31/10/2013
Em Minas, a produção do café envolve cerca de 4 milhões de pessoas – mais do que toda a população da Região Metropolitana de Belo Horizonte
Roberto Simões
Presidente do Sistema Faemg (Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais)
A crise econômica mundial que eclodiu em 2008 consagrou uma frase, criada nos Estados Unidos, que tem uma sabedoria irrefutável: “Grande demais para quebrar”. Na prática, ela significa que, dentro da cadeia econômica de um país ou região, existem setores que, se quebrassem, arrastariam para o abismo milhares de empresas, acabariam com milhões de empregos e contaminariam outras atividades produtivas. O resultado seria recessão e caos. Por isso, são “grandes demais para quebrar” – ou seja, não podem quebrar.
Cientes disso, o governo americano e de vários países da Europa blindaram, com fluxo de crédito regular e juros baixos, setores inteiros da economia, principalmente os ligados a grandes instituições financeiras. Também no Brasil, o governo
agiu: cortou impostos de segmentos como o automotivo e linha branca e estimulou o consumo interno. A crise arrefeceu e o mundo percebeu que a frase estava certa. Tão certa que chegou a hora de ser aplicada a um dos mais importantes setores do agronegócio do país: o café.
Já não é segredo para ninguém que o setor cafeeiro do Brasil e do estado vive uma das mais graves crises de sua história recente. Falta crédito, sobram dívidas, os estoques estão altos e os preços permanecem baixos. O preço da saca de 60kg, que já chegou a R$ 530, está hoje na faixa de R$ 240 – o que não cobre sequer o custo de produção. Não é exagero dizer que o setor está à beira do colapso.
Como também não seria exagero dizer que, se tal colapso ocorresse, não seria bom para ninguém. Basta olhar os números. O estado é responsável por 51,4% da safra nacional de café. A safra mineira de 2013, de 25 milhões de sacas, se estende por mais de 600 municípios. Em 2012, as exportações mineiras de café somaram US$ 3,8 bilhões, contribuindo para o saldo positivo da balança comercial brasileira.
No estado, a cadeia de produção do café envolve, direta e indiretamente, cerca de 4 milhões de pessoas – mais do que toda a população da Região Metropolitana de Belo Horizonte. Se o setor parasse, colocaria um ponto final no longo período de pleno emprego que, segundo dados do governo federal, o país vive hoje.
O governo de Minas está ciente da gravidade da crise e tem sido um aliado precioso para os produtores. Em abril, o governador Antonio Anastasia já havia solicitado ao governo federal o estabelecimento de preço mínimo para a saca. No fim de outubro, o governador voltou a apresentar à presidente Dilma Rousseff, em Belo Horizonte, uma nova pauta de reivindicações, classificando a situação como “dramática”.
O quadro é, de fato, dramático. As poucas medidas efetivamente liberadas até agora pelo governo federal só surtirão efeito em março de 2014. Até lá, é provável que muitos produtores já tenham encerrado suas atividades. Para evitar isso, o que precisamos agora é da interrupção imediata de todos os vencimentos das dívidas por um prazo de 90 dias e o lançamento de um programa para geração de renda para os produtores em curtíssimo prazo. São medidas de sobrevivência, que permitirão aos cafeicultores respirar e ter tranquilidade para buscar soluções sustentáveis para o setor – nossa meta principal.
A presidente Dilma Rousseff já demonstrou sensibilidade para auxiliar setores da economia – principalmente ligados à indústria e varejo – que enfrentavam dificuldades provocadas por turbulências externas. Acreditamos, portanto, que ela terá agora a mesma sensibilidade em relação ao setor cafeeiro. Presidente, acredite: o setor do café, no Brasil, é grande demais para quebrar. As consequências do agravamento da crise seriam dramáticas para o país. O governo federal tem recursos suficientes para evitar o colapso.