Paulo Henrique Lobato
10/02/2014
Superintendente da maior cooperativa de Patrocínio, a Expocaccer, Sérgio Dornellas diz que denominação de origem do produto da região vai ampliar as vendas externas
Campo Belo e Patrocínio – A qualidade dos cafés especiais nas lavouras mineiras conquista novos mercados internacionais. Depois de abastecerem os Estados Unidos, o Japão e a Europa, principais importadores, chegou a vez de alguns fazendeiros do estado enviarem suas mercadorias – uma parte em commodity e outra já beneficiada – para a China e os Emirados Árabes. Os contêineres são embarcados com cartões de visita que mostram novas estratégias e inovações dos fazendeiros mineiros para ampliar os negócios fora do Brasil.
Esse é o tema da segunda reportagem da série “Muito além do cafezinho”, que o EM publica desde ontem. Na primeira parte da série, destaque para os grãos selecionados e a verticalização da produção. Essa última característica também foi adotada pelos donos da Café Fazenda Caeté, empresa com duas fazendas em Campo Belo, no Sul do estado, a 220 quilômetros de Belo Horizonte. O empreendimento, tocado pela família Costas, deve começar a enviar parte da produção para Dubai em março. O contrato é de US$ 50 mil.
A remessa traz uma novidade no setor: o café em sachê. Trata-se de porções de cinco gramas do fruto já torrado e moído, embalado em saquinhos, a exemplo dos oferecidos no mercado de chá. Cada caixa, com 16 saquinhos, tem o preço sugerido de R$ 5,50. A novidade venceu a edição do Prêmio Embalagem Marca, na categoria inovação, e é boa pedida para quem mora sozinho. “É o café individual, pois a pessoa coloca o saquinho na xícara com a água já fervida”, explica Fernando Reis Costas, diretor comercial da Café Fazenda Caeté.
Ele estima que o crescimento nas vendas em 2014 seja 60% superior. “O café é uma bebida consumida mundialmente, então sempre haverá novos mercados”, justifica. Para entrar no mercado dos Emirados Árabes, porém, Fernando não teve facilidades. Ele fez algumas viagens ao país para propagandear o produto. A Caeté já exportou para os Estados Unidos. As vendas externas foram fechadas com o auxílio da Central Exportaminas.
‘O café é uma bebida consumida mundialmente, então sempre haverá novos mercados’, diz Fernando Reis Costas, diretor comercial da Café da Fazenda Caeté (Marcos Michelin/EM/D.A Press)
“O café é uma bebida consumida mundialmente, então sempre haverá novos mercados”, diz Fernando Reis Costas, diretor comercial da Café da Fazenda Caeté
A Café Fazenda Caeté tem duas propriedades rurais em Campo Belo, a Caeté e a Córrego Dantas e ambas produzem cerca de quatro mil sacas de grãos especiais por ano e são avalizadas pela alemã UTZ, uma das principais certificadoras do planeta em práticas ambientais e sociais. A família de Fernando começou a explorar o mercado de cafés especiais em 2002. Há três anos, inauguraram uma pequena fábrica para processar os grãos. O próximo passo será reduzir o custo de produção por meio de uma técnica que vem sendo acompanhada por técnicos da Embrapa e do Sebrae.
A família vai aproveitar o esterco do gado, uma vez que as duas fazendas são produtoras de leite, e misturá-lo com a casca do café. A compostagem, acreditam os diretores da Café Fazenda Caeté, resultará em 8,5 mil sacos de adubos, de 50 quilos cada. “Gastamos, atualmente, cerca de 4,5 mil sacos por ano. São cerca de R$ 300 mil. Com a nova compostagem, nossa estimativa é reduzir esse gasto para R$ 150 mil. A diferença será investida na própria fazenda”, explica Marco Antônio Costa, diretor administrativo da empresa.
CERTIFICADO QUE ABRE MERCADOS
A China também é o foco de produtores do estado, principalmente os de 55 cidades do Alto Paranaíba e do Triângulo, cuja região é conhecida como café do cerrado. Parte deles enviou um contêiner para o país asiático, há algumas semanas, poucos dias depois de a área ser reconhecida pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi) como a primeira Denominação de Origem (D.O.) do café brasileiro.
“A DO agrega valor ao produto, pois é um avanço do certificado da indicação de procedência. Para conseguir a DO, é preciso alguns requisitos, como cadastro de rastreabilidade”, disse Juliano Tarabal, engenheiro-agrônomo e diretor de marketing da Federação dos Cafeicultores do Cerrado.
A certificação, planeja Sérgio Geraldo, superintendente da Expocaccer, maior cooperativa de café de Patrocínio, abrirá novas porteiras fora do país. “Enviamos, há poucas semanas, o primeiro contêiner, com 320 sacas (60 quilos cada) para a China. É um país onde o consumo vem crescendo bem. É difícil mensurar o tamanho do aumento das exportações em razão da certificação, mas certamente ocorrerá”, disse o executivo da entidade, que reúne 500 cooperados, responsáveis, anualmente, por cerca de 1,2 milhão de sacas encaminhadas aos armazéns da Expocaccer.
A primeira DO de uma região cafeeira no Brasil foi conquistada em parceria com o Sebrae Minas, que ajudou a Federação dos Cafeicultores de lá, segundo a própria entidade, “a contratar doutores e mestres para comprovar, com base científica, que características como clima, solo, processo de colheita e o do pós-colheita diferenciam e identificam o café do cerrado”. Mas não basta o café ter sido produzido na região: é preciso, por exemplo, que um Q-grader, um profissional que prova a bebida, como se fosse uma espécie de árbitro, pontue o grão com pelo menos nota 80 numa escala de zero a 100.
Identidade Essa análise leva em conta a metologia da Specialty Coffee Association of America (SCAA), que destaca sabor, aroma e outras qualidades no fruto. A certificação de denominação de origem também favorece o consumidor, pois, no caso do fruto beneficiado (torrado e moído), as embalagens contêm um código que, depois de digitado numa página na internet, garante a rastreabilidade do café. Há informações e fotografias da lavoura e do produtor.
“A DO é a garantia do raio-x do nosso café. O consumidor está cada vez mais exigente. Na verdade, o café está se tornando o que o vinho de boa safra é. E os produtores estão se empenhando cada vez mais nesse nicho”, avaliou Lázaro Ribeiro de Oliveira, fazendeiro que colhe, em média, cerca de seis mil sacas por ano.