Veja o que pensa do prof. Geraldo Barros, titular de Macroeconomia e Agronegócio do Departamento de Economia, Administração e Sociologia da ESALQ/USP, palestrante do 16o Seminário Internacional do Café de Santos.
Para atender a crescente demanda mundial de café, o Brasil terá que aumentar sua produtividade, investir em tecnologia e na capitalização do produtor, se quiser manter seu market share. Nos próximos cinco anos, a demanda mundial deve superar a casa dos 120 milhões de sacas/ano, o que significa que o País tem que elevar o patamar dos atuais 40 milhões de sacas/ano. Embora haja tendência de redução do espaço do plantio do produto, especialmente no Estado de São Paulo, no qual o café vem sendo substituído pela cana-de-açúcar, este movimento de migração da trocas de culturas não representa ameaça concreta ao volume de produção nacional, trata-se de um ajuste temporário.
Esta é a opinião do professor Geraldo Barros, que apresentará a palestra “Agronegócio Brasileiro: uma Visão do Futuro Próximo”, dia 17, às 10h30, no 16o Seminário Internacional de Café de Santos, que será realizado de 16 a 19 de maio no Casa Grande Hotel, em Guarujá (SP).
Professor titular de Macroeconomia e Agronegócio do Departamento de Economia, Administração e Sociologia da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ/USP), onde atua há 34 anos, Geraldo Barros também é Coordenador Científico do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (CEPEA-USP), cuja finalidade é estabelecer conexões entre a universidade e o setor do agronegócio, por meio de convênios com instituições vinculadas ao setor como a Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F), a Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária (CNA), e a União da Agroindústria Canavieira (ÚNICA) entre outras associações.
1. Qual o panorama atual da demanda de café no mercado externo?
Segundo dados da Organização Internacional do Café (OIC), em 2005 o Brasil foi responsável por 30% da produção e exportação mundial do grão. Dos países produtores, é o que apresenta o maior mercado interno consumidor, superior a 15 milhões de sacas/ano. Dada a representatividade no mercado internacional, há boas perspectivas para o setor brasileiro.
As perspectivas de demanda do café são positivas. O consumo mundial no ano de 2005 foi estimado em 117 milhões de sacas, dos quais 30 milhões de sacas em países produtores e 87 milhões de sacas em países importadores. As projeções são de que a demanda ultrapasse os 120 milhões/ano nos próximos 5 anos. No entanto, a oferta é restrita (e os estoques estão baixos) e vai precisar de preços muito melhores para que a cafeicultura tenha uma expansão significativa mundialmente. A OIC projetou para 2006/07, que é um ano de ciclo de alta na produção de café no Brasil, uma produção mundial de 120 milhões de sacas para um consumo de 117 milhões. Os estoques em dezembro de 2005 fecharam em baixa em comparação com 2004. Na avaliação da OIC, os estoques em dezembro eram de 23 milhões de sacas nos países produtores e 19,9 milhões nos consumidores. Isso significa que não há espaço nem para gerar excedentes de produção e nem de pressão no preço no curto prazo.
O problema maior, no curto prazo, é o dólar porque limita a rentabilidade da cultura em reais e diminui nossa competitividade internacional.
2. O café perde espaço para o cultivo de outras culturas, especialmente a cana-de-açúcar no Estado de São Paulo. Qual sua análise?
Há tempos vem sendo reduzida a área de plantio de café no Estado de São Paulo. Primeiro, em razão dos baixos preços entre 2001 e 2003 e pela própria urbanização. No entanto, de uma safra para outra, o último levantamento da Conab (2006/07) revelou retração de 30%, mesmo havendo a perspectiva de continuidade da alta no preço do café. Em parte, o efeito da cana-de-açúcar pode ser o responsável por essa perda de área, principalmente no ano passado.
3. A troca de culturas representa uma fase temporária ou permanente? Qual o impacto para a economia cafeeira?
O Estado de São Paulo é o quarto maior produtor de café e há tempos está reduzindo sua produção – uma diminuição de área considerada a mais expressiva pela Conab. Os demais Estados não apresentaram retração nesta mesma magnitude.
Possivelmente são ajustes temporários, principalmente se os preços da saca do café continuarem melhorando. A valorização do café deve impulsionar o plantio nas regiões produtoras de grande porte, como Minas Gerais – onde o número total de covas aumentou 4,6% na safra 2006/07. A expansão do parque cafeeiro vai depender muito da própria remuneração do setor, que foi muito prejudicada no início desta década.
4. Quais são as expectativas (curto, médio e longo prazos) para o café nos próximos anos?
O quadro atual da oferta de café nos diz que, pelo menos, não vai sobrar café, como em 2003 e 2004. Isso quer dizer que há uma perspectiva de preços estimulantes para esta e a próxima safra. No médio prazo, a questão é se a oferta mundial conseguirá atender a crescente demanda de café. Para os próximos cinco anos, a demanda mundial deve chegar a superar 120 milhões de sacas/ano. Isso significa que o Brasil tem que produzir, em média, mais de 40 milhões de sacas/ano para manter o seu market share no mercado mundial. Se considerarmos a média da safra de 2005/06 e de 2006/07, o Brasil produziu entre 35 a 40 milhões de sacas. Assim, terá que aumentar sua produtividade efetiva, com tecnologia e capitalização do produtor, para manter esse
market share. Isso parece viável porque as estimativas do setor são de 6 bilhões de pés de café com menos de 10 anos, com capacidade de alcançar pelo menos 42 milhões de sacas na média de duas safras.
O Brasil terá nos próximos anos oportunidade única de manter, ou até
elevar, a participação no mercado mundial, melhorando a renda dos cafeicultores e faturando mais com exportação do grão do que os US$ 3,00 bilhões obtidos no ano passado.
5. O Brasil é o maior exportador mundial da commodity café, em contrapartida outros países lucram em cima do valor agregado do produto brasileiro. Quais são os empecilhos que o País enfrenta para se projetar tb como um grande exportador do produto industrializado?
Primeiro, um problema nacional: tributário. O produto industrializado tem mais impostos no país do que o grão. Segundo: existem as barreiras tarifárias externas ao produto pronto. Outro: falta uma política tanto na área de comércio bilateral quanto de investimentos em marketing para se posicionar como um grande fabricante de produto industrializado. Há, por enquanto, movimentos localizados de produtores que estão exportando o produto industrializado.
No entanto, o produto industrializado continua sendo o conillon – com o café solúvel. Neste caso, a indústria apresenta uma margem melhor já que o grão é bem menos valorizado na exportação (US$ 60 FOB/sc) do que o solúvel US$ 126/sc (ABIC).
Seminário Internacional do Café
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