Governo admite estagnação no plantio

Por: GAZETA MERCANTIL

Até então tentando manter discurso otimista, o governo teve que admitir ontem que a produção brasileira de grãos vai, na melhor das hipóteses, subir ínfimos 0,5%. Primeiro levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) sobre intenção de plantio da safra 2008/09 indica que a produção de grãos deve praticamente estagnar, senão cair, na comparação com o ciclo passado. A próxima colheita, segundo a companhia, oscilará entre 142,03 milhões e 144,55 milhões de toneladas, frente aos 143,81 milhões de toneladas da safra 2007/2008. Ou seja, o governo estima, na hipótese pessimista, uma retração de 1,5% no campo. E, na otimista, uma expansão de, no máximo, 0,5%. Sobre o impacto das condições climáticas, o titular do Ministério da Agricultura, Reinhold Stephanes, se mostra otimista. “O clima será favorável”, prevê o ministro.


O levantamento foi feito entre 15 e 20 de setembro, depois, portanto, da quebra do Lehman Brothers, marco do agravamento da crise financeira internacional. O estudo leva em conta planejamentos dos produtores feitos no momento no qual o mundo tinha crédito mais abundante e barato e os preços das commodities estavam mais elevados. Do dia 20 de setembro até ontem, os preços do milho caíram 21% e da soja, 15%.


Foi nesse cenário que a Conab apurou que o feijão (primeira safra) será uma das culturas com maior incremento de área cultivada. Esse aumento pode ficar entre 8,6% 11,6%, com uma área entre 9,4 mil hectares e 9,57 mil hectares. “A saca do feijão está cotada em R$ 210 e o custo de produção entre R$ 65 e R$ 75. Ainda que o preço caia com a produção maior, não inviabilizará o cultivo, pois ainda há um preço mínimo de garantia de R$ 80 por saca dado pelo governo. O produtor de feijão está bem seguro para plantar”, pondera Rafael Boerschke, da Safras & Mercado.


Considerando todos os grãos, a área plantada deverá ficar entre 47,85 milhões e 48,59 milhões de hectares, o que representa expansão de 1,2% a 2,7% sobre os 47,31 milhões de hectares da safra anterior. Além de feijão, também expandirão cultivo, segundo a Conab, trigo (32%) e soja (entre 1,2% e 1,9%). Para o diretor de logística e gestão empresarial da Conab, Sílvio Porto, o modesto crescimento da área plantada se deve às restrições ambientais (impossibilidade de expansão de áreas em Mato Grosso, por exemplo) e escassez de mão-de-obra qualificada.


Mas, para a Confederação de Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) o ministério não está realista. “Temos 20% dos produtores ainda sem crédito, o que significa um déficit de R$ 22 bilhões. O que esse agricultor vai fazer? Reduzir área ou usar menos tecnologia? Esse impacto existe e não está incluído nos números da Conab”, pondera José Mário Schereiner, presidente da Comissão Nacional de Cereais, Fibras e Oleaginosas da CNA.


Stephanes garantiu ontem que não faltará crédito ao setor agropecuário brasileiro, mesmo em momento de enxugamento dos repasses por tradings, tradicionais financiadoras do plantio. Citou a antecipação de liberação de R$ 5 bilhões, conforme já havia sido anunciado pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega. “Se precisar mais, o Governo vai ter que colocar”, disse Stephanes. Enquanto o crédito não chega, o receio é de que haja quebra de produtividade por conta de menor uso de tecnologia. Leonardo Sologuren, diretor da consultoria Céleres, afirma que o ainda não é possível falar em quebra, porque o clima influencia muito nesse quesito. A consultoria, no entanto, possui números mais pessimistas para o cultivo de milho, por exemplo. A Céleres prevê redução de área para este grão em 3,3% – a Conab prevê, no máximo, 1,7% de queda. “O cultivo de soja crescerá um pouco, de 21,3 milhões para 21,9 milhões de hectares. Não porque a soja esteja atrativa, mas porque a previsão de rentabilidade para milho e algodão está pior”, explica.


A Conab utilizou, neste primeiro levantamento de safra, uma estimativa conservadora de produtividade, considerando 2,968 toneladas por hectare, contra 3,04 toneladas por hectare registrados na safra passada. Análises setoriais indicam quedas nas ofertas de algodão, amendoim, cevada, milho e triticale. A situação mais crítica, entretanto, envolve o arroz, que terá produção de 12,04 milhões e 12,2 milhões de toneladas na safra 2008/2009, frente 12,05 milhões de toneladas na colheita passada. O problema é que o consumo interno é maior: 13 milhões de toneladas de por ano. Além disso, os estoques do governo estão baixos, atingindo apenas 800 mil toneladas. “Para o arroz, acendeu a luz amarela”, admitiu Sílvio Porto. A última esperança do governo é haver um aumento de produção no Centro-Oeste, entre 400 mil e 500 mil toneladas, o que equilibraria o mercado. A saca de 50 quilos de arroz está sendo negociada a R$ 34,00. Já foi R$ 25,00. Segundo Porto, caso mantido o atual cenário, será necessário importar arroz do Uruguai e da Argentina
 

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