curtas.

Quando o plano for realmente implementado, o País terá ainda uma
grande produção a ser exportada. Basta dizer que até março o Brasil terá vendido
14 milhões de sacas, um milhão a menos que sua atual cota de exportação. “A
estratégia da Opep atiçou os intervencionistas, mas já foi demonstrada que os
planos de retensão não são uma saída para o café”, diz Luiz Hafers, produtor de
café e presidente da Sociedade Rural Brasileira (SRB).


Volta ao passado. Ora, por que então o governo – que deseja incrementar o
saldo da balança comercial a qualquer custo – estaria apoiando uma idéia que
pode prejudicar as vendas do item que respondeu por 6% (ou US$ 2,5 bilhões) das
exportações brasileiras no ano passado? Simples: pretende-se vender pouco por um
valor mais alto. É um lógica que remonta ao início do século, quando o Instituto
Paulista do Café começou a proteger o produto que viria a financiar a
industrialização do Brasil.

Foi seguindo essa política intervencionista
que o governo coordenou a queima de milhões de sacas de café após a crise de
1929. Era uma maneira de evitar prejuízos maiores ao setor responsável por 55%
das exportações brasileiras. Foi apenas a partir de 1989, com o fim do Instituto
Brasileiro do Café, que o governo deixou de dar a mão ao setor. A última
tentativa de intervenção ocorreu em 1993, com um plano nos moldes daquele que
será proposto em Londres na próxima semana.


Fonte: http://www.terra.com.br/istoedinheiro/136/economia/eco136_06.htm

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