17/06/10
por Fabiane Stefano
O que o aumento da produção de café de Minas Gerais tem a ver com o consumo mundial de drogas? Para a Colômbia e o México, tem tudo a ver. O jornal britânico Financial Times publicou hoje uma reportagem sobre a ofensiva de produtores colombianos e mexicanos contra o café brasileiro. Isso porque a bolsa de commodities de Nova York, a Ice Futures US, cogita incluir o grão brasileiro no contrato futuro de café arábica, do tipo despolpado. O contrato determina o padrão de qualidade do café negociado.
Hoje, a produção de 19 países é referendada pela Ice, entre eles, Quênia, Nova Guiné e, obviamente, Colômbia. O Brasil, maior produtor mundial, não está nesse grupo de elite. Mas como a produção brasileira de café de qualidade está em franca expansão, a Ice estuda a inclusão do país na lista – o que valorizaria o grão nacional. A gritaria da concorrência foi imediata. O argumento dos colombianos é obtuso: o contrato da Ice estimularia os produtores brasileiros a cultivar uma quantidade muito maior de café de qualidade, roubando participação de mercado de países como Colômbia e México.
Sem opção, os cafeicultores desses países deixariam de cultivar o grão para produzir coca – a matéria-prima da cocaína. \”Eles apelam sistematicamente a esse tipo de argumento\”, diz Guilherme Braga, diretor do Conselho de Exportadores de Café. \”Qualquer movimento que favoreça a cafeicultura brasileira é contra-atacado com ameaças de expansão da produção de drogas\”.
Em 2004, uma discussão semelhante rondou a Ice – que tem total interesse em colocar o grão brasileiro no contrato comercializado (afinal, o mercado futuro tem de espelhar o mercado físico). Na época, o lobby colombiano convenceu vários congressistas americanos, que fizeram pressão para a proposta ser engavetada. Afinal, os Estados Unidos gastam fábulas com o programa de combate ao narcotráfico na Colômbia – em 2009, foram nada menos que 720 milhões de dólares.
Com ou sem o aval da Ice, o café brasileiro de qualidade continua ganhando o mercado externo. No ano passado, foram exportadas 3,5 milhões de sacas (pouco mais que 10% do total comercializado pelo país), dez vezes mais que o volume do ano 2000. Outro sinal do reconhecimento é de quem realmente entende da xicrinha. Em maio, Dub Hay, vice-presidente da rede Starbucks, esteve no Brasil e disse que mais de 50% do café que será importado pela rede em 2010 deverá vir do país.