GLOBO RURAL – Propriedades usam novas técnicas para garantir produção de café em MG

Nosso cafezinho tem fama nas xícaras de todo o planeta. Ele é um dos principais produtos da agricultura brasileira. O Brasil é grande produtor e grande exportador.

Por: Fonte: Globo Rural (Por César Dassie)

Para continuar na liderança mundial, o cafeicultor precisa ter um olho na
lavoura e outro no futuro. O Globo Rural esteve em Minas Gerais para visitar
fazendas que estão adotando técnicas que vão fazer a diferença na próxima
década.


O Brasil caminha para ter uma das melhores safras de café da sua história:
quase 49 milhões de sacas, de acordo com o levantamento do IBGE divulgado na
última quinta-feira (7).


Com esse mundão de lavoura, que se espalha por quase 2,3 milhões de hectares,
nós somos os maiores produtores do planeta. Tem muito agricultor preparando a
plantação para o futuro.


José Braz Matiello (800 x 450)Aliás, você tem ideia do que é preciso fazer na
roça para manter a competividade nacional? Para ajudar a responder essa
pergunta, O Globo Rural convidou um dos maiores especialistas de café não só do
Brasil, mas também do mundo. O agrônomo José Braz Matiello estuda essa cultura
há 48 anos e é pai de uma das variedades mais plantadas atualmente, a
catucaí.


Globo Rural: O senhor também já rodou bastante esse tempo todo atrás de
café.
Matiello: Quase cinquenta anos. A gente conhece cafeicultura desde o
Paraná até Rondônia, Acre, hoje em dia, então, muitas, passando aqui por Minas.
Muitas a gente ajudou até a desenvolver.
Globo Rural: por onde a gente começa
para saber o caminho da cafeicultura nos próximos dez anos?
Matiello: É muito
importante a gente começar pela mecanização.


Em áreas planas como no Cerrado Mineiro, cada vez mais a mecanização vem se
tornando indispensável nas grandes propriedades.


Na fazenda Santa Helena, no município de Areado, as máquinas dão conta de
colher 90% da lavoura. “Uma colheita como a desse ano, com oito mil sacas, que
eu teria que ter uns 270 trabalhadores, hoje eu faço com três colhedeiras e
vinte e poucas pessoas. A colheita manual é duas vezes e meia mais cara que a
mecanizada”, diz Célio Landi Pereira, agrônomo, administrador da Fazenda Santa
Helena.


Com dois cilindros de varetas rígidas, a colheitadeira parece pentear o pé de
café. Com a ideia de se colher cada vez mais por hectare, o agrônomo Matiello
aponta outro aspecto vital para a cafeicultura moderna: a renovação.


“Os nossos avós, os nossos pais queriam cafezal por cem anos. Hoje,
tecnicamente, a gente admite aí vinte, no máximo trinta anos, porque vão
surgindo novas variedades. Novas tecnologias. Você tem que trocar para colocar
uma planta mais produtiva no lugar daquela pouco produtiva”, explica.
A
renovação exige a derrubada completa da lavoura, mesmo que ainda produtiva. E
está aí a dificuldade de muitos agricultores em aceitar esse manejo.


Em uma área da fazenda Santa Helena, o trator já arrancou vários pés de um
talhão de 15 hectares e 28 anos de idade, que acabou de ter sua última colheita.
“Aqui já é uma área antiga, a produção vem caindo. A média está em torno de 28
sacas por hectare, e a média geral da fazenda é 38”, comenta Marco Evandro
Manoel, gerente da área cafeeira Fazenda Sta. Helena.


A estratégia com esse manejo é elevar a produtividade para 45, 50 sacas por
hectare, nos próximos anos. Isso é praticamente o dobro da atual média do
Brasil.


“Essa área aqui hoje está com 3.333 plantas. Vamos passar para cinco mil
plantas. Ou seja, nós temos hoje em torno de 15 hectares com 50 mil plantas.
Nesse novo plantio nós vamos conseguir nos mesmos 15 hectares, 75 mil plantas. É
como se a gente tivesse ganhando hoje cinco hectares a mais dentro dos mesmos
quinze hectares que a gente tem”, explica o gerente da fazenda.


De todo café produzido no Brasil, 700 mil hectares estão em áreas
acidentadas, com declividade que varia de 25 a 50%. É o chamado café de
montanha. Se caminhar é difícil, imagine plantar, colher, fazer os tratos
culturais. Quando a imagem vai ao longe, revela um cenário bem bonito, mas o dia
a dia é bastante complicado.


Em terrenos acidentados, o jeito é pensar em reestruturar a lavoura: seja na
produção, seja na melhoria do acesso de máquinas e implementos. É isso que se vê
na Fazenda Sertãozinho, no município de Botelhos. A lâmina que rasga o barranco
trabalha na construção de terraços, para nivelar as ruas da plantação.


“Dependendo um pouco do espaçamento, nós fizemos 180 quilômetros de
terraceamento em linha, como se fosse em linha reta, que dá em torno de 60, 70
hectares. Nós estamos conseguindo trabalhar com tanque pulverizador em áreas que
a gente só fazia manual” Lucas Antônio Gonçalves Franco, agrônomo – Fazenda
Sertãozinho


Dependendo da declividade do terreno, o custo varia de 15 a 40 horas de
esteira por hectare. Até 2018, a fazenda deve adotar os terraços em 80% da sua
área. Fora a facilidade da mecanização, os terraços trazem ainda outros
benefícios.


“Esse degrau diminui a velocidade da água. A água vem correndo pelo morro e a
água passa mais tempo e filtra, até a nascente lá embaixo vai ser beneficiada. O
próprio adubo, que não vai escorrer, vai ser melhor aproveitado, para um melhor
crescimento e a produção do café”, diz José Braz Matiello, agrônomo.


O café é uma planta que naturalmente produz mais num ano e menos no outro. E
uma das últimas tendências no manejo da lavoura busca eliminar a safra menor,
para fazer com que a planta só carregue a cada dois anos.


É a chamada poda de safra zero. Depois da colheita do ano bom, o pessoal faz
cortes drásticos nas laterais e no ponteiro. Com esse tipo de poda, elimina-se a
chamada bienalidade do pé de café.


“A produção alta é cinco vezes maior do que a produção baixa. A gente diz que
um ano ela se veste e no ano seguinte ela veste o cafeicultor. A gente quer
zerar a safra e deixar só a safra alta. O café com carga é uma safra fácil de
colher, seja manual ou mecanizada. Cada saca colhida vai ser muito mais barata”,
explica Matiello.


A produção a cada dois anos não é a soma do que ela produziria num ano bom e
de um ano de safra menor, é um pouquinho menos, uns 10% menos. Só que a economia
é 30, 40, 50% mais”, explica José Braz Matiello, agrônomo.


Em áreas de montanha, os pequenos produtores são os donos da maior parte das
propriedades. Para ser competitivo com pouco recurso, é preciso tecnologia, sem
esquecer a produtividade. Usar o que ele tem de mais importante que é a mão de
obra familiar”, José braz matiello, agrônomo.


O sucesso dos pequenos produtores tem a ver com o trabalho da associação da
qual eles fazem parte. A Assodantas é responsável pela comercialização de todo
café dos seus 75 agricultores. E só vende através do chamado fair trade, uma
certificação internacional de comércio justo que valoriza a produção de pequenas
e médias propriedades.


“Enche a gente de orgulho ter hoje um café reconhecido no mercado”, declara
João Batista Piva, presidente da Assodantas – Associação dos Agricultores
Familiares do Córrego Dantas
Pelo fair trade, a associação negocia com
exportadores que enviam café para os Estados Unidos, a Austrália e a Suíça. Por
lá, os consumidores pagam mais pelo produto, em contrapartida ao respeito ao
meio ambiente e ao estímulo ao desenvolvimento social dos agricultores.


“Esse café que a gente produz tem qualidade de vida. Cada um está ganhando a
sua fatia.
Todo mundo cresce junto. Eu falo que uma associação forte é muito
bom, mas o melhor é produtor forte”, comenta Piva.


Para ganhar o mundo e também conquistar os exigentes consumidores do mercado
interno, o café brasileiro passa por rigorosos processos na pós-colheita.
Trabalhar com essa cultura é assim: não basta produzir bem, é preciso saber
beneficiar.


“Tem muito trabalho daqui para frente. Porque o café é um fruto que você pode
estragar no pós-colheita. Então você tem que preparar com cuidado para manter
aquela bebida adequada”, alerta Matiello.


Nessa etapa, a primeira regra é bem clara: só colha o café que você tiver
condições de colocar para secar no mesmo dia. Café fermentado perde qualidade na
bebida. Por isso, os agricultores mais antenados com o mercado, perseguem o
chamado cereja descascado. Em outras palavras: café maduro e já sem polpa. Grãos
chochos e verdes até são processados, mas nunca misturados aos de melhor
qualidade.


É assim que se trabalha fazenda Santa Helena, no município de Areado, citada
anteriormente na reportagem. “Nós estamos hoje fazendo doze tipos de café. Cada
café que a gente separa tem o seu valor. Quanto mais eu tenho um tipo de café,
eu consigo agregar valor”, diz Paulo Sérgio da Silva, técnico agrícola – fazenda
Santa Helena.


A depender da qualidade, a diferença de preço pode bater na casa dos 120
reais por saca. É na mesa de prova que se atesta se a trabalheira na lavoura e
no beneficiamento produziu um café de qualidade.


“Não existe máquina ainda que substitua o paladar humano. Então, tudo o que
foi feito lá atrás, toda dinâmica, toda logística, tem resultado em cima da
mesa”, diz Rosseline de Paula Rodrigues, classificador e degustador


Diante de tantas possibilidades para cuidar bem do café, cada agricultor deve
avaliar qual a tecnologia mais adequada para o relevo da sua fazenda, para o
propósito da sua produção e, claro, verificar se os investimentos cabem no
bolso. Só assim, o café brasileiro vai continuar fazendo sucesso nas xícaras do
mundo todo.


“Muito suor para chegar nesse cafezinho aqui. Hoje de cada três xícaras de
café que são tomadas no mundo inteiro, uma é de café brasileiro”, afirma
Matiello.


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