Guatemala: representante do Brasil não aborda crise do produtor e encerra intervenção com apoio irrestrito a OIC
Entre países produtores ficou claro o clamor de que o preço do café tem que subir para viabilizar a cafeicultura mundial.
Sábado (27) – Parte da manhã
Na manhã de sábado (27) teve inicio a primeira rodada de palestras da Conferência Mundial do Café, que começa teve início na sexta-feira (26), na Cidade da Guatemala. O encontro, organizado pela Associação Nacional de Café da Guatemala (Anacafé), em parceria com a Organização Internacional do Café (OIC), reune cafeicultores, governos, setor privado e agências internacionais.
Entre os palestrantes da sessão da manhã, que contou com intervenções de representante do países africanos, do Brasil, Vietnã, Colômbia e dos países da America Central, ficou claro o clamor de que o preço do café tem que subir para viabilizar a cafeicultura mundial.
O representante do país africano responsabilizou a queda da produção africana de café pelo enfraquecimento ou desaparecimento de instituições reguladoras.
Os dois palestrantes do Vietnã frisaram que o segundo maior país produtor do mundo esta com sua cafeicultura estagnada com uma expressiva área de plantio com cafeeiros envelhecidos. O Vietnã apresentou, inclusive, um esquema de transformação de seu disperso esquema de atuação institucional para um novo arranjo integrado e centralizado.
Já o representante dos países da América Central listou os problemas de produção de cada país e ressaltou que as indicações de incremento da demanda mundial nos próximos anos por cafés lavados só poderá ser atendida via estimulo de preço já que a presente remuneração ao produtor de café não será capaz de viabilizar o aumento de produção.
A intervenção do Gerente Geral da Federação dos Cafeicultores da Colômbia foi francamente defensiva quanto a explicação da quebra do volume produzido por seu país. Do regime inadequado de chuvas, ataque de ferrugem e broca, aumentos dos custos de produção, o único ponto dinâmico apresentado pelo dirigente colombiano foi a chamada preferência dos consumidores mundiais por cafés lavados, o que os altos diferenciais de preço do último ano demonstra, na sua avaliação. O gerente da Federação foi eloqüente quanto a fidelidade do consumidor mundial ao café colombiano e na apresentação da tendência de aumento da demanda mundial por estes cafés nos próximos anos.
A intervenção do Brasil foi bem feita, apresentado o desempenho da produção e exportações do país nos últimos anos em comparação com o período em que o mercado mundial era regido pelo sistema de clausulas econômicas da OIC. Manoel Bertone, Secretario do MAPA, conclamou os demais países do mundo e organizarem arranjos institucionais como o que o Brasil conta, fazendo referencia ao FUNCAFE, CDPC e a EMBRAPA.
Bertone lançou no ar o desafio dos países produtores conseguirem aumentar o preço do café sem gerar aumentos de produção, o que poderia levar o mundo a se ver em novo ciclo de desequilíbrio entre oferta e demanda.
O representante brasileiro não desenvolveu o quadro de crise porque passa o produtor brasileiro de café e acabou sua intervenção dando apoio irrestrito a OIC.
Como conclusão da primeira rodada de palestras da Conferencia Mundial do Café podemos ressaltar que o conjunto dos países produtores não estão satisfeitos com os atuais preços do produto, mesmo aqueles que vem comercializando o produto com elevados prêmios, uma vez que renda a global destes países é prejudica por menor volume de produção, o que implica em custos unitários de produção por saca mais elevado.
Ainda é cedo para uma avaliação do resultado desta Conferencia, que teve início nesta manhã, mas a continuar a linha de palestras que assistimos até aqui todos os presentes estão de acordo que a cafeicultura mundial não pode mais funcionar com os presentes patamares de preço, mas ninguém se atreve a buscar uma ação coletiva pela valorização do café ao nível do produtor com a conseqüente diminuição das margens operacionais dos demais agentes da cadeia ou pela elevação do preço ao nível do consumidor.
É evidente que os consumidores ou importadores não vão ceder de mão beijada, somente uma forte articulação dos produtores de café é que poderá levar o desafio para agenda internacional.
Até lá ainda certamente teremos ainda muitas palestra tocando a sustentabilidade via elevação de produtividade, redução de custos de colheita, certificação e aumento do consumo mundial, particularmente em países produtores.
Sábado (26) – Parte da tarde
A sessão da tarde de sábado do primeiro dia da Conferência Mundial do Café da OIC foi salva pela Suíça, moderador da rodada.
É que o primeiro palestrante da tarde, Sr. Dantes Hurtado, presidente da Sara Lee do Brasil, passou sua intervenção discorrendo da importância e do crescimento do café certificado como, para ele é a raiz do impulso para a sustentabilidade da atividade.
O dirigente da Sara Lee apresentou dados demonstrando que o consumidor tende a querer mais e mais café com transparência de origem, de marcas responsáveis e irá rejeitar cafés de companhias imorais.
Terminada a sua intervenção o moderador da sessão, o suíço Max Schnellmann, questionou o dirigente da Sara Lee do Brasil quanto ao tamanho deste mercado e a falta da remuneração ao produtor pelo custo de todo o trabalho de certificação. A sustentabilidade, no apropriado conceito do representante da Suíça, tem que contemplar uma adequada cobertura de custos que o produtor tem ao atender todas as exigências exigidas para a certificação da sua produção.
A reação do dirigente da Sara Lee do Brasil as observações do represente Suíço ficou restrita ao presente tamanho do mercado de cafés certificados e da sua tendência.
Das demais palestras ocorridas nesta tarde de sábado cabe destacar a de dois empresários, um da índia e outro da Rússia.
O empresário indiano além de pontuar que a economia do seu país será a terceira maior do mundo em duas décadas enfatizou a profunda mudança de hábitos de consumo por que passa seu país, onde o café esta tende uma tendência marcante de desenvolvimento, o que levou o empresário a declarar que esta presente a Conferencia com a clara intenção de fazer contatos com fornecedores pois seu país passará rapidamente a ser um importador do produto para atender ao boom de consumo que se avizinha na Índia.
A evolução do consumo indiana de café é tão pronunciado que este empresário desenvolveu a produção de máquinas de café espresso, encerrando a importação do equipamento italiano. A empresa deste empresário já tem mais de 1.000 lojas de café e está abrindo filiais em alguns países importadores da Europa.
Já a intervenção do empresário russo foi focada em destacar o aumento do consumo do café em seu país de 400 gramas per capita para 900 gramas com amplo espaço para crescer nos próximos anos. Ele destacou que a industria russa de café tem espaço para a entrada de novos interessados e que o consumo de café solúvel e de torrado esta com comportamento promissor de expansão.
Missão de Bertone na OIC
“Uma análise estrutural sobre a produção brasileira de café e as políticas públicas de fortalecimento do setor serão apresentadas na Conferência Mundial do Café”, foi o que divulgou o site do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento sobre a participação do Brasil na Conferência do Café na Cidade da Guatemala.
Ainda ssgundo o site, o secretário de Produção e Agroenergia, Manoel Bertone “vai representar o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento na conferência, com uma avaliação do mercado nacional do grão, associada à economia cafeeira internacional”.
Na página do Ministério na internet, Manoel Bertone informou que \”vamos mostrar, com números e estatísticas, que as políticas públicas adotadas recentemente, como a compra do café por intermédio de leilões de opções de venda e a conversão de dívida em produto, são essenciais para manter um fluxo regular de oferta. Segundo ele, o modelo pode e deve ser seguido por outros países, para fortalecer o segmento da produção do grão.
Material publicado pelo Coffee Break
Domingo – 28 de fevereiro de 2010