Mauro Zanatta, de Brasília
O governo avalia ampliar o prazo de vencimento das operações de Adiantamentos de Contratos de Câmbio (ACCs) para garantir mais fluidez no sistema de crédito rural e ainda estuda um reajuste pontual dos preços mínimos de alguns produtos para dar sinais claros de que sustentará as cotações no mercado interno durante a comercialização da atual safra.
Diante do cenário de elevação nos custos de produção, sinalização de preços ruins para a comercialização e restrições cadastrais provocadas por dívidas com fornecedores, o governo busca uma solução mais abrangente para a crise de crédito que prejudica principalmente os produtores de soja e algodão do Centro-Oeste, além das cooperativas menos capitalizadas. Representantes de produtores, tradings, bancos e cooperativas pediram ontem ao ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, mais rapidez na solução desses entraves. Uma alternativa seria aumentar de 180 para 360 dias o prazo dos ACCs e reduzir as taxas de juros cobradas pelos bancos.
Antes da piora da crise financeira global, os produtores tinham acesso a várias linhas de “pré-pagamento” operadas por bancos internacionais ao custo de variação cambial mais um juro fixo e prazo de até 420 dias. A linha servia como custeio, sobretudo para produtores de algodão.
Com o recuo desses bancos, a fonte secou e a disputa por outras linhas, aliada à aversão por riscos, fez desaparecer a oferta de novos créditos. Em Mato Grosso, por exemplo, estima-se a necessidade de US$ 500 milhões em ACCs para garantir o plantio da atual safra e o conseqüente cumprimento de contratos de entrega assumidos há duas safras. “Vamos ter uma redução de 30% na área plantada”, estima o vice-presidente da Ampa, Carlos Augustin. Na dúvida, boa parte dos produtores deve migrar para a soja, que tem mais liquidez, mas que não cobre os custos gerados por safras anteriores de algodão.
Sem caixa para garantir os investimentos feitos até aqui, as cooperativas agropecuárias pediram “medidas urgentes” ao governo para garantir uma injeção de ao menos R$ 10 bilhões no segmento. As sociedades querem leilões “carimbados” de ACCs e a garantia de até R$ 2,5 bilhões para uma linha de capital de giro. “Os bancos estão fazendo um colchão para cobrir posições abertas e não emprestam ao setor”, diz o presidente da OCB, Márcio Lopes de Freitas. “Vivemos uma crise de confiança porque não há garantia de preços remuneradores e, por isso, os bancos fogem de financiar o setor”.
As cooperativas também pediram uma linha exclusiva de R$ 1 bilhão para capitalização nos ramos agropecuário e de crédito. Também exigiram uma participação mais decisiva do governo na comercialização da nova safra, com elevação de R$ 3 bilhões em recursos para a Política de Garantia de Preços Mínimos (PGPM). As empresas querem, ainda, a liberação das garantias reais oferecidas em financiamentos anteriores, além de um aumento das aplicações do BNDES no setor rural, limitada a 3,5% do orçamento do banco até 2014.
Nas conversas de ontem, dirigentes de instituições financeiras, entre elas Bradesco, Santander e Banco do Brasil, defenderam sua posição ao afirmar que “o mercado de crédito encolheu” e reclamar que o Banco Central fez “apenas dois leilões” de ACCs com prazos curtos de 180 dias. As tradings, representadas por executivos de ADM, Bunge, Dreyfus e Cargill, informaram ao governo ter emprestado ao setor o mesmo volume de recursos da safra anterior. Os produtores, representados por Ampa, Aprosoja, Aiba e OCB, reclamaram crédito adicional, já que os custos de produção aumentaram de forma violenta na comparação com a safra passada.