Carlos Lessa: Um café, por favor
Professor e economista
Rio – A economia do café escravo surgiu, física e espacialmente, na região onde estava a capital política do novo Estado. Ou seja, nas primeiras décadas do Século XIX, o Rio de Janeiro assiste à invenção do café como produto. O café não era produto do tráfico colonial, como o açúcar, mas, por ser mais barato, desalojou o chá como bebida estimulante.
Beber café associou-se à ideia da atividade de trabalho no mundo industrial. É erro considerar o café supérfluo. Tornou-se o terceiro produto do comércio mundial do Século XIX (1850), a partir da produção das fazendas escravagistas brasileiras, que uniram a terra que não tinha valor ao valor que era a mão de obra escrava.
café e algodão foram importantes commodities da Revolução Industrial. Curioso é que é muito mais difícil implantar uma plantação de café, que leva seis anos para dar a primeira safra, do que montar uma fábrica têxtil, que operaria em, aproximadamente, dois. O café esteve na base produtiva do Brasil independente. A unidade nacional está impregnada dele.
Ele é um investimento de longo prazo e que representava, nos primórdios, imobilização de capital enorme sobre a mão de obra escrava. A economia do café surge com financiamento capitalista complexo.
Numa situação mercantil também complexa, nasce como um subproduto da economia do ouro. Quem controlava essa economia era o comércio escravagista, que bancou, financiou a fazenda do café, em troca do privilégio de ser o comercializador do café.
A elite brasileira tem uma grande propensão a se modernizar, desde que mantenha o seu patrimônio. Manter a escravidão até quase o final do Século XIX, além de ser uma proeza geopolítica, é um insulto a nossa formação.