Grãos levam riqueza a netos de ACM

Em cinco anos, município de Luiz Eduardo Magalhães passa de distrito a candidato a eldorado

17 de novembro de 2005 | Sem comentários Origens Cafeeiras Produção
Por: Tom Cardoso, para o Valor De Luiz Eduardo Magalhães

Há uma silenciosa revolução em curso no oeste baiano. Mais precisamente na cidade de Luiz Eduardo Magalhães, a 960 km da capital, Salvador. Emancipada como município em 2000 (era, até então, o discreto Mimoso do Oeste, distrito de Barreiras), ganhou outro nome, uma homenagem ao filho da maior personalidade política da Bahia, o senador Antônio Carlos Magalhães, e nova dinâmica econômica e social. O novo batismo rendeu gozações da população da região: quem nasce em Luiz Eduardo, segundo os barreirenses, é “neto de ACM”. Mas a emancipação proporcionou um aumento febril da produção econômica, sobretudo no agronegócio.

Hoje, a produção agrícola da cidade cresce 30% ao ano. Em 13 anos, a colheita cresceu 40% e os ganhos com produtividade foram de 23%. Desenvolvimento que deve triplicar em menos de dez anos o número de habitantes, dos atuais 50 mil para 150 mil, equiparando-se à população da agora vizinha Barreiras – outro importante pólo da produção agrícola nordestina.

Com cerca de 6 milhões de hectares de cerrado, dos quais, segundo a Associação de Agricultores e Irrigantes do Oeste da Bahia (Aiba), 4 milhões de hectares agricultáveis, o oeste baiano há anos destaca-se na produção e exportação de soja, algodão, milho, café e frutas. Mesmo com a queda do dólar frente ao real, com os conhecidos problemas de infra-estrutura e de logística, a região vem conseguindo manter a economia acesa.

Em Luiz Eduardo Magalhães, um investimento pioneiro deve aquecer ainda mais a economia. A estatal francesa Dagris acaba de acertar uma parceria com a prefeitura e com a Petrobras para produção de biodiesel.

O projeto é ambicioso. A Dagris pretende investir ? 54 milhões em cinco anos para a instalação, ainda em 2005, de uma unidade de processamento de óleos vegetais e outra de produção de biodiesel.

Na primeira fase do projeto, será produzido o óleo vegetal extraído, basicamente, do caroço de algodão, de girassol e da soja; o óleo de mamona está, por enquanto, descartado, por sua produção ser considerada mais cara que as demais.

A segunda fase, de estratificação (a mistura com o álcool), deve ser feita em parceria com a Petrobras. A Dagris, que já atua em 25 países, sobretudo na África, pretende produzir, até 2010, 250 mil toneladas de óleo vegetal por ano (cobrindo de 10% a 13% da demanda brasileira do produto). Ao final do quinto ano de operação, a companhia pretende consolidar um faturamento equivalente US$ 380 milhões.

“Nós vamos ser o maior pólo de biodiesel do país”, aposta Eduardo Yamashita, secretário de agricultura do município. “A vinda da Dagris não significa apenas novas receitas para a cidade, mas a criação de uma nova cultura de plantio, pois vamos precisar, por causa da demanda por álcool, investir muito na produção de cana-de-açúcar”. Em 10, 12 anos, a cidade espera ter 2 milhões de hectares de cana-de-açúcar, meta ousada se comparada aos 5 milhões de hectares plantados por São Paulo, maior produtor de cana do país.

“Juntando o projeto do biodiesel, com a produção de caroço de algodão, que já está consolidada, e o surgimento de uma nova cultura, como a cana-de-açúcar, reforçada com a provável chegada de usinas, vamos assegurar um impulso econômico sem precedentes para a nossa economia”, diz Ivanir Maia, assessor de agronegócios da Aiba.

O presidente da Associação de Agricultores e Irrigantes do Oeste da Bahia, Humberto Santa Cruz, fazendeiro com longa experiência na região, não é tão otimista. Para ele, a política econômica do governo Lula, com o dólar se desvalorizando frente ao real, e os velhos problemas estruturais, podem afetar os planos de investimento.

“Nós ainda estamos pagando investimentos que foram feitos nos últimos 20 anos, de uma região que saiu do zero para um 1,5 milhão de hectares plantados. Você fala para um europeu, um investidor de fora, que a cidade de Luiz Eduardo Magalhães era um posto de gasolina há 25 anos atrás e hoje tem 50 mil habitantes, ele não acredita”, afirma Santa Cruz. “Hoje, enfrentamos um verdadeiro paradoxo: a região é formidável, de grande potencial, mas ao mesmo tempo passa por grandes dificuldades.”

De fato, antes de se tornar um pólo de biodiesel, Luiz Eduardo terá de resolver seus problemas de logística. Hoje, praticamente todo o escoamento da produção agrícola, cerca de 4 milhões de toneladas de grãos por ano, é feito por rodovia.

A região tem depositado suas maiores esperanças na construção da ferrovia leste-oeste. Pelo menos no projeto, a estrada de ferro deve ligar Luiz Eduardo até Brumando, num total de 575 quilômetros.

José Andrade Costa, secretário executivo do Programa de Parcerias Públicos-Privadas, garante que o projeto da construção da ferrovia, orçado em R$ 1,7 bilhão “é visto pelo governo da Bahia como de grande importância estratégica”.

Maior cidade do oeste baiano, com 140 mil habitantes, responsável por 5% da produção nacional de grãos, Barreiras não cresce com a mesma velocidade de Luiz Eduardo , mas também tem apresentado resultados significativos.

Para a safra 2005/06, estimativas indicam que a soja ocupará uma área de 900 mil hectares, com uma produção de 2,5 milhões de toneladas. O milho responderá por uma área de 120 mil hectares, com a previsão de produzir próximo de 800 mil toneladas. O algodão atingirá 200 mil hectares e com estimativa de produção superior a 300 mil toneladas de pluma. O café irrigado abrange uma área próxima a 14 mil hectares implantados, com previsão de colheita de quase 50 mil toneladas.

Barreiras ainda não tem projetos concretos para a produção de biodiesel. “Não há, por parte do governo federal, política de crédito voltada para o pequeno agricultor, principalmente para os produtores de mamona, que pode ser a grande matéria-prima do biodiesel”, diz Saulo Pedrosa (PSDB), prefeito de Barreiras. “Por enquanto, o custo do plantio é elevado e inviabiliza qualquer projeto.”

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