O governo quer dobrar, nos próximos quatro anos, a participação das empresas comerciais exportadoras, mais conhecidas como “tradings”, no total das exportações do País. Estas empresas responderam por 10,5% do total exportado pelo Brasil em 2008, o que representou um total de US$ 20,7 bilhões. “As tradings brasileiras estão subaproveitadas, pois elas têm um grande potencial de gerar demanda para exportações”, afirmou Welber Barral, secretário de comércio exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (Mdic).
Atualmente o País conta com 5.773 tradings que podem, segundo Barral, auxiliar o governo no esforço de diversificar e agregar valor à pauta de exportações brasileiras, objetivos da Política de Desenvolvimento da Produção (PDP), lançada no ano passado. Exportar US$ 209 bilhões em 2009, o que representaria 1,25% das exportações mundiais e aumentar o número de empresas exportadoras são dois dos objetivos do PDP que podem ser atingidos com uma maior utilização das tradings, observou o secretário.
Para fortalecer e organizar o segmento das comerciais exportadoras, a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex Brasil) realizou ontem, em São Paulo, um seminário onde especialistas falaram a mais de 400 empresários. No evento a Apex Brasil divulgou a primeira parte de um estudo encomendado à Fundação Getúlio Vargas, cujo objetivo é mapear o universo das mais de cinco mil tradings brasileiras. Entretanto, o foco de atuação da Apex se restringirá a somente mil destas, “que compram de micro e pequeno produtores e exportam por conta própria”, explicou Alessandro Teixeira, presidente da Apex.
“Gostinho da exportação”
Ele destaca que as tradings podem “dar o gostinho” da exportação para as pequenas e médias empresas (PMEs) nacionais , pois se encarregam dos processos e trâmites burocráticos, áreas onde as PMEs encontram maior dificuldade. “Precisamos preparar as PMEs para exportarem, enquanto as tradings já estão prontas, e com profissionais especializados em comercializar com o exterior”, disse Teixeira. Ele aponta que as tradings tem também um potencial multiplicador de ofertas, principalmente nos mercados onde há desconhecimento dos produtos brasileiros. “Se eu levo 50 empresas ao exterior, normalmente elas representam 50 produtos promovidos, enquanto a mesma quantidade de tradings pode representar 400 ou mais produtos”, exemplificou o executivo.
Entretanto, algumas dificuldades foram apontadas pelas comerciais exportadoras. A dificuldade de estabelecer contatos com os produtores é a principal delas, seguida por melhores formas de financiamentos, e falta de organização do setor. Segundo Teixeira, o setor foi marginalizado nos anos de 1990, e tornou-se quase que exclusivamente importador. Ele salienta que, para solucionar algumas destas dificuldades, a Apex e o Mdic estão trabalhando para estender e simplificar as linhas de financiamento; consolidar a legislação referente às tradings; e formar um Grupo Gestor Nacional, cujo objetivo é reunir representantes de tradings de todos os estados para discutir melhorias para o segmento. A Apex quer incluir mais tradings em suas feiras internacionais, e o objetivo é contar com diversas empresas deste segmento na feira que está sendo programada para a África do Sul, no segundo semestre deste ano.
O fornecimento de serviços às empresas brasileiras é um dos focos possíveis de atuação das tradings, salientou Alfredo de Goye, presidente da Sertrading, uma das maiores do setor. “Muitas vezes somos vistos como intermediários apenas, mas também podemos abrir mercados, ou cuidar de todo o processo de exportação, de maneira terceirizada”, frisou o executivo, cuja empresa faturou R$ 1,34 bilhão em 2008, e projeta faturamento 20% maior para este ano.
Mesmo com o arrefecimento do comércio internacional, advindo da crise financeira agravado no final do ano passado, Goye diz que sua empresa manteve a meta de crescer 20% no primeiro quadrimestre deste ano. “Aumentamos a base de clientes no Brasil e ampliamos nossa área de prestação de serviços”, explicou.
A Sertrading projeta uma corrente de comércio de US$ 100 milhões “apenas com a China” neste ano, e está investindo na busca de novos mercados, “como o mercado de construção em Angola, por exemplo”.
(Gazeta Mercantil/Caderno A – Pág. 4)(Bruno De Vizia)