Valorização do real reduz a competitividade no exterior
Vera Dantas e Andrea Vialli
A conquista do grau de investimento pode se tornar um pesadelo para exportadores que já vinham sofrendo com o real valorizado. “A maior entrada de investimento estrangeiro reforça a tendência de alta da moeda”, diz Alessandro Teixeira, presidente da Apex, agência do governo que promove exportações e investimentos. O temor é compartilhado por economistas e setores com forte viés exportador, como o têxtil, calçados e cosméticos. Negociar com o comprador em euro e não em dólar, vender produtos mais sofisticados, entrar em novos países e disputar o mercado interno são algumas das estratégias que as empresas estão adotando para reduzir riscos.
A centenária Cedro, por exemplo, umas maiores empresas têxteis do País, perdeu 80% do mercado americano.”Há algum tempo não fazemos exportações substanciais para os Estados Unidos. Na Europa, os negócios caíram 40% nos últimos dois anos”, diz Klecius Janduci, gerente de exportação da Cedro. As exportações, que representaram 13% do faturamento, devem cair para 10%.
“Se o dólar chegar a R$ 1,50 e com o grau de investimento, o acesso aos produtos importados vai ficar mais fácil e a competição mais acirrada. O déficit da balança do setor vai se acentuar, será assustador.”
“Setores que dependem de mão-de-obra e insumos nacionais sofrem muito com o câmbio. O grande motor do crescimento de produtos têxteis tem sido o mercado interno”, diz Fernando Pimentel, diretor superintendente da Abit, que representa o setor têxtil.
O caminho de encolher as exportações também foi adotado pela BSH Continental, fabricante de eletrodomésticos dona das marcas Bosch e Continental. Há cinco anos, as vendas externas representavam 40% do faturamento. Hoje, respondem por 15% e as vendas são direcionadas para a América Latina.
“O acesso ao crédito e o crescimento da renda tornaram o mercado interno muito mais robusto. Por outro lado, a desvalorização do dólar tem permitido a importação de produtos premium a custos mais atraentes”, afirma Edson Grottoli, presidente da BSH para o Mercosul.
O acesso a matérias-primas a um custo menor também anima a francesa L?Occitane, grife de cosméticos de luxo. Este mês a empresa enviou para o exterior a primeira linha de produtos fabricados no País. Segundo a presidente da empresa, Silvia Gambin, o real valorizado não preocupa. “Como importamos muitos insumos, conseguimos balancear, uma vez que o volume de importação de componentes é maior do que as exportações”, diz.
A insegurança em relação ao real também está presente entre empresas médias e pequenas. A Elegance, fabricante de lingerie, está prestes a engavetar um convite para exibir a sua marca em setembro, numa feira de Paris. “O cenário nos deixa inseguros. Não sei se seremos competitivos lá fora e como estará o dólar nos próximos meses”, diz Eliane Magnam, diretora da marca.
Para João Carlos Basílio, presidente da Abiphec, que representa a indústria de cosméticos, as empresas que já conquistaram mercados fora não devem desistir, mesmo com a valorização do real. “Se for o caso, comece a colocar a tabela em euros. Se tiver que vender por menor custo, venda, mas não perca a rede de contatos. A desistência pode custar muito caro no futuro”, avisa.
As empresas não devem temer o grau de investimento e sim se prepararem para a entrada de capital produtivo no País. “Em hipótese nenhuma ser grau de investimento pode ser considerado negativo. A entrada de investimentos vai ajudar as empresas brasileiras a se tornarem mais robustas”, diz Alessandro Teixeira, da Apex.