Agência Estado
06/06/2011
Filipe Domingues
Produtores de café da Guatemala não estão se beneficiando dos certificados de qualidade nesta temporada, que normalmente garantem um prêmio no preço de seu grão. A oferta global apertada deixou os compradores menos inquietos quanto ao tipo de café que adquirem. “Quando não há muito café no mundo, compradores param de se preocupar se é de boa ou má qualidade”, disse o presidente da associação de café do país (Anacafé), Ricardo Villanueva, “Eles vão simplesmente querer comprar o que puderem encontrar.”
Villanueva afirmou que as principais certificadoras de café estão reduzindo as quantidades de certificação para o produto da Guatemala, inclusive os cafés Fair Trade e Rainforest Alliance. A Guatemala é conhecida por sua variedade de cafés gourmet, grãos suaves e lavados que costumam ser usados em misturas originais de companhias como Starbucks e Green Mountain Coffee Roasters.
Produtores de café na Guatemala e em outras regiões passaram a buscar mais certificações nos últimos anos, mesmo que elas sejam caras, esperando garantir um prêmio. Certificadores costumam exigir que os produtores sigam certas diretrizes de qualidade para garantir um gosto melhor na bebida.
No entanto, os preços estão elevados nesta temporada – no início deste ano alcançaram máximas em 14 anos na ICE. Dessa vez, compradores não estão tão interessados em pagar mais pelo café da Guatemala, de acordo com autoridades da indústria. Em fevereiro, as vendas foram quase interrompidas, pois as torrefadoras se voltaram para países cujos grãos são mais baratos e de qualidade inferior.
A corrida para aumentar o número de certificações buscava proteger os cafeicultores contra um mercado baixista no futuro. Villanueva disse que, embora as certificações não funcionem quando os preços estão altos, os guatemaltecas continuam concentrados na qualidade para obter mais certificações.
Bernardo Santos, um representante da Anacafé que treina produtores a gerenciar suas plantações e a processar seu café, explicou que a Guatemala não pode competir em nível global em termos de volume – produziu 3,5 milhões de sacas de 60 kg nesta temporada -, portanto trabalha com o “cartão de qualidade”.
Quando os preços saltaram no início dos anos 2000, muitos grandes produtores foram forçados a sair do negócio ou mudar para regiões mais altas, onde o café é uma das únicas opções na agricultura. Isso levou a uma melhora da qualidade e a Anacafé vem divulgando a diferença de seu café em oito regiões distintas que produzem cafés com sabores diversos.
Rafael Ventura, produtor na região de Fraijanes Plateau, disse que planeja continuar trabalhando para melhorar o gosto de seu café. “Queremos aproveitar a pesquisa e a análise da Anacafé”, afirmou. “Antes, (a produção) era só como uma receita culinária: simplesmente jogávamos alguns fertilizantes no café e tínhamos nossa produção. Agora, analisamos para ver exatamente o que está faltando no solo.”
Em um laboratório dentro da sede da Anacafé, na Cidade da Guatemala, especialistas estudam amostras do grão de seus produtores antes de exportá-lo e degustadores profissionais fazem avaliações “na xícara”. Segundo Carlos Muñoz, degustador na Anacafé, “se há um grão ruim na amostra, podemos detectar pelo gosto na xícara. Mandamos o café de volta”. As informações são da Dow Jones.