Juliana Ribeiro
Enquanto muitos turistas se divertiram com a neve que caiu na madrugada de terça-feira (23) em cerca de 87 municípios do Sul do País, a maioria localizados em Santa Catarina, a onda de frio intensa é um sinal de alertas para alguns produtores rurais. Isso porque a queda acentuada das temperaturas pode trazer as geadas para várias regiões dos estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
Para os agricultores, especialmente aqueles que produzem hortaliças, é hora de ficarem atentos. Isso porque verduras que não são cultivadas em estufas são as mais suscetíveis a danos por conta das geadas. Nelton Rogério de Souza, vice-presidente da Federação de Agricultura e Pecuária do Estado de Santa Catarina (Faesc), explica que frio veio durante a estação certa. “O problema é que neste ano ele veio um pouco mais forte e se espalhou por regiões onde não costumava chegar”.
Algumas das regiões mais afetadas pelas baixas temperaturas são o sul do Estado e a área da Grande Florianópolis, justamente as regiões com maior concentração de produção de hortaliças e bananas. “Hoje a região do Morro do Cambirela, em Palhoça, na Grande Florianópolis, amanheceu com neve, algo totalmente atípico”, diz Souza.
No final de semana, a Epagri/Ciram, ligada à Secretaria Estadual de Agricultura de Santa Catarina alertou para a possibilidade de ocorrer geada negra durante esta semana. Trata-se do congelamento interno da planta, que queima e fica escura. “Mesmo com o forte frio, a expectativa é de que não haja perdas significativas na agricultura em Santa Catarina”, diz o anúncio.
Para Gilberto Cunha, pesquisador de agrometeorologia da Embrapa Trigo (RS), o frio está dentro do esperado e não deve causar muitos danos às lavouras. Isso porque, segundo o especialista, a geada oferece risco principalmente às lavouras em fase de floração e “espigamento”, o que não é o caso da maior parte das plantações do Rio Grande do Sul, composta especialmente por trigo e cevada. Ele explica que se o frio viesse um pouco mais tarde, entre o fim de agosto e início de setembro, “aí sim o risco de perdas significativas seriam maior”.
Mas na região norte do Paraná, onde são cultivados cereais e cafezais, o alerta máximo é para a ocorrência de geadas entre a noite desta terça-feira e a manhã da quarta-feira. Segundo a Somar Meteorologia, já houve formação de geada em várias regiões do Estado, entre elas as dos municípios de Toledo, Maringá e Cascavel, localizados na metade oeste do Paraná. Nas lavouras de café, que no passado sofreram perdas graves com a chamada geada negra – que congela o interior da planta e não sua parte externa – o clima é de apreensão diante da previsão de nova queda de temperatura para esta madrugada
Também no Paraná, as lavouras de trigo vêm enfrentando dificuldades por conta da geada. Em matéria divulgada pela Reuters nesta terça-feira, técnicos do governo paranaense estimam que cerca de 40% das lavouras deste cereal no Estado estão em fases vulneráveis às baixas temperaturas. O Paraná produz quase metade do trigo brasileiro.
Sobre possíveis danos, tanto Cunha quanto Souza afirmam que é cedo para especular. “Os danos causados pela geada só são percebidos e mensurados entre sete e dez dias após sua ocorrência. Depois que o frio passa é que se começa a contabilizar as perdas”, diz Souza.
Controversa geada
Engana-se quem pensa que da geada resultam apenas perdas de produção. Cunha explica que o fenômeno auxilia no controle e eliminação de plantas daninhas remanescentes do verão, na redução do ciclo de insetos e pragas, além da menor predisposição a doenças fúngicas por parte da planta.
João Rodrigues, secretário de Estado da Agricultura e da Pesca de Santa Catarina faz coro com Cunha. “Essas plantas precisam de frio no período de germinação até o florescimento, porque com o frio não há proliferação de doenças”, diz ele, referindo-se especialmente às culturas de trigo, cevada, aveia e azevem (pastagem de inverno), que ainda não estão em fase de florescimento.
Quando se trata dos prejuízos, Cunha afirma que as perdas podem incluir danos nas pastagens e lavouras, “além da diminuição do volume e da qualidade da forragem para a alimentação de animais”. Para que os eventuais prejuízos sejam minimizados, a Faesc realiza constantemente um trabalho de orientação junto aos agricultores.
Entre as medidas estão a orientação para a formação de pequenas áreas com fumaça e fogo para reduzir o congelamento das plantas. E para aquelas propriedades que se utilizam da irrigação, a entidade sugere também a ligação dos sistemas por volta das 4 da manhã. “Assim, a água vai congelar do lado de fora e ajuda a proteger o interior da planta”, explica Souza.