Mesmo com a melhora no mercado cafeeiro nacional, o setor produtivo enfrenta problemas associados aos elevados custos de produção. Segundo o ex-embaixador do Brasil nos Estados Unidos, Rubens Barbosa, que esteve em Salvador para a abertura do 9º Agrocafé – Simpósio Nacional do Agronegócio Café, no Hotel Pestana, Rio Vermelho, o consumo interno e a demanda internacional aumentam, mas o cafeicultor brasileiro enfrenta uma situação delicada. “A produção interna melhorou a qualidade e temos uma boa perspectiva, contudo o Brasil vive um paradoxo que envolve o aumento dos custos. Cabe ao setor procurar se ajustar. Há ainda de se levar em conta à infra-estrutura e a logística. Gastos em transportes, portos, taxas de juros e o câmbio influenciam na rentabilidade. A grande questão envolve na superação deste problema”, analisa.
Para João Lopes, da Associação dos Produtores de Café da Bahia, o produtor tem sentido as elevações dos insumos. “Nos últimos 12 meses a uréia, o cloreto de Potássio e o super simples, todos fertilizantes usados na lavoura, cresceram 48%. Há ainda os custos com energia elétrica, óleo diesel e o salário mínimo”, reclama. Ele lembra que se nada for feito, corre o risco de faltar café no mercado. “O consumo interno e externo tem subido. As cotações do café estão altas. No mundo hoje temos 20 milhões de sacas. No Brasil tínhamos, em 1990, 18 milhões, agora estamos quase zerados. O governo realiza leilões com seus estoques e abastece a indústria. O cenário, apesar de ser favorável, não se traduz em rentabilidade ao produtor. Uma das grandes questões deste seminário é discutir a sustentabilidade econômica do café”, diz.
Lopes revela que a produção mundial de café é da ordem de 110 milhões de sacas anuais, a média anual brasileira é de 40 milhões de sacas. “O Brasil consome 17 milhões de sacas e o aumento de consumo é estimado em 5% ao ano. Ele ainda exporta 27 milhões. Ou seja, é preciso produzir 44 milhões de sacas por ano para atender a demanda. O consumo mundial de café é estimado em 120 milhões de sacas e o incremento no consumo é de 2% ao ano. Precisamos buscar meios para incentivar o produtor”, afirma.
O secretário de Desenvolvimento e Integração Regional, Edmon Lucas, que participou do seminário, disse que o governo baiano está mantendo conversas com o setor. “Estamos ouvindo os pleitos. Questões associadas ao câmbio fogem da esfera do governo baiano, mas estamos estudando de que forma podemos atuar para promover melhorias aos produtores”, revela.
O diretor executivo da Associação Brasileira da Indústria de Café Solúvel, Mauro Malta, endossa as colocações de João Lopes e considera ainda a competição de outros países, que não possuem uma legislação ambiental, trabalhista e social tão rígida quanto à brasileira, danosa. “Considero como solução a adoção no país de políticas voltadas à valorização do produto. Não devemos vender o arábica (espécie de café) como commoditie e sim agregar mais valor diferenciado a exemplo dos produtores da América Central”, cita.
Malta destaca a Nestlé e o produto Nespresso. “Ele é torrado, moído e tem maior valor agregado, além de não ser vendido em supermercados, somente em lojas especializadas. O custo deste produto é em média três vezes mais caro”, comenta. Ele lembra exemplos de países, como a Coréia, que adotaram políticas para beneficiar alguns setores econômicos. “Nos anos 70 aquele país possuía um décimo da população brasileira e exportava um décimo do que o Brasil exportava. A Coréia priorizou seis grandes grupos industriais, dando créditos, isentando impostos e induziu investimentos do empresariado. O resultado é que no ano passado a Coréia exportou US$ 400 milhões e o Brasil somente US$ 200 milhões. O Brasil deve se espelhar naquele país e adotar uma política indutora de investimentos específica para o segmento cafeeiro”, frisa. (Por Alessandra Nascimento)